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19.1.11

MEMÓRIA

QUE FUTURO?

O turismo foi, durante décadas, uma das principais bengalas do equilíbrio económico de Portugal. Particularmente, devido à exploração dessa autêntica galinha dos ovos de ouro que era o Algarve. Mas o turismo algarvio começa a ser uma tristeza. Não só os estrangeiros vão fugindo para outras paragens, como os próprios portugueses descobriram já que é mais barato - e, sejamos francos, melhor - procurar outros destinos. Pode ser que esta situação volte a inverter-se. E que o Algarve - que conta com uma capacidade de alojamento verdadeiramente gigantesca para a nossa escala - volte a receber multidões. Mas não é muito provável. O turismo não é muito diferente de outras actividades económicas. É muito difícil ganhar um cliente. Mas é muito fácil perdê-lo. E, perdido que seja o cliente nunca mais volta, geralmente. Matamos a galinha dos ovos de ouro com a sua exploração desenfreada. E, agora, resta-nos comer a canja enquanto ela durar. Que é uma sopa para doentes. Depois, não haverá mais nada.

Este facto deixa profundas e sombrias preocupações. Se olharmos à nossa volta, vemos que nos últimos vinte e cinco anos, desapareceram, ou estão em vias de desaparecer, actividades nas quais tínhamos vantagens comparativas acentuadas. Os recursos da pesca estão pela hora da morte, como aqui disse há uma semana. O petróleo verde, isto é, as florestas, de que muito se falou como um recurso notável de Portugal, aí há uns vinte anos atrás, está a desaparecer paulatinamente, tendo levado, este ano, um golpe de morte. A indústria têxtil, a mais forte que tivemos, deixou de ser competitiva. A indústria do calçado, idem aspas na mesma data. Agora o turismo. Começa a declinar. E a interrogação surge naturalmente: que vão os nossos filhos fazer? É que não podemos ser todos comerciantes. É que não podemos todos abrir restaurantes. É que não podemos todos ser funcionários públicos. Mentiria se dissesse que não estou profunda e sombriamente preocupado com o futuro do meu País.

Estes males já se vem acentuando desde há uma boa década. Mas as suas consequências foram disfarçadas com o dinheiro que jorrou, copiosa e ininterruptamente, da torneira da Europa. E que ainda jorra. Mas essa é um torneira da qual, a partir de 2006, apenas correrão alguns pingos. E, quando chegarmos aí, de nada valerá irmos para a rua fazer manifestações. As nossas oportunidades terão ficado todas para trás. Mortas na péssima utilização que foi feita dos dinheiros que recebemos.

A nossa geração terá uma grande responsabilidade. Porque tendo disfrutado de oportunidades maravilhosas, escancaradas pela conquista da liberdade e pela adesão à Europa, não soube - ou não quis saber - transformá-las em radioso futuro. Temos agora três anos à nossa frente. Três anos em que o trabalho esforçado, de olhos colocados no futuro, pode ainda inverter a tendência. Se não fizermos nada nesses três anos, não nos queixemos depois. Só nós, todos, teremos tido a culpa.

Magalhães Pinto, em MATOSINHOS HOJE, em 25/8/2003

1 comentário:

GP disse...

"A nossa geração … não soube - ou não quis saber - transformá-las em radioso futuro". Nem todos, amigo, nem todos...
Muitos políticos e seus amigos conseguiram comquistar um radioso futuro. Basta vê-los hoje...