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19.4.10

MEMÓRIA

A TEMPESTADE

Anda por aí uma tempestade enorme porque, ao que parece, um comentador político decidiu demitir-se da sua função, ao ser confrontado com pressões no sentido de não dizer aquilo que pensava. A culpa dessa espécie de censura tem sido assacada ao Governo. E a verdade é que a sua demissão foi antecedida por uma violenta diatribe, vinda de um ministro da maioria que nos governa. Não pode, por isso, o Governo escusar-se às responsabilidades que lhe cabem neste assunto. No entanto, devemos distinguir entre a realidade dos factos e o barulho feito pelas oposições, tão sedentas de poder que nem sequer querem esperar pelo fim da legislatura para verem qual o veredicto dos Portugueses.

Em primeiro lugar, afirmem-se claramente duas coisas. Em primeiro lugar, os comentadores políticos - como qualquer outro cidadão - têm direito a exprimir a sua opinião sem reservas. E não podem ser perseguidos por isso. O comentador político diz o que pensa e deixa aos seus ouvintes ou leitores, bem como às entidades visadas pelos seus comentários, o direito de estarem de acordo ou não.

Em segundo lugar, as entidades visadas nos comentários têm todo o direito de se defenderem. A "lei da rolha" não se aplica a ninguém. Nem a quem exprime as suas opiniões nem a quem por elas é visado. O Governo - ou qualquer outra entidade - não tem a obrigação de ficar calado quando alguém censura os seus actos.

Pois bem. O que se passou foi que Marcelo Rebelo de Sousa exprimiu as suas opiniões, com inteira liberdade. E, na resposta, o Governo entendeu que deveria contra-atacar o cronista. Só que, enquanto Marcelo o fez com inteira serenidade e de um modo concreto (ademais num tema no qual, na minha opinião, tinha inteira razão), o porta-voz do Governo foi incorrecto, violento e, em lugar de se defender de modo concreto, fê-lo em termos muito genéricos, a configurar uma atitude de censura absolutamente inadmissível. Isto é, Marcelo - como era seu direito - disse o que pensava, no modo e no tempo correctos. O Governo ripostou - como era seu direito - no modo e no tempo incorrectos. Por isso, e só por isso, perdeu o Governo toda a razão.

Daí a tempestade. Uma tempestade que aparecerá em mais sítios, mais tarde ou mais cedo. O Poder não suporta que falem mal dele. Em nenhum tempo e em nenhum lugar. Se precisássemos de uma amostra, Matosinhos serviria de exemplo às mil maravilhas. Basta olhar ao modo como um órgão de comunicação, dos mais importantes do município, é marginalizado até no acesso à informação devida pela autarquia. Tudo só porque é, visivelmente, não afecto a quem detem o Poder. Mas, um dia, a casa virá abaixo. Inexoravelmente. Para isso tentamos quase todos viver em democracia.

Magalhães Pinto, em MATOSINHOS HOJE, em 10/10/2004

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá Sr. Dr. Magalhães Pinto.
Gostei da forma como põe o problema, e apesar de não pertencer à vossa cor partidária, gostei, e para ver como é que se consegue dominar a comunicação, o maior exemplo, veio no sábado aqui no portal da sapo, pois de tarde ainda tinha a gravação da SIC com a maior parvoice do nosso 1º "manso é a tua tia pá", e à noite continuava no portal mas a gravação já estava indisponível.
Começo a ter algum receio da nossa democracia, e estamos nós prestes a comemorar mais um 25 de Abril, mas eu sei que este não foi feito com estas intenções. Vamos estar atentos.
Um abraço,
Um Matosinhense atento

Anónimo disse...

Boa tarde Sr. Dr. Magalhães Pinto:
Muito bem quando lembra o caso "Marcelo" no tempo da "TVI". Soube-se depois durante o depoimento de Pais do Amaral na Comissão de Éctica, que afinal havia na altura o propósito de derrubar o Governo de Santana Lopes. Nessa altura a história não terá sido bem contada. Mas desta vez o Prof. Marcelo saiu da RTP1 só porque não havia contraditório, e não houve quaisquer comentários. A comunicação social da altura emigrou?