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Por um lado, aqueles que ambicionam o Poder, não agem com a boa intenção do serviço público. Querem o Poder pelo Poder. Pelos seus privilégios e pelas suas prebendas. Por outro lado, os eleitores - os cidadãos - elegem não em função do necessário mas em função da ilusão. Todos são responsáveis, em minha opinião. Uns vendem a inteligência ao diabo para conquistar os seus objectivos pessoais. Outros deixam-se guiar pelas miragens em lugar de tentarem atravessar o deserto, O resultado será a perda de todas as guerras em que a "cidade" se envolva. Tanto as de sentido restrito, com armas, como as de sentido lato, as sociais, económicas, educacionais, culturais. O destino será o de Atenas. Definhar, até ao completo desaparecimento.
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Estamos a assistir, em Portugal, a um processo em tudo semelhante ao descrito. Não conseguimos ainda perceber. Mas a nossa Pátria está a desaparecer. Claro que nos vamos dissolver - mais por razões geo-estratégicas de que por nosso mérito ou vontade esclarecida - numa Europa mais vasta. Mas aí seremos, neste caminhar, uma espécie de região mirandesa, onde se levam as cabras a pastar. Onde se vive em tugúrios. Onde os endinheirados europeus irão, com as crianças pela mão, para mostrar "como era antigamente". Pomposamente, os pobretanas deste canto sorrirão, mostrarão as suas feridas, convencidas de estar a desempenhar o inestimável papel de guardiãos das tradições, De algum modo, ainda continuamos a pensar e agir como no tempo da ditadura. Uma casinha, o pão sobre a mesa, o pai a regressar do trabalho, estourado, quando a noite cai e todos a rirem-se, felizes, com os arrotos que o pai dá no fim do jantar. Isto enquanto houver pão. Porque pode ser que ele acabe. Devorado pelo desemprego. Na corrida do desenvolvimento que a criação da União Europeia provocou, já levamos várias voltas de atraso. Ou reganhamos, todos, em conjunto, forças para recuperar, venham elas de onde vierem, ou só nos quedará, como recurso, entrar para o carro-vassoura.
Portugal está desunido. Não há objectivos comuns. Cada um, cada grupo, tenta arrepanhar para si o pedacito de calor que algumas brasas ainda dão. E, assim, não há forças que nos levem ao pelotão da frente. Dois exemplos, cada um do seu lado da dicotomia tucididiana acima referida, mostram o que afirmo, sem margem para dúvidas.
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Excerto da crónica E AGORA? - Magalhães Pinto - VIDA ECONÓMICA - 12/7/003
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