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14.6.10

MEMÓRIA

TRISTEZA

Estou triste.

Estou triste por ver muitos dos meus compatriotas faltarem ao trabalho, num momento em que o nosso país precisa de trabalho mais do que nunca.

Estou triste por ver muita gente responsável - entre ela dois altos quadros do Partido Socialista, Manuel Alegre e Narciso Miranda – apoiarem uma greve retrógrada, injusta, destinada a apoiar privilégios inadmissíveis. Triste porque sei que ambos sabem quanto é necessário mudar as leis do trabalho e, apesar disso, por razões partidárias, darem a cara num apoio lamentável.

Estou triste por ver os trabalhadores – entre os quais a maioria é, seguramente, trabalhadora e responsável – irem atrás da demagogia daqueles que apenas têm objectivos partidários nas suas acções.

Estou triste por ver que os mais altos dirigentes do meu país não conseguem convencer os trabalhadores da necessidade de modernizar a nossa estrutura, a nossa organização social.

Estou triste porque vejo cada um pensar apenas nos seus privilégios, sem por um momento pensar no interesse global do que somos enquanto comunidade.

Estou triste porque tenho a certeza de que a maior parte daqueles que não trabalharam não sabem porque o fizeram. Desconhecem a Lei e não são capazes de ver o seu alcance.

Estou triste por não ser entendido que a Lei do Trabalho é uma Lei justa, que premeia os bons trabalhadores e prejudica, naturalmente, os maus. Como acho que deve acontecer.

Estou triste porque não tenho ilusões. As necessidades eleitorais acabarão por se sobrepor ao interesse geral, as reformas necessárias não se farão ou serão imperfeitas e continuaremos a ser esta tristeza de país, sem destino nem ambição.

Estou triste porque sei uma coisa. É que a realidade acaba por se impor sempre a todas as ilusões. E serão aqueles que agora não trabalham que hão-de querer trabalho e não o ter. Inclusivamente os funcionários públicos. Em excesso e mal arrumados, situação que não será possível manter sempre.

Estou triste porque cada situação deste género apenas serve para fazer cair mais fundo um optimismo sem o qual não encontraremos a estrada do futuro.

Estou triste porque o desemprego será maior no próximo ano também por causa desta greve. Não há nenhuma força reivindicativa que mantenha aberta uma empresa se esta não tiver condições de sobrevivência.

Estou triste porque vou ver alguns destes que não trabalharam no dia dez a fazer manifestações à porta de fábricas fechadas, lamentando a perda do seu posto de trabalho. Um posto de trabalho que, quando dele dispunham, não acarinharam.

E, nesta tristeza que me invade, vou ganhando a certeza de que o meu país não tem futuro. Porque há dirigentes que colocam os seus interesses pessoais ou de grupo à frente do interesse global e porque há dirigidos que não ganharam ainda o hábito de pensar pela sua cabeça.

E estando assim apenas fica uma solução: prossigamos tristemente o nosso destino em direcção a parte nenhuma.

Magalhães Pinto, em MATOSINHOS HOJE, em 10/12/2002

4 comentários:

JOSÉ MODESTO disse...

Caro Magalhães Pinto.
Perante este seu texto deixe-me acreditar que não vou chegar ao seu último paragrafo.
Com um filho de 19 anos, espero que ele veja o seu blogue, mas que não passe por este post.
Pode imaginar porquê...

Saudações Marítimas
José Modesto

Anónimo disse...

Já pensou que está contra o mundo?Se calhar será melhor ir para outro país para ir doutrinar os trabalhadores como deve ser. Os 300 mil que se manifestaram não o deviam ter feito?

Ass: Miguel Pinto (Leça da Palmeira)

MAGALHÃES PINTO disse...

Obrigado José Modesto, pela visita e comentário.

Claro que entendo porquê.

MAGALHÃES PINTO disse...

Obrigado, Miguel Pinto, pela visita e comentário.

Seguramente, não reparou que esse artigo foi escrito em 2002, como no post se diz.

Veja, oito anos passados, se eu tinha razão ou não.

E, se tinha então, porque não a terei agora, precisamente com o mesmo artigo já tão velho?

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