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A consequência final encontra-se liminar e muito claramente descrita pela AIP:
"Não há asosciações que não sejam hoje desprezadas pelos poderes públicos. Com as críticas que muitos voltaram a desenvolver contra as "corporações" e os aparentemente sempre condenáveis interesses corporativos, pode dizer-se que, com muito poucas excepções, quase todas as associações (do nível mais alto ao mais básico, do âmbito nacional ao concelhio) são alvo de um desprezo real por parte de todos os escalões do Poder. E isto só é disfarçado pela utilização oportunística das associações para situações concretas que se quer ultrapassar: períodos eleitorais, acordos de concertação, projectos populares, etc.".
A situação está claramente definida. E avulta nela algo em que devíamos meditar. O desprezo a que os Poderes públicos votam o movimento associativo. A frágil natureza da política em Portugal também se manifesta neste facto. Porque, por mais que os políticos façam votos de melhor futuro para Portugal, por mais que anunciem a sua vontade de mudar o futuro mesquinho que nos aguarda, tal não será possível sem - digamo-lo sem medos de ser mal entendidos - corporações fortes, conscientes do que melhor lhes convém e capazes de ter uma voz no delinear desse futuro. Não estamos aqui muito longe do conceito que, há tanto tempo venho defendendo aqui: não haverá progresso em Portugal sem a voz forte da sociedade civil, sem o quebrar estrondoso dessa dicotomia que nos divide a todos entre "nós" e "eles".
Ao assumir publicamente esta posição, a AIP adianta-se ao resto do universo associativo português. Pretendendo, naturalmente, corporizar o eventual desejo de aglutinação que a sua tomada de posição desperte. Mas não será tarefa fácil. Em primeiro lugar, porque nas tais mais de seiscentas associações, existem muitas que são autênticos palanques de vaidades comesinhas de relevo estritamente local. Estou em crer que, se consultarmos essas associações, será ridícula a fracção delas disponível para restringir o seu papel ou, ainda menos, para se aniquilar por integração numa associação de âmbito mais alargado. Depois, porque há mais do que um galo para o mesmo poleiro. Imagino a reacção que esta tomada de posição terá tido, por exemplo, na AEP, Associação Empresarial de Portugal, de cariz retintamente nortenho. Por fim, porque será - e algo justificadamente, tendo em conta algumas experiências anteriores - muito difícil convencer os empresários mais pequenos de que as grandes associações podem servir para algo mais do que proteger os grandes empresários.
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Excerto da crónica A UNIÃO FARIA A FORÇA - Magalhães Pinto - VIDA ECONÓMICA - 14/12/2003
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