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30.6.09

CRÓNICA DA SEMANA (I)

Sabemos hoje que o Governo tinha conhecimento, desde o início do ano, do negócio pelo qual a Portugal Telecom pretendia controlar o grupo Media Capital, no qual se inclui a TVI. Sabemos, ainda, que o grupo Media Capital é controlado por um grupo espanhol semelhante e maior, denominado PRISA, um grupo que cresceu, até se tornar gigantesco, à sombra do socialista Filipe Gonzalez. Sabemos também, desde o último Congresso do Partido Socialista, que José Sócrates, o Primeiro-Ministro, detestava a TVI, interpretando como ataques pessoais e políticos graves alguns dos noticiários daquela emissora.

Foi neste quadro que foi denunciado, há pouco mais de uma semana, na Assembleia da República, que o Governo teria ordenado à Portugal Telecom, onde o Estado detém uma participação com algum poder, para adquirir a empresa dona da TVI e suspeitou-se que isso iria conduzir ao saneamento de José Eduardo Moniz, o seu director. Confrontado com estas dúvidas, José Sócrates afirmou, de pronto, que o Governo desconhecia o negócio. Obviamente, mentindo aos deputados e, através deles, ao país.

Nós sabemos que os políticos são useiros e vezeiros em mentir. Mas, por norma, deixam ficar uma escapatória através da qual podem sempre afirmar “não foi isso que eu disse”. Então em José Sócrates, e desde a promessa dos 150.000 empregos, que mentir pareceu ser compulsivo. Talvez devido a ter acreditado que a propaganda o fazia ganhar tudo. Mas, neste caso da Telecom e da TVI, a mentira foi gritante e, até, recheada de indignidade, pela rapidez com que José Sócrates se viu desmentido pelos factos. E a situação é tão incomum, que vale a pena perguntar porque é que alguém, sagaz como José Sócrates, se deixou enredar nela, aparentemente de modo ingénuo.

A razão quase geralmente apontada foi a da briga com José Eduardo Moniz, o director da TVI. No último Congresso socialista, José Sócrates não conseguiu esconder a sua “raiva” contra a actuação da emissora de televisão. Mas, para mim, não é a única. Devemos ter presente que a PRISA, empresa espanhola envolvida no negócio, é uma criação socialista. Mas, tendo sido sempre muito próxima dos governos dessa cor, a PRISA caiu em desgraça junto de José Luís Zapatero, o Primeiro-Ministro espanhol actual. E que, por força disso, a PRISA atravessa um momento particularmente crítico do ponto de vista económico e financeiro, devendo aos bancos qualquer coisa como cinco mil milhões de euros, dívida, essa, que devia ter sido paga até Maio último, não o tendo sido feito. Assim, podíamos estar também diante de uma tentativa de os socialistas portugueses estarem a tentar dar uma mão aos seus amigos.

Entre as duas alternativas, venha o diabo e escolha. O que parece já ter feito.

Crónica O MENTIROSO COMPULSIVO - Magalhães Pinto - MATOSINHOS HOJE - 30/6/2009

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