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21.6.10

MEMÓRIA

TRIPA-FORRA

Se quisermos ter um exemplo marcante do que é, do que foi, a gestão socialista dos dinheiros públicos, a cidade do Porto serve perfeitamente. Com efeito, a Comunicação Social deu conta, esta semana, de que foram realizadas, nesta cidade, obras no valor de vinte milhões de Euros (mais de quatro milhões de contos) em obras que são, até ao presente, uma perfeita inutilidade. Entre elas, avulta aquele edifício, já conhecido pelo "mamarracho", que está ali junto ao Castelo do Queijo e que ninguém sabe para o que serve. Custou a "módica" quantia de um milhão e meio de contos. Um outro edifício em que também se gastaram rios de dinheiro e que continua, muito depois de ter sido acabado, sem qualquer utilidade, é a chamada Casa dos Vinte e Quatro. Um divertimento intelectual de uns quantos iluminados à custa do Zé Pagante.

Julgo que em todos os tempos se fizeram obras cuja utilidade ficou muito àquem do que custaram em suor dos Contribuintes. Em tempos não muito remotos, lembremo-nos do Centro Cultural de Belém. E, se recuarmos bastante, pensemos no mastodonte que é o Convento de Mafra, mandado erigir por D. João V, quando o dinheiro, vindo do Brasil sob a forma de ouro, era muito barato.

Mas o que mais espanta e desagrada é que não temos a coragem de pedir responsabilidades. Os autores dos dislates ficam-se a rir. Um riso que seria alvar e motivo de escárnio, não fora os seus dislates custarem-nos os olhos da cara. Mas chamar à responsabilidade, pedir indemnizações, fazer perder o direito à nomeação para cargos públicos, isso não se vê. Fica sistematicamente no tinteiro dos jornais. Entre Fernando Gomes, Nuno Cardoso, presidentes consecutivos da Câmara do Porto, e a Presidente do "Porto 2001", Teresa Lago, encontraríamos, seguramente, o ou os responsáveis últimos de tanto deste dinheiro gasto à tripa-forra. Com um jeitinho, talvez pudéssemos chegar até Manuel Carrilho, o Ministro da Cultura que tudo fez para substituir um homem probo e sensato - como o Dr. Artur Santos Silva é - gente do seu interesse. Alguém procura averiguar o que se passou? Alguém procura chamar à barra quem malbaratou o nosso dinheiro? Não. Tudo fica para sempre no esquecimento, perdido nas páginas dos jornais velhos. E, daí a nada. até somos capazes de ver aparecer em público - como há dias aconteceu com Fernando Gomes e, mais atrás, com Nuno Cardoso - os autores destes desmandos a criticar aqueles que, para tentar salvar o salvável, têm que apertar os cordões à bolsa pública, aumentar impostos e cortar benefícios.

É bom que todos comecemos a pensar que administrar os dinheiros públicos não exige apenas responsabilidade política, segundo a qual, uma perda de eleições lava os desmandos. Implica também responsabilidade civil. O nosso dinheiro ido para impostos custa-nos muito suor. Um suor que enche a tripa-forra de quem decide sem respeito nenhum pelo nosso esforço.

Magalhães Pinto, em MATOSINHOS HOJE, em 11/1/2002

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