. . . OS SINAIS DO NOSSO TEMPO, NUM REGISTO DESPRETENSIOSO, BEM HUMORADO POR VEZES E SEMPRE CRÍTICO. . .
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30.6.10
UMA SELECÇÃO PARA RECORDAR
Poltrão...
Campeão do mundo...
Mistério...
112...
Indomável...
Estrela...
Brasileiro...
Renascido...
Náufrago salvo...
Terceira idade...
Por bem fazer, mal haver...
Quem é?...
FRASE DO DIA
PENSAMENTO DO DIA
EFEMÉRIDE DO DIA
Neste dia, em 1871, nasceu o empresário português Alfredo da Silva.
Foi um dos maiores empreendores numa época em que contrastava com o ritmo de Portugal. Foi inclusivamente o fundador de um império abrangendo empresas emblemáticas, como a Companhia União Fabril -(CUF), a Tabaqueira, o Estaleiro da Rocha do Conde de Óbidos (depois Lisnave), a Carris o Banco Totta e Companhia de Seguros Império.
Com apenas 19 anos, Alfredo tornou-se gestor da herança da família. Três anos mais tarde, já era administrador da Companhia Aliança Fabril (CAF) e do Banco Lusitano. Aos 26 anos, concebeu um projecto audacioso: a fusão da sua empresa, a CAF, com a CUF. Era uma questão de sobrevivência: ambas as companhias viviam com severas dificuldades. A 22 de Abril de 1898 foi formalizada a constituição da nova CUF, que doravante produzia sabões, velas e óleos vegetais e viria a tornar-se um gigante da indústria, ao iniciar em Portugal a produção de adubos em grande escala. Em 1907 a Companhia União Fabril estava em plena expansão e era necessário encontrar um local para instalar novas unidades fabris. Alfredo da Silva escolheu o Barreiro. A pequena vila à beira do Tejo nunca mais viria a ser a mesma. De resto a empresa veio a espalhar várias fábricas pelos país, empregando 16 mil empregados ao todo. O lema da CUF era "O que o País não tem, a CUF cria".
Foi um dos maiores empreendores numa época em que contrastava com o ritmo de Portugal. Foi inclusivamente o fundador de um império abrangendo empresas emblemáticas, como a Companhia União Fabril -(CUF), a Tabaqueira, o Estaleiro da Rocha do Conde de Óbidos (depois Lisnave), a Carris o Banco Totta e Companhia de Seguros Império.
Com apenas 19 anos, Alfredo tornou-se gestor da herança da família. Três anos mais tarde, já era administrador da Companhia Aliança Fabril (CAF) e do Banco Lusitano. Aos 26 anos, concebeu um projecto audacioso: a fusão da sua empresa, a CAF, com a CUF. Era uma questão de sobrevivência: ambas as companhias viviam com severas dificuldades. A 22 de Abril de 1898 foi formalizada a constituição da nova CUF, que doravante produzia sabões, velas e óleos vegetais e viria a tornar-se um gigante da indústria, ao iniciar em Portugal a produção de adubos em grande escala. Em 1907 a Companhia União Fabril estava em plena expansão e era necessário encontrar um local para instalar novas unidades fabris. Alfredo da Silva escolheu o Barreiro. A pequena vila à beira do Tejo nunca mais viria a ser a mesma. De resto a empresa veio a espalhar várias fábricas pelos país, empregando 16 mil empregados ao todo. O lema da CUF era "O que o País não tem, a CUF cria".
29.6.10
FRASE DO DIA
CRÓNICA DA SEMANA (I)
SENILIDADE OU HIPOCRISIA
O doutor Mário Soares foi objecto de uma homenagem, um destes dias, promovida por alguns socialistas e homens que costumam estar com todos, como é o doutor Miguel Veiga, dito sócio do Partido Social-Democrata. Nessa homenagem, aproveitada também para promover a candidatura de Manuel Alegre à Presidência da República, o velho político aproveitou para morder o actual Presidente, Professor Cavaco Silva, a propósito dos alertas que este último tinha feito sobre a difícil e insustentável situação do país, com o desemprego a roçar já os 12% - número nunca antes atingido – e a economia nacional a ter muitas dificuldades para se financiar, isto para já não falar no desequilíbrio das contas do Estado que anda a determinar o corte de todos os apoios a quem mais deles tem necessidade. E, a propósito da observação de Cavaco Silva, disse o antigo presidente Mário Soares, com ar de catedrático que disto tudo entende:
“Um Presidente tem de dar sugestões úteis e construtivas.”
Li as suas declarações e siderei. Porque o velho senhor, quando as posições estava invertidas, com ele a Presidente e Cavaco a Primeiro-Ministro, não hesitou um momento só a, por razões puramente partidárias, vir para a praça pública, nas famosas presidências abertas, dizer raios e coriscos da governação de Cavaco Silva. Com essa atitude, Mário Soares interrompeu aquele que foi o melhor período da economia nacional e de maior progresso de bem-estar verificado desde o “25 de Abril”. E, ao fazê-lo, entregou de mão beijada a António Guterres a enxada com que este abriu buracos enormes que ainda hoje nos sufocam. E fez deste último o primeiro de uma série de coveiros de Portugal, de que José Sócrates é o expoente máximo.
Concluí, das minhas leituras, que, das duas uma: ou Mário Soares está a ficar senil e já não se recorda do que se passou há quinze anos ou, então, é senhor de uma hipocrisia política que roça as raias da loucura. Como quer que seja, Mário Soares vai sujando, aos poucos, algo de bom que a sua imagem transmitia, essencialmente porque víamos nele um corajoso combatente pela liberdade.
Magalhães Pinto, em RÁDIO CLUBE DE MATOSINHOS, em 29/6/2010
O doutor Mário Soares foi objecto de uma homenagem, um destes dias, promovida por alguns socialistas e homens que costumam estar com todos, como é o doutor Miguel Veiga, dito sócio do Partido Social-Democrata. Nessa homenagem, aproveitada também para promover a candidatura de Manuel Alegre à Presidência da República, o velho político aproveitou para morder o actual Presidente, Professor Cavaco Silva, a propósito dos alertas que este último tinha feito sobre a difícil e insustentável situação do país, com o desemprego a roçar já os 12% - número nunca antes atingido – e a economia nacional a ter muitas dificuldades para se financiar, isto para já não falar no desequilíbrio das contas do Estado que anda a determinar o corte de todos os apoios a quem mais deles tem necessidade. E, a propósito da observação de Cavaco Silva, disse o antigo presidente Mário Soares, com ar de catedrático que disto tudo entende:
“Um Presidente tem de dar sugestões úteis e construtivas.”
Li as suas declarações e siderei. Porque o velho senhor, quando as posições estava invertidas, com ele a Presidente e Cavaco a Primeiro-Ministro, não hesitou um momento só a, por razões puramente partidárias, vir para a praça pública, nas famosas presidências abertas, dizer raios e coriscos da governação de Cavaco Silva. Com essa atitude, Mário Soares interrompeu aquele que foi o melhor período da economia nacional e de maior progresso de bem-estar verificado desde o “25 de Abril”. E, ao fazê-lo, entregou de mão beijada a António Guterres a enxada com que este abriu buracos enormes que ainda hoje nos sufocam. E fez deste último o primeiro de uma série de coveiros de Portugal, de que José Sócrates é o expoente máximo.
Concluí, das minhas leituras, que, das duas uma: ou Mário Soares está a ficar senil e já não se recorda do que se passou há quinze anos ou, então, é senhor de uma hipocrisia política que roça as raias da loucura. Como quer que seja, Mário Soares vai sujando, aos poucos, algo de bom que a sua imagem transmitia, essencialmente porque víamos nele um corajoso combatente pela liberdade.
Magalhães Pinto, em RÁDIO CLUBE DE MATOSINHOS, em 29/6/2010
EFEMÉRIDE DO DIA
Neste dia, em 1958, nasceu a atleta portuguesa Rosa Mota.
Palmaré:
Maratona
Campeã olímpica em Seul em 1988
Medalha de bronze em Los Angeles em 1984
Campeã do Mundo em Roma em 1987
Quarta classificada no Campeonato do Mundo em Helsínquia em 1983
Campeã da Europa em Atenas em 1982 (2H.36m.04s.), em Estugarda em 1986 e em Split em 1990
Vencedora das maratonas de Roterdão (1983), Chicago (1983) e (1984), Tóquio (1986), Boston (1987), (1988), (1990), Osaca, (1990) e Londres (1991).
Outros
Vice campeã mundial de estrada (15 Km) em 1984 e 1986
Ex-detentora do melhor tempo mundial de 20.000 metros em pista em 1983
Ex-recordista de Portugal dos 1000, 1500, 3000 e 5000 metros.
Oito títulos de campeã de Portugal em corta-mato/cross-country
Vencedora da São Silvestre de São Paulo seis vezes consecutivas (1981 a 1986).
Palmaré:
Maratona
Campeã olímpica em Seul em 1988
Medalha de bronze em Los Angeles em 1984
Campeã do Mundo em Roma em 1987
Quarta classificada no Campeonato do Mundo em Helsínquia em 1983
Campeã da Europa em Atenas em 1982 (2H.36m.04s.), em Estugarda em 1986 e em Split em 1990
Vencedora das maratonas de Roterdão (1983), Chicago (1983) e (1984), Tóquio (1986), Boston (1987), (1988), (1990), Osaca, (1990) e Londres (1991).
Outros
Vice campeã mundial de estrada (15 Km) em 1984 e 1986
Ex-detentora do melhor tempo mundial de 20.000 metros em pista em 1983
Ex-recordista de Portugal dos 1000, 1500, 3000 e 5000 metros.
Oito títulos de campeã de Portugal em corta-mato/cross-country
Vencedora da São Silvestre de São Paulo seis vezes consecutivas (1981 a 1986).
28.6.10
FRASE DO DIA
PENSAMENTO DO DIA
MEMÓRIA
SEM SURPRESA
Os Leitores que não esqueceram o meu artigo de Outubro passado, intitulado " A SAÚDE DA SAÚDE", não ficaram, certamente, surpreendidos pelas declarações do Senhor Ministro da Saúde, segundo as quais o Governo está já a pensar fazer os cidadãos pagar mais para terem os cuidados de saúde que têm. Segundo ele, se a actual situação de crescimento exponencial nas despesas da saúde se mantiver, vamos ter a população dividida em três grupos. Um será subsidiado a cinquenta por cento. Outro, a setenta e cinco por cento. E outro a cem por cento.
Com efeito, naquele artigo eu dizia, a um certo momento, depois de tentar caracterizar o estado do nosso Serviço de Saúde:
" Uma vista de olhos pelas razões identificadas, traz à consciência a apreciação de que nada mais justo do que propiciar à população, nesta área da Saúde, os cuidados que ela merece. Mas, ao juízo esclarecido, logo surge a questão de saber se produzimos - ou pagamos, o que é o mesmo - ao nível exigido por esta qualidade. A qual nem sequer se aproxima ainda dos padrões já atingidos nos países mais desenvolvidos".
Para terminar o artigo colocando estas questões fundamentais:
"1.- Pode a Saúde ser cuidada tendo por pano de fundo o lucro que a iniciativa privada exige?
2.- Podemos continuar a esperar a melhoria dos cuidados com a Saúde com o nível de produtividade que, enquanto sociedade, temos?
3.- Podemos continuar a esperar ter os cuidados actuais de Saúde com o nível de impostos que pagamos?".
O Senhor Ministro acaba de dar a resposta. Tal como eu concluía naquele artigo, o Senhor Ministro começou já a preparar a população para o que nos surgirá aí para diante. Ou pagamos ou os cuidados de Saúde vão seguramente reduzir-se.
Todavia, colocada assim a questão, há uma falácia por resolver. E temos que estar preparados para pedir satisfações sobre ela aos nossos governantes, tanto actuais, como passados ou futuros. Vamos ver.
1.- A Segurança Social de que dispomos está periclitante, surgindo de vários lados a previsão de que, daqui por alguns anos, será incapaz de satisfazer os seus compromissos;
2.- A Polícia é pouca para garantir, de um modo satisfatório, a nossa segurança de pessoas e bens;
3.- Não estamos em guerra e as Forças Armadas são uma amostra daquilo que já foram um dia;
4.- A Justiça é lenta e imperfeita. Os Tribunais não funcionam com a celeridade que a segurança dos cidadãos exige.
5.- Se temos necessidade de recorrer aos serviços administrativos do Estado somos mal atendidos, devagar, muitas vezes imperfeitamente também.
6.- Pagamos, para além dos impostos, taxas a propósito de tudo e de nada. De radiodifusão, de radiotelevisão, de têvê por cabo, de saneamento, de recolha de lixos, de infraestruturas de abastecimento de água. Fala-se que vamos pagar uma taxa nas chamadas de telemóveis para pagar a instalação das antenas.
7.- Passamos uma ponte nova, pagamos. Andamos numa auto-estrada, pagamos.
E podíamos continuar por aí além, não fora o risco de enchermos o jornal só com este rol. Se, depois disto, ainda nos dizem o que aí vem para a Saúde - uma das poucas coisas quase gratuitas que o Estado nos dá (embora muitas vezes tarde e a más horas) - há perfeita legitimidade para retirarmos o véu falacioso que cobre tudo isto e perguntar: MAS, AFINAL, PARA QUE É QUE PAGAMOS IMPOSTOS? QUE É QUE NOS É DADO A TROCO DOS NOSSOS IMPOSTOS?
Temo muito responder a isto. Uma vez, quando me pediram que caracterizasse o Exército em tempos de paz, eu respondi mais ou menos assim: é uma instituição na qual existe um capitão para mandar que um sargento diga a um cabo para este mandar um soldado processar o vencimento dos quatro, ou melhor, o vencimento dos dois primeiros e o pré dos dois últimos. Temo chegar à conclusão de ter que explicar aos meus Leitores que o Estado Português é uma instituição na qual há uns senhores - os políticos - que criam umas leis que ordenam a outros senhores - os funcionários - que nos cobrem determinados impostos e taxas que cheguem para pagar o salário - e outras mordomias - a todos.
Esta a dicotomia à qual devemos estar atentos. Sobretudo num momento em que as contrapartidas oferecidas pelo Estado por impostos indubitavelmente crescentes são cada vez menores. Há uma necessidade enorme de reduzir os quadros que são pagos pelos nossos impostos tal como existem agora. Se todos os serviços anotados acima não funcionam ou funcionam mal é porque os recursos que lhe são afectos são demasiado escassos. E, todavia, são esses os serviços que nos interessam. Há que reduzir políticos e funcionários. Começando pelos primeiros, naturalmente. Se atentarmos bem nas funções das juntas de freguesia, se pensarmos que há mais de quatro mil em todo o país, se verificarmos que grande parte delas não são necessárias e se atentarmos na frente de luta imediatamente aberta pelo funcionários políticos das juntas de freguesia quando se pensou em encerrar apenas meia dúzia delas, talvez tenhamos uma perspectiva correcta do que nos está a suceder. Com os nossos impostos, estamos a pagar a milhares de pessoas que não dão - se calhar porque não têm modo de dar - nada ou quase nada em troca.
Assim, não devemos estar atentos apenas aos impostos que pagamos. Também ao que recebemos em contrapartida.
Uma outra falácia muito em voga é a de afirmar que a nossa carga fiscal é muito inferior à da generalidade dos outros países da Comunidade. Muito bem. A comparação seria tremendamente ajustada se, e apenas se:
Primeiro: Tivéssemos um rendimento per capita semelhante ao desses países;
Segundo: Recebessemos do Estado as mesmas contrapartidas.
O que visivelmente não é o caso. Tendo em conta o nosso rendimento per capita, a nossa carga fiscal é uma das mais violentas da Europa Comunitária. E se, por acréscimo, compararmos também as contrapartidas, aquela violência torna-se verdadeiramente assassina. É óbvio que, se tivéssemos um sistema de segurança social e de saúde idêntico ao que tem - só para buscar um país que conheço bem - a Dinamarca, claro que podiam levar-me mais impostos que eu não me importaria. E o curioso é que, além das contrapartidas dadas pelo Estado serem muito mais vastas ali, a verdade é que ninguém diz que o sistema está em falência ou em vésperas de ruptura.
A estratégia dos pequenos passos, transformando, para pior, tudo aquilo que é à nossa custa, mas deixando intocáveis os privilégios de quem decide e manda, não pode produzir efeitos eternamente. Vai chegar um momento em que os cidadãos acordarão e saberão, mais por intuição do que por racional exercício, que há outro modo de fazer as coisas. E que há que partir privilégios, sim, mas todos. Que belo exemplo seria para o país se, de um momento para o outro, quem manda decidisse:
- reduzir o número de deputados à Assembleia da República;
- reduzir os executivos camarários e os deputados às assembleias municipais;
- terminar com a existência das juntas de freguesia.
Eram três medidas só. Porventura não seria por isso que as regras de financiamento do Serviço Nacional de Saúde poderiam ser mantidas. Mas seria um exemplo que germinaria na nossa disposição de cada vez pagar mais por cada vez menos.
Magalhães Pinto, em VIDA ECONÓMICA, em 22/2/2006
Os Leitores que não esqueceram o meu artigo de Outubro passado, intitulado " A SAÚDE DA SAÚDE", não ficaram, certamente, surpreendidos pelas declarações do Senhor Ministro da Saúde, segundo as quais o Governo está já a pensar fazer os cidadãos pagar mais para terem os cuidados de saúde que têm. Segundo ele, se a actual situação de crescimento exponencial nas despesas da saúde se mantiver, vamos ter a população dividida em três grupos. Um será subsidiado a cinquenta por cento. Outro, a setenta e cinco por cento. E outro a cem por cento.
Com efeito, naquele artigo eu dizia, a um certo momento, depois de tentar caracterizar o estado do nosso Serviço de Saúde:
" Uma vista de olhos pelas razões identificadas, traz à consciência a apreciação de que nada mais justo do que propiciar à população, nesta área da Saúde, os cuidados que ela merece. Mas, ao juízo esclarecido, logo surge a questão de saber se produzimos - ou pagamos, o que é o mesmo - ao nível exigido por esta qualidade. A qual nem sequer se aproxima ainda dos padrões já atingidos nos países mais desenvolvidos".
Para terminar o artigo colocando estas questões fundamentais:
"1.- Pode a Saúde ser cuidada tendo por pano de fundo o lucro que a iniciativa privada exige?
2.- Podemos continuar a esperar a melhoria dos cuidados com a Saúde com o nível de produtividade que, enquanto sociedade, temos?
3.- Podemos continuar a esperar ter os cuidados actuais de Saúde com o nível de impostos que pagamos?".
O Senhor Ministro acaba de dar a resposta. Tal como eu concluía naquele artigo, o Senhor Ministro começou já a preparar a população para o que nos surgirá aí para diante. Ou pagamos ou os cuidados de Saúde vão seguramente reduzir-se.
Todavia, colocada assim a questão, há uma falácia por resolver. E temos que estar preparados para pedir satisfações sobre ela aos nossos governantes, tanto actuais, como passados ou futuros. Vamos ver.
1.- A Segurança Social de que dispomos está periclitante, surgindo de vários lados a previsão de que, daqui por alguns anos, será incapaz de satisfazer os seus compromissos;
2.- A Polícia é pouca para garantir, de um modo satisfatório, a nossa segurança de pessoas e bens;
3.- Não estamos em guerra e as Forças Armadas são uma amostra daquilo que já foram um dia;
4.- A Justiça é lenta e imperfeita. Os Tribunais não funcionam com a celeridade que a segurança dos cidadãos exige.
5.- Se temos necessidade de recorrer aos serviços administrativos do Estado somos mal atendidos, devagar, muitas vezes imperfeitamente também.
6.- Pagamos, para além dos impostos, taxas a propósito de tudo e de nada. De radiodifusão, de radiotelevisão, de têvê por cabo, de saneamento, de recolha de lixos, de infraestruturas de abastecimento de água. Fala-se que vamos pagar uma taxa nas chamadas de telemóveis para pagar a instalação das antenas.
7.- Passamos uma ponte nova, pagamos. Andamos numa auto-estrada, pagamos.
E podíamos continuar por aí além, não fora o risco de enchermos o jornal só com este rol. Se, depois disto, ainda nos dizem o que aí vem para a Saúde - uma das poucas coisas quase gratuitas que o Estado nos dá (embora muitas vezes tarde e a más horas) - há perfeita legitimidade para retirarmos o véu falacioso que cobre tudo isto e perguntar: MAS, AFINAL, PARA QUE É QUE PAGAMOS IMPOSTOS? QUE É QUE NOS É DADO A TROCO DOS NOSSOS IMPOSTOS?
Temo muito responder a isto. Uma vez, quando me pediram que caracterizasse o Exército em tempos de paz, eu respondi mais ou menos assim: é uma instituição na qual existe um capitão para mandar que um sargento diga a um cabo para este mandar um soldado processar o vencimento dos quatro, ou melhor, o vencimento dos dois primeiros e o pré dos dois últimos. Temo chegar à conclusão de ter que explicar aos meus Leitores que o Estado Português é uma instituição na qual há uns senhores - os políticos - que criam umas leis que ordenam a outros senhores - os funcionários - que nos cobrem determinados impostos e taxas que cheguem para pagar o salário - e outras mordomias - a todos.
Esta a dicotomia à qual devemos estar atentos. Sobretudo num momento em que as contrapartidas oferecidas pelo Estado por impostos indubitavelmente crescentes são cada vez menores. Há uma necessidade enorme de reduzir os quadros que são pagos pelos nossos impostos tal como existem agora. Se todos os serviços anotados acima não funcionam ou funcionam mal é porque os recursos que lhe são afectos são demasiado escassos. E, todavia, são esses os serviços que nos interessam. Há que reduzir políticos e funcionários. Começando pelos primeiros, naturalmente. Se atentarmos bem nas funções das juntas de freguesia, se pensarmos que há mais de quatro mil em todo o país, se verificarmos que grande parte delas não são necessárias e se atentarmos na frente de luta imediatamente aberta pelo funcionários políticos das juntas de freguesia quando se pensou em encerrar apenas meia dúzia delas, talvez tenhamos uma perspectiva correcta do que nos está a suceder. Com os nossos impostos, estamos a pagar a milhares de pessoas que não dão - se calhar porque não têm modo de dar - nada ou quase nada em troca.
Assim, não devemos estar atentos apenas aos impostos que pagamos. Também ao que recebemos em contrapartida.
Uma outra falácia muito em voga é a de afirmar que a nossa carga fiscal é muito inferior à da generalidade dos outros países da Comunidade. Muito bem. A comparação seria tremendamente ajustada se, e apenas se:
Primeiro: Tivéssemos um rendimento per capita semelhante ao desses países;
Segundo: Recebessemos do Estado as mesmas contrapartidas.
O que visivelmente não é o caso. Tendo em conta o nosso rendimento per capita, a nossa carga fiscal é uma das mais violentas da Europa Comunitária. E se, por acréscimo, compararmos também as contrapartidas, aquela violência torna-se verdadeiramente assassina. É óbvio que, se tivéssemos um sistema de segurança social e de saúde idêntico ao que tem - só para buscar um país que conheço bem - a Dinamarca, claro que podiam levar-me mais impostos que eu não me importaria. E o curioso é que, além das contrapartidas dadas pelo Estado serem muito mais vastas ali, a verdade é que ninguém diz que o sistema está em falência ou em vésperas de ruptura.
A estratégia dos pequenos passos, transformando, para pior, tudo aquilo que é à nossa custa, mas deixando intocáveis os privilégios de quem decide e manda, não pode produzir efeitos eternamente. Vai chegar um momento em que os cidadãos acordarão e saberão, mais por intuição do que por racional exercício, que há outro modo de fazer as coisas. E que há que partir privilégios, sim, mas todos. Que belo exemplo seria para o país se, de um momento para o outro, quem manda decidisse:
- reduzir o número de deputados à Assembleia da República;
- reduzir os executivos camarários e os deputados às assembleias municipais;
- terminar com a existência das juntas de freguesia.
Eram três medidas só. Porventura não seria por isso que as regras de financiamento do Serviço Nacional de Saúde poderiam ser mantidas. Mas seria um exemplo que germinaria na nossa disposição de cada vez pagar mais por cada vez menos.
Magalhães Pinto, em VIDA ECONÓMICA, em 22/2/2006
EFEMÉRIDE DO DIA
Neste dia, em 1577, nasceu o pintor flamengo Peter Paul RUBENS.
Rubens possuía uma clientela literalmente poderosa, e que pagava em dia. Um dos mais belos trabalhos que realizou, então no auge de sua carreira, foi a série de quadros contando, alegoricamente, a vida da regente da França, a Rainha Maria de Médici. Seguindo os parentescos das casas reais europeias, Rubens acabou pintando para os principais reis, príncipes e duques de sua época.Para Carlos I da Inglaterra, por exemplo, genro de Maria de Médici, pintou a "Alegoria de Paz e Guerra" entre outras obras. Para Filipe IV de Espanha (filho do antecessor), pinta quadros que retratam caçadas, para o palácio de veraneio real. Na Espanha, também, toma contato com Velázquez, provavelmente influenciando-o.
Foi a serviço da Espanha (da qual tinha cidadania, já que Flandres permanecia sob controle espanhol) que Rubens desempenhou as principais missões diplomáticas, principalmente negociando as pazes entre Espanha e França (católicos) e Inglaterra (protestante, com rei anglicano), durante as lutas da Guerra dos 30 Anos, que ele morreu sem ver terminada. E isso sendo Rubens um flamengo católico.
Eis uma dos seus quadros:
27.6.10
FRASE DO DIA
"Um presidente tem de dar sugestões úteis e construtivas."
Mário Soares - PÚBLICO - 27/6/2010
***
Precisamente! Como ele fez, quando presidente, com as suas presidências abertas, nas quais tentou (e conseguiu) interromper o melhor período de desenvolvimento do país, com Aníbal Cavaco Silva como Primeiro-Ministro, abrindo com isso as portas para termos esse verdadeiro iniciador do descalabro nacional que foi António Guterres.
O antigo presidente socialista pode estar a perder algumas qualidades com a inexorável marcha de senilidade. Mas uma não perdeu: a sua tremenda hipocrisia!
Mário Soares - PÚBLICO - 27/6/2010
***
Precisamente! Como ele fez, quando presidente, com as suas presidências abertas, nas quais tentou (e conseguiu) interromper o melhor período de desenvolvimento do país, com Aníbal Cavaco Silva como Primeiro-Ministro, abrindo com isso as portas para termos esse verdadeiro iniciador do descalabro nacional que foi António Guterres.
O antigo presidente socialista pode estar a perder algumas qualidades com a inexorável marcha de senilidade. Mas uma não perdeu: a sua tremenda hipocrisia!
PENSAMENTO DO DIA
EFEMÉRIDE DO DIA
Neste dia, em 1885, nasceu a violoncelista portuguesa Guilhermina Suggia.
Guilhermina revolucionou o instrumento em técnica, posição e sonoridade. Abriu as portas profissionais do violoncelo às mulheres, até então quase fechadas. De facto, o considerável gasto de energia exigido para manejar a envergadura do violoncelo, acrescido do facto de as boas maneiras da época obrigarem a colocar o instrumento de um ou outro lado do corpo obrigando a uma significativa contorção do dorso, tornavam o instrumento ainda mais inacessível às executantes femininas.( Note-se que ainda em 1930 o violoncelo era tido como um instrumento indecoroso para as mulheres, sendo então proibida a contratação de violoncelistas mulheres pela própria orquestra da BBC).
Para Suggia, o violoncelo é o mais extraordinário de todos os instrumentos, considerando-o ela o único que tem a possibilidade de suster um baixo por um longo período e a possibilidade de cantar uma melodia praticamente em qualquer registo. Porém, para que se revele a substância musical do violoncelo, é preciso que a técnica não seja estudada apenas como destreza, mas que tenda sempre para a música.
Guilhermina revolucionou o instrumento em técnica, posição e sonoridade. Abriu as portas profissionais do violoncelo às mulheres, até então quase fechadas. De facto, o considerável gasto de energia exigido para manejar a envergadura do violoncelo, acrescido do facto de as boas maneiras da época obrigarem a colocar o instrumento de um ou outro lado do corpo obrigando a uma significativa contorção do dorso, tornavam o instrumento ainda mais inacessível às executantes femininas.( Note-se que ainda em 1930 o violoncelo era tido como um instrumento indecoroso para as mulheres, sendo então proibida a contratação de violoncelistas mulheres pela própria orquestra da BBC).
Para Suggia, o violoncelo é o mais extraordinário de todos os instrumentos, considerando-o ela o único que tem a possibilidade de suster um baixo por um longo período e a possibilidade de cantar uma melodia praticamente em qualquer registo. Porém, para que se revele a substância musical do violoncelo, é preciso que a técnica não seja estudada apenas como destreza, mas que tenda sempre para a música.
26.6.10
FRASE DO DIA
PENSAMENTO DO DIA
O trajecto de Pedro Bento é exemplar: assessor do secretário de estado Paulo Campos, gestor da empresa pública que gere as portagens nas autoestradas (chips), manager da empresa que produz os chips e os vende. Por esta ordem. Se até Jesus Cristo expulsou violentamente os vendilhõs do templo, de que estamos à espera para correr com estes?
EFEMÉRIDE DO DIA
25.6.10
FRASE DO DIA
PENSAMENTO DO DIA
CRÓNICA DA SEMANA (II)
OS FRUSTRADOS
Mais do que a grave situação económica do país, o que verdadeiramente aflige e causa a insegurança do país é a permanente frustração das expectativas. Será até mais justo dizer, a frustração e contra-frustração que vivemos no dia-a-dia. Pega-se nos jornais de fim-de-semana e vemo-las em todas as páginas. Aí, pensamos: “bem, estes são semanários e, por isso, trazem-nas todas ao mesmo tempo”. Mas não acontece tal. Pela semana fora vamos assistindo ao mesmo. E, dia após dia, vamos sentindo que nada do que seria esperável acontece. Mesmo, como sucede no caso das contra-frustrações, elas correspondam a boas notícias. Estamos à espera de que algo corra mal e, zás, corre bem. O descrédito sucede, a desconfiança cresce e ficamos logo a pensar o que é que vai suceder no dia seguinte que nos vai deixar frustrados. Repare o meu caro Leitor numa mão cheia, que colhi a-vol-d’oiseau:
- Esperávamos que Freitas do Amaral não se metesse nas eleições presidenciais. Depois do seu inicial desvio pela direita do nosso país, arrimou-se à esquerda, onde parecia ir ficar até ao último sopro. De súbito, ele anuncia: “o Cavaco é que é bom”. Sentimos estremecer as nossas convicções. Que estará mal? Nós ou ele? Ficamos párias de convicções. Uma dúvida nos assalta. Estará ele a fazer isso para abalar ainda mais a confiança dos portugueses num segundo mandato seu presidente? Será ele um submarino? Mas isso de submarinos é mais de Paulo Portas, não se espera tal de almas impolutas. Abalados pela dúvida, nem conseguimos adormecer meia dúzia de noites.
- A comissão de inquérito às potenciais mentiras do primeiro-ministro à Assembleia da República consegue provas. Pelo menos é o que diz, gravemente, um dos seus membros. E, quando esperamos as consequências disso, a comissão recusa as provas e diz ela própria não se sabe se uma meia verdade se uma meia mentira: o Primeiro-Ministro sabia, disse que não sabia, mas não sabemos nós se mentiu ou não. Dificilmente se alguém conseguiria uma quadratura do círculo tão perfeita. É porque não é porque é e seguramente não é. Já não se trata de dúvidas, trata-se de loucura. É na loucura que nos refugiamos. Sempre podemos dizer para nós próprios: não entendes mas não é por seres burro, é por seres louco.
- O primeiro-ministro come figos ao pequeno-almoço. Dos caros. Provavelmente da Índia ou algo assim. Até aqui, nada de mal. Cada um come do que gosta. Erradamente, toda a gente pensa que todos os figos provocam diarreia. Não é assim. Os figos da Índia provocam exactamente o contrário. Isso, prisão. Diz a ciência alimentar. Parece que, finalmente, encontramos algo que não nos frustra. Erro. A diarreia de explicações que, a propósito do caso, cai sobre a opinião pública é um jorro. Então, das duas, uma: ou os figos não são da Índia e são autenticamente nacionais ou alguém ficou indevidamente com parte do preço. Bolas. Estou a dizer a mesma coisa por palavras diferentes. A prova da insanidade que nos (me) provocam as permanentes frustrações que vivemos. E esta vai dar lugar, não tarda nada, a uma contra frustração. É que a Entidade das Contas e Financiamentos Políticos decidiu apresentar queixa-crime contra a contratação de Figo para um pequeno-almoço. E, seguindo o trend – uma palavra de luxo que quer dizer “tendência” – das últimas acusações do género, vai ser irremediavelmente arquivada por falta de provas. Bem à moda do jogador, finta, contra-finta e golo. Um golo de café com leite a custar a módica quantia de cento e cinquenta mil contos. Caramba! Por esse preço, até eu marcava golo, nem que tivesse que marcar um penalty de cabeça. E ninguém me convidou! Tripla frustração.
- Partimos, para a África do Sul, cientes de que íamos reconquistar o Adamastor. No primeiro jogo, empatamos com a Costa do Marfim. Grande frustração. Parecia que estamos a dobrar o Cabo Bojador. Os cronistas habituados a jogar com os pés afirmam: “não dizíamos nós? O Queirós é uma besta!”. Sentimo-nos envergonhados. Alguém que não saiu frustrado neste negócio. Mas vem o segundo. Esperávamos ver-nos gregos contra os coreanos. Sete a zero. Contra-frustração. O Cabo rendido a nossos pés e o Adamastor transformado, de novo, em Boa-Esperança. Os mesmos cronistas de atrás voltam a pronunciar-se: “não dizíamos nós? O Queirós é bestial!”. Voltamos a sentir inveja. Pelas mesmas razões. Já não se podem fazer prognósticos com a equipa portuguesa, a não ser os cronistas entendidos no jogo de pés. O Brasil que se avenha. Nós já lá estamos! A não ser que suceda a contra-contra-frustração. Provavelmente, vamos encontrar a Espanha. Mas como eles andam tão frustrados como nós, pode ser que, desta vez, ganhemos nós.
- Morre Saramago. Aí, esperamos que tanta gente que dizia mal dele pelos corredores, abrisse agora, quando ele já não podia responder, as goelas para dizer alto o que antes diziam baixinho. Frustração. É um coro de elogios fúnebres. Frustração. A gente já nem sabe o que esperar. O homem foi sempre muito pouco simpático contra a sua pátria. Isto é, se é que ele a tinha. Comunista não tem pátria, é internacionalista por vocação. Nesse aspecto, nenhuma frustração. Ele sempre foi muito coerente com as suas convicções. Tanto que, no momento em que recebeu o prémio supremo, exclamou: “o dinheiro é meu!”. Coerência absoluta. Sabem quem usa dizer “o que é teu é também meu, mas o que é meu é muito meu”, sabem? Isso. Nenhuma frustração, portanto, por essa banda. A dos outros, sim. Até do Presidente. Quando a gente esperava que, na linha da aprovação do casamento gay, ele surgisse no funeral a fazer o elogio fúnebre, ele faltou. Frustração total.
- O chip necessário para as SCUTS era grátis. Duas semanas depois custa vinte e cinco euros. Inflação de infinito por cento. Só não digo que é mais uma frustração porque, neste caso, é roubo. E ser roubado é coisa que, felizmente, esperamos todos os dias. Jamais sairemos frustrados dessa expectativa.
Fico-me por aqui ou, hoje, precisaria de duas páginas do jornal. E vou passar a ler as estatísticas que dizem estarem a baixar as expectativas dos portugueses com outros olhos. Até aqui, lia isso e pensava: “as expectativas dos portugueses quanto ao futuro são cada vez piores”. Agora, quando vir isso, vou pensar: “as expectativas dos portugueses quanto ao futuro são cada vez menos”. Para não se sentirem uns frustrados.
Magalhães Pinto, em VIDA ECONÓMICA, em 25/6/2010
Mais do que a grave situação económica do país, o que verdadeiramente aflige e causa a insegurança do país é a permanente frustração das expectativas. Será até mais justo dizer, a frustração e contra-frustração que vivemos no dia-a-dia. Pega-se nos jornais de fim-de-semana e vemo-las em todas as páginas. Aí, pensamos: “bem, estes são semanários e, por isso, trazem-nas todas ao mesmo tempo”. Mas não acontece tal. Pela semana fora vamos assistindo ao mesmo. E, dia após dia, vamos sentindo que nada do que seria esperável acontece. Mesmo, como sucede no caso das contra-frustrações, elas correspondam a boas notícias. Estamos à espera de que algo corra mal e, zás, corre bem. O descrédito sucede, a desconfiança cresce e ficamos logo a pensar o que é que vai suceder no dia seguinte que nos vai deixar frustrados. Repare o meu caro Leitor numa mão cheia, que colhi a-vol-d’oiseau:
- Esperávamos que Freitas do Amaral não se metesse nas eleições presidenciais. Depois do seu inicial desvio pela direita do nosso país, arrimou-se à esquerda, onde parecia ir ficar até ao último sopro. De súbito, ele anuncia: “o Cavaco é que é bom”. Sentimos estremecer as nossas convicções. Que estará mal? Nós ou ele? Ficamos párias de convicções. Uma dúvida nos assalta. Estará ele a fazer isso para abalar ainda mais a confiança dos portugueses num segundo mandato seu presidente? Será ele um submarino? Mas isso de submarinos é mais de Paulo Portas, não se espera tal de almas impolutas. Abalados pela dúvida, nem conseguimos adormecer meia dúzia de noites.
- A comissão de inquérito às potenciais mentiras do primeiro-ministro à Assembleia da República consegue provas. Pelo menos é o que diz, gravemente, um dos seus membros. E, quando esperamos as consequências disso, a comissão recusa as provas e diz ela própria não se sabe se uma meia verdade se uma meia mentira: o Primeiro-Ministro sabia, disse que não sabia, mas não sabemos nós se mentiu ou não. Dificilmente se alguém conseguiria uma quadratura do círculo tão perfeita. É porque não é porque é e seguramente não é. Já não se trata de dúvidas, trata-se de loucura. É na loucura que nos refugiamos. Sempre podemos dizer para nós próprios: não entendes mas não é por seres burro, é por seres louco.
- O primeiro-ministro come figos ao pequeno-almoço. Dos caros. Provavelmente da Índia ou algo assim. Até aqui, nada de mal. Cada um come do que gosta. Erradamente, toda a gente pensa que todos os figos provocam diarreia. Não é assim. Os figos da Índia provocam exactamente o contrário. Isso, prisão. Diz a ciência alimentar. Parece que, finalmente, encontramos algo que não nos frustra. Erro. A diarreia de explicações que, a propósito do caso, cai sobre a opinião pública é um jorro. Então, das duas, uma: ou os figos não são da Índia e são autenticamente nacionais ou alguém ficou indevidamente com parte do preço. Bolas. Estou a dizer a mesma coisa por palavras diferentes. A prova da insanidade que nos (me) provocam as permanentes frustrações que vivemos. E esta vai dar lugar, não tarda nada, a uma contra frustração. É que a Entidade das Contas e Financiamentos Políticos decidiu apresentar queixa-crime contra a contratação de Figo para um pequeno-almoço. E, seguindo o trend – uma palavra de luxo que quer dizer “tendência” – das últimas acusações do género, vai ser irremediavelmente arquivada por falta de provas. Bem à moda do jogador, finta, contra-finta e golo. Um golo de café com leite a custar a módica quantia de cento e cinquenta mil contos. Caramba! Por esse preço, até eu marcava golo, nem que tivesse que marcar um penalty de cabeça. E ninguém me convidou! Tripla frustração.
- Partimos, para a África do Sul, cientes de que íamos reconquistar o Adamastor. No primeiro jogo, empatamos com a Costa do Marfim. Grande frustração. Parecia que estamos a dobrar o Cabo Bojador. Os cronistas habituados a jogar com os pés afirmam: “não dizíamos nós? O Queirós é uma besta!”. Sentimo-nos envergonhados. Alguém que não saiu frustrado neste negócio. Mas vem o segundo. Esperávamos ver-nos gregos contra os coreanos. Sete a zero. Contra-frustração. O Cabo rendido a nossos pés e o Adamastor transformado, de novo, em Boa-Esperança. Os mesmos cronistas de atrás voltam a pronunciar-se: “não dizíamos nós? O Queirós é bestial!”. Voltamos a sentir inveja. Pelas mesmas razões. Já não se podem fazer prognósticos com a equipa portuguesa, a não ser os cronistas entendidos no jogo de pés. O Brasil que se avenha. Nós já lá estamos! A não ser que suceda a contra-contra-frustração. Provavelmente, vamos encontrar a Espanha. Mas como eles andam tão frustrados como nós, pode ser que, desta vez, ganhemos nós.
- Morre Saramago. Aí, esperamos que tanta gente que dizia mal dele pelos corredores, abrisse agora, quando ele já não podia responder, as goelas para dizer alto o que antes diziam baixinho. Frustração. É um coro de elogios fúnebres. Frustração. A gente já nem sabe o que esperar. O homem foi sempre muito pouco simpático contra a sua pátria. Isto é, se é que ele a tinha. Comunista não tem pátria, é internacionalista por vocação. Nesse aspecto, nenhuma frustração. Ele sempre foi muito coerente com as suas convicções. Tanto que, no momento em que recebeu o prémio supremo, exclamou: “o dinheiro é meu!”. Coerência absoluta. Sabem quem usa dizer “o que é teu é também meu, mas o que é meu é muito meu”, sabem? Isso. Nenhuma frustração, portanto, por essa banda. A dos outros, sim. Até do Presidente. Quando a gente esperava que, na linha da aprovação do casamento gay, ele surgisse no funeral a fazer o elogio fúnebre, ele faltou. Frustração total.
- O chip necessário para as SCUTS era grátis. Duas semanas depois custa vinte e cinco euros. Inflação de infinito por cento. Só não digo que é mais uma frustração porque, neste caso, é roubo. E ser roubado é coisa que, felizmente, esperamos todos os dias. Jamais sairemos frustrados dessa expectativa.
Fico-me por aqui ou, hoje, precisaria de duas páginas do jornal. E vou passar a ler as estatísticas que dizem estarem a baixar as expectativas dos portugueses com outros olhos. Até aqui, lia isso e pensava: “as expectativas dos portugueses quanto ao futuro são cada vez piores”. Agora, quando vir isso, vou pensar: “as expectativas dos portugueses quanto ao futuro são cada vez menos”. Para não se sentirem uns frustrados.
Magalhães Pinto, em VIDA ECONÓMICA, em 25/6/2010
EFEMÉRIDE DO DIA
Neste dia, em 1852, nasceu o arquitecto espanhol António Gaudi.
Já arquitecto de créditos firmados, Gaudí buscou um estilo próprio e se quisermos citar exemplos desse estilo as casas Batló e Milá serão certamente as que nos acudirão ao espírito. De tal forma ousadas eram essas construções que o público de Barcelona, apesar da estima e do prestígio de Gaudí, não deixou de as alcunhar e de as considerar quase aberrantes. A obra de Gaudí por excelência foi, no entanto, o templo expiatório da Sagrada Família, obra a que dedicou uma parte importante da sua vida e em que trabalhou aturadamente nos seus últimos 12 anos de existência. Está em curso um movimento em prol da beatificação de Gaudí pela Igreja Católica, promovido desde 1992 por uma associação secular.
Uma das suas últimas obras, a catedral da Sagrada Família, em Barcelona:
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