A FOLGA
Não entremos em pânico. O pânico não é para já. Está encomendado, mas lá mais para diante. Para já, os nossos pensamentos mais pessimistas estão de folga. Durante o último mês e meio tivemos o futebol, do grande, do graúdo, do mundial, a esconjurar os nossos receios mais profundos, originados por uma crise que, no caso português, não vai passar tão depressa. Mas, agora, temos as férias, engatadas no futebol como miúdo na manga do pai para entrar à borla no estádio do clube favorito dos dois. Até ao final de Agosto, portanto, tudo continuará a correr às mil maravilhas.
Claro que a crise não permitirá, para a maioria, grandes fantasias de lazer. A maior parte haverá de contentar-se com uns banhitos de sol nestas praias do norte, sempre cobertas pelo nevoeiro. Uns tantos ainda poderão dar-se ao luxo moderado de uma ida até àquele Algarve que tornou célebres alguns dos nossos primeiros reis, animados pela fé e motivados pela conquista cristã da Ibéria. E só uma meia dúzia de privilegiados poderá tratar-se como nababos com uma deslocação até às Caraíbas ou até ao Brasil, isto se as agências de viagem em que se abastecem são merecedoras de confiança. Porque, pelo que temos visto, há algumas que não parecem sê-lo.
Pela minha parte, estou a digerir a quase vitória de Portugal no campeonato do mundo de futebol. E não me venham com histórias, dizendo que fomos afastados muito cedo devido ao facto de o nosso treinador ser um medricas. Nada disso. Nós fomos vice campeões, juntamente com a Holanda, a Alemanha e o Paraguai. Com eles, estivemos na fase final do campeonato e, como eles, também só perdemos com a Espanha e pelo mesmo resultado: um a zero. Se a Holanda tem direito a ser considerada vice campeã, então nós também o temos.
Com esta verdade no pensamento cujo único malefício é que, assim, se torna mais difícil mandar o seleccionador embora, abordemos então o período de férias, mandemos às malvas a crise, dizendo a quem vier atrás que feche a porta, e vivamos docemente os prazeres estivais, que esta vida são dois dias e este já vai na conta. Porque a crise é como as doenças. Quando mais a gente fala delas, mais parece que agravam.
Magalhães Pinto, em RADIO CLUBE DE MATOSINHOS, em 13/7/2010
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