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2.5.10

POEMA DO MÊS


A VIAGEM


Mal falamos de Amor,
minha querida,
como se isso fosse
uma zona esquecida
da cidade de cristal
que construí para ti!...
... como se isso fosse um mal!...
... como se fosse algo que perdi
e não quero mais encontrar!...
Mas hoje...
Hoje, vou fazer da coragem
uma espada enraivecida,
empunhada pelos meus dedos,
esmerilada pela Vida...
E vou brandi-la na viagem
que matará os meus medos!...

Vem comigo, minha querida!...

Vou fazer dessas castanhas
ainda virgens, doridas,
que me olham com ternura,
dois altares...
duas imagens tamanhas...
duas flores... duas partidas
que jamais terão chegada...
aves aos pares...
com os lábios, vou fechar
os ouriços que as protegem,
para, mais tarde, cegar
com a luz que, de mansinho,
deles jorra, com carinho....
E vou levar essa luz
na viagem pretendida,
para saber o caminho...

Vem comigo, minha querida!...

Dessa madeixa espetada
que enfeita a tua fronte,
feita de mil fios de ouro,
vou fazer
uma floresta cerrada,
tendo no meio uma fonte,
onde esconda este desejo
de te ter...
E mate a sede de Amor
que sem cessar, noite e dia
embora parecendo dor,
é toda a minha alegria...
Dos fios vou fazer ramos...
da fonte vou fazer rios...
em nós daremos guarida
às coisas que os dois amamos...

Vem comigo, minha querida!...

Desse morango encarnado,
partido em duas metades,
que apetece beijar,
que farei?...
Um retiro enfeitiçado
para duas divindades
ansiosas por amar?...
Não sei!... Não sei!...
Nos meus lábios vou escondê-lo...
Saborear o seu sumo...
E, se conseguir prendê-lo,
pô-lo a ensinar-me o rumo
que há-de levar os dois
aos espaços siderais...
a uma estrela perdida...
p´ra não voltarmos jamais!...

Vem comigo, minha querida!...

Por fim, farei dos sorrisos
que enfeitam esse teu rosto
de menina, cinzelado,
- tão lindo! -
um refúgio para as minhas
tempestades de desgosto,
em horas falhas, num fado
infindo...
Neles irei repousar
no extremo desta viagem
concebida para Amar,
numa hora de coragem...
E, assim, tu a meu lado,
os dois sós, em linda estrela
pelos espaços perdida,
amar-te-ei, mulher bela!...

Vem comigo, minha querida!

Magalhães Pinto

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