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1.5.09

POEMA DO MÊS


SAUDADE

Alguém dirá deste pranto,
destas saudades mortais,
que amando-te eu assim tanto,
amar-te não posso mais

Se vivo nesta tortura
de não te ver quando quero,
enquanto por isso espero
sinto crescer a ternura
que me vai dentro da alma...
E faço um apelo à calma...
Deixando passar os dias
que me separam de ti,
recordando o que vivi,
as coisas que não esqueço...
Se, porventura, tropeço
nas folhas do calendário
já caídas, meu fadário
muda-se em choro convulso...
Sem meditar se, avulso,
me chega algum comentário,
dizendo que é loucura
este amor, esta ternura!...
Quero lá saber se tanto
alguém dirá deste pranto!...

E os dias passam a passo...
as saudades a crescer...
o desejo de te ver
no meu coração amasso
com a falta que me fazes...
As saudades são tenazes
mais fortes do que os teus braços,
em abraços sempre escassos...
São o leito do meu sangue...
São o rio dos meus sonhos...
São os teus olhos risonhos
quando cerras as pestanas...
São amarras, são lianas,
são uma teia de amor,
na qual enleio, sem dor,
os beijos com que me afagas...
Nestas minhas horas vagas
da emoção que me dás,
cada vez solto mais ais
destas saudades mortais!...

Onde encontrar medicina
p’ra saudade imorredoira?...
Nesse teu rosto de moira
encantada, inda menina?...
Nesse teu jeito de amar,
tão salgado como o mar?...
Nessa tua pele macia,
que tão forte me inebria?...
Nessas tuas mãos pequenas
que, a acariciar, são penas?...
Na lembrança embevecida
da tua imagem querida?...
Mais longe, no esplendor
desse teu sublime amor?...
Oh! meu amor, minha querida,
como curar esta ferida,
tais saudades imortais
que fazem viver meus ais,
se não há maior encanto
que amando-te eu assim tanto?!....

Já sei o que vou fazer,
para não ser maltrapilho
que, além deste estribilho,
mais não saiba que dizer!...
Vou colher uma carícia
sob a forma de estrelícia...
Vou aprisionar um beijo
que mais pareça um desejo...
Vou pegar no maior mimo
de tudo aquilo que estimo...
armarei tudo, num ramo
que diga ao mundo que eu amo...
Com fios do teu cabelo
atarei ramo tão belo...
Mandá-lo-ei por correio,
com a minha alma no meio...
E, quando o tiveres na mão,
se o vires com o coração,
verás escrito em cristais:
amar-te não posso mais!

Magalhães Pinto

2 comentários:

Tisha disse...

As tuas palavras poeticas são sempre como uma carícia sauve, uma brisa fresca num dia quente, como o murmúrio das águas vivas numa nascente. Nunca ficarei cansada de as ler!!

MAGALHÃES PINTO disse...

Obrigado pela visita e comentário.

A beleza das coisas está mais nos olhos de quem as vê do que nas própias coisas.