(continuação)
XXVIII
Gostavam de jogar o xadrez um com o outro, numa das mesas do bar dos Balantas. Eram sensivelmente da mesma igualha, batiam-se bem e o xadrez era o jogo ideal. O tempo passava quase sem se darem conta. Era Domingo. Tinham jantado os dois juntos, no restaurante da Emília Sá, deliciando-se com um frango assado no carvão.
A Emília Sá era uma viúva cabo-verdeana, dona do único restaurante e pensão de três quartos existente em Mansoa. Apesar dos seus quase sessenta anos, ainda atraía os olhares concupiscentes dos militares, sobretudo sargentos e oficiais, cuja fome de sexo não era suficientemente forte para uma visita à tabanca ou cuja sorte não era a de fazerem parte do restrito grupo que, sorrateiramente, visitava a mulher do libanês quando este ia a Dakar buscar mercadoria para a sua venda. A Emília Sá tinha quatro filhas e um filho. Uma delas casada com o Mário Lima, enfermeiro do posto de saúde, também cabo-verdeano. Outra, casada também, estava em Lisboa. Para lá emigrara quando fora às sortes do casamento. O filho ajudava a mãe nas tarefas do restaurante. E as duas outras, solteiras. As ditas raínhas nos bailaricos do Clube dos Balantas. Especialmente quando nos altifalantes do Clube tocava uma morna dolente, a permitir o aconchego dos corpos e o roçagar dos joelhos. Ninguém, porém, se podia vangloriar de ter conseguido mais do que isso, tanto relativamente à mãe como às duas filhas casadoiras.
(continua)
Magalhães Pinto
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