CRÓNICA DA SEMANA (I)

ASSIM SE FAZ

Na crise financeira que assola a Europa, Grécia, Portugal e a Espanha, são, por esta ordem, os países com menos capacidade para lhe resistir. E os agentes financeiros entenderam isso muito bem, encarecendo o preço do dinheiro destinado a esses países. E não se iludam os cidadãos. Quando se diz que os estrangeiros emprestam dinheiro àqueles países agora com juros mais altos, isso quer dizer que é o cidadão que vai suportar tais custos maiores no dinheiro que devam ou que precisem pedir emprestado.
A Grécia foi a primeira a sofrer as consequências da situação. Está num caos e a desordem está instalada na rua. E nós podíamos ter aprendido com a Grécia, antecipando-nos a uma reacção dos mercados financeiros que nos ia atingir como atingiu a Grécia. Mas temos um Governo que só põe trancas na porta depois da casa roubada. E, não tendo agido com vigor quando o problema da Grécia se manifestou e antes que nos obrigassem, estamos agora a percorrer as ruas da amargura.
Mais sorte teve a Espanha com o seu Governo. Aliás, os espanhóis já tinham aprendido uma vez, com a nossa revolução quando, tendo visto o que se passou aqui, preferiram fazer uma transição pacífica e gradual para a democracia e não uma revolução como nós. Aprenderam outra vez, agora. Vendo o que estava a acontecer a Portugal, adiantaram-se. E, na semana passada, fizeram algo que, tanto quanto acontecimentos recentes mostram, parece impossível de acontecer aqui. O Governo espanhol fechou mais de 25 empresas do Estado que, seguramente, não faziam falta nenhuma, e despediu 32 altos funcionários do sector público que, pelos vistos, estavam a mais.
Aqui, não só temos dezenas de altos funcionários agarrados àquilo que se chama “tachos”, como esses “tachos” rendem milhões, como, se mostramos a nossa indignação por tais situações escandalosas, esses mesmos “tachos” dizem que não temos nada com isso.
Naturalmente, estamos mesmo a pedi-las. E os estrangeiros não se farão rogados. Não tendo obrigação nenhuma de nos sustentar, vão dizer-nos ainda durante muito tempo: vão pentear macacos.

Magalhães Pinto, em MATOSINHOS HOJE, em 4/5/2010