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27.5.09

CRÓNICA DA SEMANA (II)

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Claro que há uns privilegiados que encontram sempre sapatos para a sua medida. Um exemplo disse – podíamos encontrar muitos – é o Professor Freitas do Amaral. Antigo Presidente do CDS. Antigo candidato presidencial apoiado pelo PSD. Antigo Ministro de um governo PS. A quem o Governo actual ofereceu uns sapatos de mil contos por mês. Para quê, perguntar-se-á. Os noticiários disseram que foi para elaborar uma Lei das Fundações. Aliás, esta Lei é um prodígio de longevidade. A que está ainda em vigor já tem a provecta idade de quase seis anos. Não se admite! Num país que o Governo tem reformado em grande velocidade, esta Lei parece uma encomenda enviada pelo ramal do Tramagal. Pois bem. Isso é o que dizem os dignos elementos da Comunicação Social. Mas eu não acredito. Ninguém me tira da cabeça que o Governo ofereceu esses sapatos ao Professor para evitar que, num daqueles arroubos em que ele é fértil, se passasse para o PCP. Ou mesmo, pela modernidade que isso representaria, para o Bloco. Acho que a atitude do Governo foi inteligente. Porque Freitas do Amaral é o olho piscado à direita portuguesa. E olho piscado é coisa que dá jeito em ano tão eleitoral.

Do que eu não percebo patavina é da luta fratricida que se trava em redor da Lei do Sigilo Bancário. Dentro do PS, sim senhor. Então não é que o nosso ilustre e bastante ilustrado Primeiro-Ministro foi à vizinha Espanha reverenciar o “grande líder europeu” – a semelhança entre o nome dele e o conteúdo desta crónica é acidente que eu imputo à minha mãezinha – e, depois, recusa aos seus correligionários o direito de copiarem uma lei igualzinha àquela por que é responsável o “grande líder”? Vá lá a gente entender-se no meio desta confusão. Estamos face a uma sapateirada ininteligível. O que me deixou a cogitar novamente. Há sempre uma razão para os acontecimentos. De início, eu pensei que se tratava de um desagravo a “nuestros hermanos” pelo facto da Igreja Católica ter declarado santo quem lhes tinha dado uma sova mestra em Aljubarrota. Mas sabendo que o senhor Sapateiro não liga nada à Igreja, descartei essa hipótese. Depois, pensei que estávamos na presença de um gesto diplomático, procurando fazer com que os espanhóis não nos devolvam mais trabalhadores portugueses que por ali andam, já que isso vem estragar as estatísticas de desemprego que tanta preocupação dão ao nosso Governo (mais as estatísticas do que o desemprego). Mas descartei também. Já há muito poucos portugueses por aquelas bandas. Até que me pareceu chegar a uma explicação plausível. Tudo se tratou de uma acção de marketing para o computador “Magalhães”. Tenho bastas razões para acreditar que assim é. Em primeiro lugar, é raro o nosso Primeiro ir lá fora que não seja para promover aquela diabólica máquina. Em segundo lugar, ao dizer aos espanhóis que o seu líder é o “grande líder europeu”, o nosso Primeiro mostrava o desenvolvimento científico que já por cá vai, Graças às “Novas Oportunidades”. Em terceiro lugar, ao fazer uma afirmação assim, bombástica, em terreno adversário, o nosso Primeiro ganhava, como ganhou, a vinda do senhor Sapateiro cá a Portugal para dizer, em voz de trovão, que o nosso líder era o segundo grande líder europeu de momento. Algo de que já desconfiávamos mas que soube bem ouvi-lo dizer.
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Excerto da crónica POLÍTICA DE SAPATEIRO - Magalhães Pinto - VIDA ECONÓMICA - 27/5/2009

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