AS SORTES
Talvez porque a acção do meu próximo livro - um romance - decorre na tropa, ando muito propenso aos títulos de algum modo relacionados com o serviço militar. Ir às sortes, dizia-se, era ir à inspecção militar, o acto onde se julgava se um jovem estava apto ou não para as exigências do serviço. De algum modo, creio que Narciso Miranda e o Dr. Manuel Seabra vão às sortes no final deste mês. Quando se realizarem as eleições para a concelhia de Matosinhos do Partido Socialista. De algum modo, os socialistas cá do burgo vão julgar qual deles é o mais adequado para conduzir o partido no nosso município, nesta hora que é, indubitavelmente difícil, tanto para o país, como para o município, como para o PS.
Se as afirmações, tantas vezes repetidas pelos políticos, fossem para valer, seguramente a balança eleitoral socialista penderia para o Dr. Manuel Seabra. Renovação é um termo muito ouvido ultimamente. Mais no PS do que nos outros partidos, embora percorra todos, sem excepção. E renovação - do sistema político que temos, dos políticos que nos servem, das políticas e das estratégias de desenvolvimento - é ideia que anda na mente de toda a população. Mas sabemos de que modo Narciso Miranda é um sobrevivente. Acabamos de assistir a uma dessas situações em que, parecendo que ele tem a derrota por assegurada, consegue, num golpe de rins, manter, ainda que em frágil equilíbrio, o barco em que navega. Por isso, o resultado das eleições do dia 31 de Maio se mostra, para já, uma incógnita. E, no entanto, estas eleições tenderão a ter consequências importantes, conforme o resultado.
Se Narciso Miranda ganhar, creio que as piores consequências serão para o recém-eleito dirigente distrital socialista, Francisco Assis. Em desvantagem na comissão política distrital, verá, neste caso fugir-lhe um importante bastião, a concelhia de Matosinhos, sabido, como é, que o Dr. Manuel Seabra o apoia e que Narciso Miranda está erigido em seu adversário impiedoso. Claro que, neste caso de vitória de Narciso Miranda, quem se ficará a rir, no distrito, será o PSD. Uma vez que a estrutura distrital do PS ficará imensamente fragilizada pelas lutas internas que se seguirão. E, com o enfraquecimento da distrital tripeira do partido, será o próprio líder nacional - cujo apoio a Francisco de Assis foi notório - que sairá enfraquecido.
Caso o Dr. Manuel Seabra ganhe, as consequências maiores situar-se-ão em Matosinhos. Apesar de, verificando-se o contrário do que disse acima, o Partido Socialista sair reforçado no Distrito e a nível nacional. Mas, em Matosinhos, as consequências serão catastróficas. Principalmente para Narciso Miranda. Que, aliás e nestas eleições, joga uma cartada política de vida ou de morte. Se o Dr. Manuel Seabra ganhar, este acto ficará a marcar, indelévelmente, o ocaso do "velho" autarca. Dificilmente Narciso se recomporá de uma derrota assim. Que, além do mais, significaria o fim do sistemático apagamento de todos os vice-presidentes de Narciso no passado. E veríamos, muito provavelmente, a ascenção do Dr. Manuel Seabra até ao cargo de Presidente da Câmara de Matosinhos.
Não arrisco um prognóstico. Por muito que me agradasse ver o Dr. Manuel Seabra ganhar. Por várias razões. Mas, sobretudo, porque ele representa o futuro, enquanto Narciso Miranda representa o passado. Sobretudo, porque a sua vitória representaria mais um passo no aparecimento de novos políticos de topo, de que o país está tão necessitado. Vai ser um longo mês de combate entre os dois autarcas matosinhenses.
Magalhães Pinto, em MATOSINHOS HOJE, em 5/5/2003
. . . OS SINAIS DO NOSSO TEMPO, NUM REGISTO DESPRETENSIOSO, BEM HUMORADO POR VEZES E SEMPRE CRÍTICO. . .
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31.5.10
FRASE DO DIA
RECORDAR É VIVER
Nesta data, em 1962, o Benfica iniciava a sua presença em sete finais europeias de futebol, vencendo o poderoso Barcelona por 3-2, em Amsterdão.
Os golos foram marcados por:
0-1, Sándor Kocsis, 21 minutos.
1-1, José Águas 31.
2-1, Martin Vergés 32 (pb).
3-1, Mário Coluna 55.
3-2, Zoltán Czibor 75.
(Gentil lembrança de um grande lagarto: F. Santos. Com esta, eu perdoo-lhe aquela boca foleira de que:“Grande ano para os benfiquistas: depois de serem campeões nacionais, agora já podem casar!!!” )
Os golos foram marcados por:
0-1, Sándor Kocsis, 21 minutos.
1-1, José Águas 31.
2-1, Martin Vergés 32 (pb).
3-1, Mário Coluna 55.
3-2, Zoltán Czibor 75.
(Gentil lembrança de um grande lagarto: F. Santos. Com esta, eu perdoo-lhe aquela boca foleira de que:“Grande ano para os benfiquistas: depois de serem campeões nacionais, agora já podem casar!!!” )
EFEMÉRIDE DO DIA
Neste dia, em 2009, desapareceu, em pleno voo sobre o Oceano Atlântico, o voo 447 da Air France, tendo perecido todos os passageiros e tripulantes no acidente.
As causas do acidente ainda estão hoje por explicar. A teoria probabilisticamente mais provável imputa à quebra do leme de voo a responsabilidade do acidente, nos seguintes termos:
"De acordo com informação divulgada pela TV France 2, sem contestação da Air France ou do fabricante do aparelho, a quebra do leme consta de um dos 24 alertas emitidos automaticamente pelo avião. A mensagem, enviada no primeiro dos quatro minutos finais do AF 447, indicava um CTL RUD TRV LIM FAULT, ou seja, falha no controle de limitação do curso do leme. Quer dizer, o computador acusou a quebra do leme. Isto poderia ter origem na tentativa de desvio do curso do avião, para evitar as nuvens de maior risco ao voo, em que o giro do leme teria excedido o limite aceitável para a velocidade efetivamente praticada naquele instante pelo aparelho. Informações errôneas dos sensores de velocidade, derivadas do mau funcionamento de um tubo de Pitot bloqueado ou defeituoso, poderiam levar o computador que controla o avião a permitir a manobra potencialmente perigosa do leme, causando sua ruptura. Um memorando enviado em 5 de junho pela Air France aos seus pilotos informou que a empresa aérea iria substituir os sensores de velocidade de seus aviões Airbus nas próximas semanas.
Um alerta da Airbus emitido depois do acidente determina que a tripulação deve conservar a potência dos motores e o ângulo correto para manter a aeronave na linha de voo, em caso de condições meteorológicas difíceis. Quando ocorre a quebra do leme de uma aeronave, em condições atmosféricas favoráveis, o controle do avião é quase impraticável. No caso do AF447, teria sido impossível. A despressurização da cabine teria sido causada pela perda do leme, tal como ocorreu com o Boeing 747 do Voo Japan Airlines 123.".
As causas do acidente ainda estão hoje por explicar. A teoria probabilisticamente mais provável imputa à quebra do leme de voo a responsabilidade do acidente, nos seguintes termos:
"De acordo com informação divulgada pela TV France 2, sem contestação da Air France ou do fabricante do aparelho, a quebra do leme consta de um dos 24 alertas emitidos automaticamente pelo avião. A mensagem, enviada no primeiro dos quatro minutos finais do AF 447, indicava um CTL RUD TRV LIM FAULT, ou seja, falha no controle de limitação do curso do leme. Quer dizer, o computador acusou a quebra do leme. Isto poderia ter origem na tentativa de desvio do curso do avião, para evitar as nuvens de maior risco ao voo, em que o giro do leme teria excedido o limite aceitável para a velocidade efetivamente praticada naquele instante pelo aparelho. Informações errôneas dos sensores de velocidade, derivadas do mau funcionamento de um tubo de Pitot bloqueado ou defeituoso, poderiam levar o computador que controla o avião a permitir a manobra potencialmente perigosa do leme, causando sua ruptura. Um memorando enviado em 5 de junho pela Air France aos seus pilotos informou que a empresa aérea iria substituir os sensores de velocidade de seus aviões Airbus nas próximas semanas.
Um alerta da Airbus emitido depois do acidente determina que a tripulação deve conservar a potência dos motores e o ângulo correto para manter a aeronave na linha de voo, em caso de condições meteorológicas difíceis. Quando ocorre a quebra do leme de uma aeronave, em condições atmosféricas favoráveis, o controle do avião é quase impraticável. No caso do AF447, teria sido impossível. A despressurização da cabine teria sido causada pela perda do leme, tal como ocorreu com o Boeing 747 do Voo Japan Airlines 123.".
ABSURDO (II)
Um grande democrata, anónimo como são sempre os grandes democratas que apenas vêm com um dos olhos, colocou o seguinte comentário no post de ontem deste blog, que leva o mesmo título:
"Eu considero uma vitória da oposição. A colocação no site da CMM de um ligação externa ao movimento independente “NMMS", à semelhança do que se faz em outras Câmara Municipais, prova que a única oposição em Matosinhos tem espírito e responsabilidade democráticos.
O seu timing prova que quem fala tanto sobre Matosinhos anda distraído com o trabalho que na cidade se faz…a aprovação desta medida em reunião de Câmara tem quase meio ano....
Absurdo passa a ser as perguntas que o meu amigo Magalhães Pinto faz..."
É uma democracia que eu rejeito, com um único argumento que, aliás, já constava do post inicial:
Porque é que não há, na página da Câmara, links semelhantes para as páginas de todas as demais forças representadas no Executivo e na Assembleia Municipal?
E, se o argumento é que estamos apenas a tratar de coisas do executivo, porque é que não há link, pelo menos, para a página do PSD?
E até competente resposta a esta questão, não deixarei de pensar que há um privilégio de uma oposição particular. Porque é que uns são filhos e outros são enteados? Demais a mais, tratando-se de alguém que, durante décadas, deu tratos de polé a todas as oposições que lhe surgiram e, por vezes, mesmo a quem não era oposição.
Portanto, estamos a ver com clareza, qual o conceito de democracia de que é dono o apócrifo e anónimo democrata ousou postar neste blog, blog que procura ser justo e respeitar os direitos de todos. Até o daqueles que se acobertam no sempre cobarde manto do anonimato.
30.5.10
ABSURDO
Alertado por um amigo deste blog, fui ver e quase não queria acreditar.
Na página web da Câmara Municipal de Matosinhos/Autarquia/Executivo, ao fundo, está o link que mostramos abaixo.
A que propósito?
Tratar-se-á de uma filial da Câmara?
Será local de pré-aprovação das decisões camarárias?
Se for só uma associação de que é sócio um dos membros do Executivo, porque é que não estão links para todas as outras agremiações de que são sócios todos os demais membros do Executivo?
Na página web da Câmara Municipal de Matosinhos/Autarquia/Executivo, ao fundo, está o link que mostramos abaixo.
A que propósito?
Tratar-se-á de uma filial da Câmara?
Será local de pré-aprovação das decisões camarárias?
Se for só uma associação de que é sócio um dos membros do Executivo, porque é que não estão links para todas as outras agremiações de que são sócios todos os demais membros do Executivo?
ASTÚRIAS
Uma viagem pictórica pela mais bela província de Espanha - Astúrias - sobre música de dois cantores asturianos: Duo Clarin, de Villaviciosa.
FRASE DO DIA
PENSAMENTO DO DIA
EFEMÉRIDE DO DIA
Neste dia, em 1854, nasceu em Lisboa, o escritor português Wenceslau de Moraes.
Em 1889, viajou até ao Japão, país que o encanta, e onde regressará várias vezes nos anos que se seguem no exercício das suas funções. Em 1897 visita o Japão, na companhia do Governador de Macau, sendo recebido pelo Imperador Meiji. No ano seguinte abandona Atchan e os seus dois filhos, e muda-se definitivamente para o Japão, como cônsul em Kobe. Aí a sua vida é marcada pela sua actividade literária e jornalística, pelas suas relações amorosas com duas japonesas (Ó-Yoné Fukumoto e Ko-Haru) e pela sua crescente "japonização".
Durante os trinta anos que se seguiram Venceslau de Morais tornou-se a grande fonte de informação portuguesa sobre o Oriente, partilhando as suas experiências íntimas do quotidiano japonês com os seus leitores Portugueses, numa actividade paralela à de Lafcádio Hearn, o grande divulgador da cultura nipónica no mundo anglo-saxão, de quem foi contemporâneo.
A sua obra:
1895 - Traços do Extremo Oriente
1897 - Dai-Nippon
1904 - Cartas do Japão (com várias séries e volumes publicados após esta data)
1905 - O culto do chá
1906 - Paisagens da China e do Japão (eBook)
1907 - A vida japonesa
1916 - O "Bon-Odori" em Tokushima
1917 - Ko-Haru
1920 - Fernão Mendes Pinto no Japão
1923 - Ó-Yoné e Ko-Haru
1924 - Relance da história do Japão
1926 - Os serões no Japão
1928 - Relance da alma japonesa
1933 - Osoroshi
Em 1889, viajou até ao Japão, país que o encanta, e onde regressará várias vezes nos anos que se seguem no exercício das suas funções. Em 1897 visita o Japão, na companhia do Governador de Macau, sendo recebido pelo Imperador Meiji. No ano seguinte abandona Atchan e os seus dois filhos, e muda-se definitivamente para o Japão, como cônsul em Kobe. Aí a sua vida é marcada pela sua actividade literária e jornalística, pelas suas relações amorosas com duas japonesas (Ó-Yoné Fukumoto e Ko-Haru) e pela sua crescente "japonização".
Durante os trinta anos que se seguiram Venceslau de Morais tornou-se a grande fonte de informação portuguesa sobre o Oriente, partilhando as suas experiências íntimas do quotidiano japonês com os seus leitores Portugueses, numa actividade paralela à de Lafcádio Hearn, o grande divulgador da cultura nipónica no mundo anglo-saxão, de quem foi contemporâneo.
A sua obra:
1895 - Traços do Extremo Oriente
1897 - Dai-Nippon
1904 - Cartas do Japão (com várias séries e volumes publicados após esta data)
1905 - O culto do chá
1906 - Paisagens da China e do Japão (eBook)
1907 - A vida japonesa
1916 - O "Bon-Odori" em Tokushima
1917 - Ko-Haru
1920 - Fernão Mendes Pinto no Japão
1923 - Ó-Yoné e Ko-Haru
1924 - Relance da história do Japão
1926 - Os serões no Japão
1928 - Relance da alma japonesa
1933 - Osoroshi
29.5.10
FRASE DO DIA
PENSAMENTO DO DIA
No caso da eventual mentira do Primeiro-Ministro sobre a suspensão de Manuela Moura Guedes no Jornal da Sexta, da TVI, já informado por Armando Vara quando o caso se tornou público, o que escandaliza mais não é a eventual mentira de Sócrates, a que já estamos habituados, mas sim como é que Vara soube antes do que ninguém. E escandaliza porque é uma prova circunstacial com enorme força do envolvimento daquela gentalha no celebrado plano para dominar a Comunicação Social.
EFEMÉRIDE DO DIA
Neste dia, em 1265, nasceu o escritor, poeta e político italiano Dante Alighieri.
É considerado o primeiro e maior poeta da língua italiana, definido como o "sumo poeta". Foi muito mais do que apenas um literato: numa época onde apenas os escritos em latim eram valorizados, redigiu um poema, de viés épico e teológico, La Divina Commedia (A Divina Comédia), que se tornou a base da língua italiana moderna e culmina a afirmação do modo medieval de entender o mundo e é considerada uma obra prima da Humanidade.
É considerado o primeiro e maior poeta da língua italiana, definido como o "sumo poeta". Foi muito mais do que apenas um literato: numa época onde apenas os escritos em latim eram valorizados, redigiu um poema, de viés épico e teológico, La Divina Commedia (A Divina Comédia), que se tornou a base da língua italiana moderna e culmina a afirmação do modo medieval de entender o mundo e é considerada uma obra prima da Humanidade.
28.5.10
FRASE DO DIA
PENSAMENTO DO DIA
EFEMÉRIDE DO DIA
Neste dia, em 1357, faleceu o rei D. Afonso IV, de Portugal.
A última parte do reinado de Afonso IV foi marcada por intriga política e conflitos internos em grande parte devidos à presença em solo português de refugiados da guerra civil entre Pedro I de Castela e seu meio irmão Henrique da Trastâmara. Entre os exilados contavam-se vários nobres, habituados ao poder, que cedo criaram a sua própria facção dentro da Corte portuguesa. Quando Inês de Castro se torna amante do príncipe herdeiro Pedro, os nobres castelhanos cresceram em poder e favor real. Afonso IV não ficou agradado com o favoritismo concedidos aos castelhanos e procurou de várias formas afastar Inês do filho. Sem sucesso, porque Pedro assumiu tanto a relação com a castelhana, como os filhos ilegítimos que dela teve, acrescentando em 1349 a recusa de tornar a casar com outra que não ela. Com o passar dos anos, Afonso IV perdeu o controle da situação, a facção castelhana e Inês aumentavam o seu poder, enquanto que o único filho legítimo de Pedro, o futuro rei Fernando, crescia como uma criança doente. Preocupado com a vida do único neto que reconhecia e com o acréscimo de poder estrangeiro dentro de fronteiras, Afonso IV ordena a morte de Inês de Castro em 1355. Ao contrário do que esperava, o seu filho não se aproximou de si. Perdendo a cabeça, Pedro entrou em guerra aberta contra o pai e saqueou a região do Entre-Douro-e-Minho. A reconciliação chegou apenas em 1357 e Afonso IV morreu pouco tempo depois.
A última parte do reinado de Afonso IV foi marcada por intriga política e conflitos internos em grande parte devidos à presença em solo português de refugiados da guerra civil entre Pedro I de Castela e seu meio irmão Henrique da Trastâmara. Entre os exilados contavam-se vários nobres, habituados ao poder, que cedo criaram a sua própria facção dentro da Corte portuguesa. Quando Inês de Castro se torna amante do príncipe herdeiro Pedro, os nobres castelhanos cresceram em poder e favor real. Afonso IV não ficou agradado com o favoritismo concedidos aos castelhanos e procurou de várias formas afastar Inês do filho. Sem sucesso, porque Pedro assumiu tanto a relação com a castelhana, como os filhos ilegítimos que dela teve, acrescentando em 1349 a recusa de tornar a casar com outra que não ela. Com o passar dos anos, Afonso IV perdeu o controle da situação, a facção castelhana e Inês aumentavam o seu poder, enquanto que o único filho legítimo de Pedro, o futuro rei Fernando, crescia como uma criança doente. Preocupado com a vida do único neto que reconhecia e com o acréscimo de poder estrangeiro dentro de fronteiras, Afonso IV ordena a morte de Inês de Castro em 1355. Ao contrário do que esperava, o seu filho não se aproximou de si. Perdendo a cabeça, Pedro entrou em guerra aberta contra o pai e saqueou a região do Entre-Douro-e-Minho. A reconciliação chegou apenas em 1357 e Afonso IV morreu pouco tempo depois.
27.5.10
FRASE DO DIA
PENSAMENTO DO DIA
CRÓNICA DA SEMANA
TRABALHO OU SALÁRIO?
O país vai ter que encarar, a curto prazo, um dilema terrível. Normalmente, numa situação como a presente, em que aumentar rapidamente as exportações é mais necessário do que pão para a boca, agir-se-ia como tantas vezes o fizemos já no período subsequente à revolução de Abril. Desvalorizávamos a moeda, com um triplo efeito favorável sobre a balança de pagamentos e, por isso, sobre a nossa capacidade de crédito no exterior:
- os produtos importados ficariam mais caros, consumir-se-iam menos e importar-se-ia menos, substituindo-se o consumo de produtos importados por produtos nacionais;
- os produtos nacionais ficavam mais baratos ao exterior, exportar-se-iam mais e produzir-se-ia mais;
- um e outro efeito a potenciar a capacidade de emprego da economia nacional, a reduzir os subsídios aos parados e, por essa via, a dar uma ajuda ao orçamento do Estado.
Acontece que não podemos desvalorizar a moeda nas circunstâncias actuais. Usamos a mesma moeda que mais uma mão cheia de países europeus e está-nos vedada a desvalorização unilateral, devendo aguentar a falta de competitividade que a produção nacional apresenta face à produção exterior. Deteriorado o crédito que merecíamos, fica-nos uma única alternativa (dizer “única” em economia é sempre um atrevimento, mas eu atrevo-me) para reequilibrar as coisas. Temos de ganhar competitividade por outro modo que não a desvalorização da moeda, porque esta é impossível (outro atrevimento: dizer “impossível”; é sempre possível). Se o não conseguirmos, o Euro desaparecerá da nossa vista, seja porque somos expulsos da União, seja porque ele pura e simplesmente acaba.
Porque é imperioso o ganho de competitividade é que se vem falando de reduzir os salários. Não é necessária grande abstracção para ver que reduzir os salários é um outro modo de ver a desvalorização da moeda. Só que a medida importa grandes riscos. É uma das consequências de a economia ser uma balança múltipla, com muitos pratos. Por isso, de equilíbrio difícil, podendo-se mesmo afirmar que o equilíbrio perfeito nunca é atingido. É tão só um objectivo permanentemente fugaz, que se vai procurando atingir mexendo nas componentes que repousam em cada prato, tentando com que o fiel se mova o menos possível. Vamos ver de onde vem a perigosidade da redução dos salários.
Com menores salários, as pessoas compram menos. De produtos importados porque estes, tendo o mesmo preço, se confrontam agora com bolsos dos consumidores mais vazios. Cá está a similitude, neste domínio, com a desvalorização da moeda; também acima este efeito era conseguido. Os produtos nacionais, em princípio, não deveriam conhecer redução. Também ficam, agora, mais baratos e o seu preço deveria descer, permitindo que as mesmas quantidades fossem escoadas no mercado. Mas há efeitos perversos possíveis. O primeiro é que o volume monetário das transacções será menor, em caso de redução de salários. E, sendo menor o volume monetário das transacções, o Estado arrecada menos impostos. Isto é, o Orçamento do Estado tende a desequilibrar-se ainda mais, chamando a maior pagamento de impostos por parte de bolsas agora menos recheadas. Com efeitos na redução do consumo, agravando-a. Deixando, cada vez mais, mais gente no desemprego, mais gente a comprar menos, logo menos produção necessária, logo mais desemprego, logo mais subsídios, logo mais desequilíbrio nas contas do Estado, logo mais impostos, etc.. Numa espiral sem fim, de dramáticas consequências. Podendo acontecer – e esta é a segunda perversão possível - que a redução dos salários não tenha reflexos imediatos sobre os preços, baixando-os. Reduzindo, também por esta via, o consumo. Com os mesmos efeitos já analisados imediatamente atrás.
Parece, pois, que temos diante de nós, a quadratura do círculo. Problema perante o qual cruzar os braços é a mais trágica das atitudes. Aí sim, pode ser “impossível” qualquer recuperação até termos atingido patamares de miséria inaceitável. Daí que deva ser colocada aos portugueses a seguinte questão:
- Estão os portugueses dispostos a trabalhar mais pelo mesmo preço, a fim de não verem os seus salários reduzidos?
É que esta é uma alternativa para responder à questão essencial colocada lá mais acima: temos de ganhar competitividade, custe lá o que custar. Com mais trabalho, produz-se mais. Como se ganha o mesmo, o custo da produção é menor. Como o custo é menor, o preço pode ser menor. Se o preço for menor, pode-se comprar mais no interior do país e exportar mais. Se se comprar mais, terá de produzir-se mais. Se tem que produzir-se mais, terão de empregar-se recursos, incluindo o humano, desempregados. E é bom de ver que – não excluindo algumas perversões que este método pode gerar, mas menos arriscadas – que a espiral começa agora a funcionar ao contrário. É como se, tendo uma nora que procurava colher água em cima para a despejar em baixo do poço, lhe invertêssemos o movimento para fazer precisamente o contrário.
Creio que é possível quantificar o efeito de uma atitude deste género, pelo menos teoricamente. Imagine-se que cada um de nós estaria na disposição de, pelo mesmo salário, trabalhar mais uma hora por dia. Cinco horas por semana. Isto é, mais cerca de 12% mais. O efeito directo compreendido nesta medida seria equivalente a desvalorizar os salários em 12%. Mas quase estou seguro de que as pessoas preferirão dar a hora diária de trabalho, em lugar de receberem menos 12% ao fim do mês. E o país – que é o mesmo que dizer “a nossa economia” – ganharia milhões de horas de trabalho semanal gratuito, com os correspondentes reflexos na produção.
Perguntar-me-á o Leitor não especialista: mas como é que, se trabalhar uma hora mais 12% é equivalente a reduzir os salários 12%, os efeitos são diferentes? E a resposta é simples. É que uma coisa é a moeda, outra coisa é a realidade que ela traduz. Um quilo de batatas custa um Euro. Parece que o Euro e o quilo de batatas são a mesma coisa. Mas não são, meu caro Leitor. As batatas come-as e o Euro não. E, enquanto um quilo de batatas será sempre um quilo de batatas, o Euro pode ser hoje um quilo de batatas mas, amanhã, poderá ser mais ou menos do que um quilo de batatas, sem que tenha mudado o tempo de trabalho necessário à produção respectiva. Isto é, reduzir salários é estar a pensar apenas na moeda. Mexer no tempo de trabalho é estar a pensar na realidade das coisas.
Gostaria de ver os portugueses a discutir este fenómeno. Já passou a hora de discutir o Governo. Está morto, cadáver a boiar ao sabor da corrente no rio dos desenganos. A seu tempo, irá embora. Mais premente agora é encontrar soluções.
Magalhães Pinto, em VIDA ECONOMICA, em 27/5/2010
O país vai ter que encarar, a curto prazo, um dilema terrível. Normalmente, numa situação como a presente, em que aumentar rapidamente as exportações é mais necessário do que pão para a boca, agir-se-ia como tantas vezes o fizemos já no período subsequente à revolução de Abril. Desvalorizávamos a moeda, com um triplo efeito favorável sobre a balança de pagamentos e, por isso, sobre a nossa capacidade de crédito no exterior:
- os produtos importados ficariam mais caros, consumir-se-iam menos e importar-se-ia menos, substituindo-se o consumo de produtos importados por produtos nacionais;
- os produtos nacionais ficavam mais baratos ao exterior, exportar-se-iam mais e produzir-se-ia mais;
- um e outro efeito a potenciar a capacidade de emprego da economia nacional, a reduzir os subsídios aos parados e, por essa via, a dar uma ajuda ao orçamento do Estado.
Acontece que não podemos desvalorizar a moeda nas circunstâncias actuais. Usamos a mesma moeda que mais uma mão cheia de países europeus e está-nos vedada a desvalorização unilateral, devendo aguentar a falta de competitividade que a produção nacional apresenta face à produção exterior. Deteriorado o crédito que merecíamos, fica-nos uma única alternativa (dizer “única” em economia é sempre um atrevimento, mas eu atrevo-me) para reequilibrar as coisas. Temos de ganhar competitividade por outro modo que não a desvalorização da moeda, porque esta é impossível (outro atrevimento: dizer “impossível”; é sempre possível). Se o não conseguirmos, o Euro desaparecerá da nossa vista, seja porque somos expulsos da União, seja porque ele pura e simplesmente acaba.
Porque é imperioso o ganho de competitividade é que se vem falando de reduzir os salários. Não é necessária grande abstracção para ver que reduzir os salários é um outro modo de ver a desvalorização da moeda. Só que a medida importa grandes riscos. É uma das consequências de a economia ser uma balança múltipla, com muitos pratos. Por isso, de equilíbrio difícil, podendo-se mesmo afirmar que o equilíbrio perfeito nunca é atingido. É tão só um objectivo permanentemente fugaz, que se vai procurando atingir mexendo nas componentes que repousam em cada prato, tentando com que o fiel se mova o menos possível. Vamos ver de onde vem a perigosidade da redução dos salários.
Com menores salários, as pessoas compram menos. De produtos importados porque estes, tendo o mesmo preço, se confrontam agora com bolsos dos consumidores mais vazios. Cá está a similitude, neste domínio, com a desvalorização da moeda; também acima este efeito era conseguido. Os produtos nacionais, em princípio, não deveriam conhecer redução. Também ficam, agora, mais baratos e o seu preço deveria descer, permitindo que as mesmas quantidades fossem escoadas no mercado. Mas há efeitos perversos possíveis. O primeiro é que o volume monetário das transacções será menor, em caso de redução de salários. E, sendo menor o volume monetário das transacções, o Estado arrecada menos impostos. Isto é, o Orçamento do Estado tende a desequilibrar-se ainda mais, chamando a maior pagamento de impostos por parte de bolsas agora menos recheadas. Com efeitos na redução do consumo, agravando-a. Deixando, cada vez mais, mais gente no desemprego, mais gente a comprar menos, logo menos produção necessária, logo mais desemprego, logo mais subsídios, logo mais desequilíbrio nas contas do Estado, logo mais impostos, etc.. Numa espiral sem fim, de dramáticas consequências. Podendo acontecer – e esta é a segunda perversão possível - que a redução dos salários não tenha reflexos imediatos sobre os preços, baixando-os. Reduzindo, também por esta via, o consumo. Com os mesmos efeitos já analisados imediatamente atrás.
Parece, pois, que temos diante de nós, a quadratura do círculo. Problema perante o qual cruzar os braços é a mais trágica das atitudes. Aí sim, pode ser “impossível” qualquer recuperação até termos atingido patamares de miséria inaceitável. Daí que deva ser colocada aos portugueses a seguinte questão:
- Estão os portugueses dispostos a trabalhar mais pelo mesmo preço, a fim de não verem os seus salários reduzidos?
É que esta é uma alternativa para responder à questão essencial colocada lá mais acima: temos de ganhar competitividade, custe lá o que custar. Com mais trabalho, produz-se mais. Como se ganha o mesmo, o custo da produção é menor. Como o custo é menor, o preço pode ser menor. Se o preço for menor, pode-se comprar mais no interior do país e exportar mais. Se se comprar mais, terá de produzir-se mais. Se tem que produzir-se mais, terão de empregar-se recursos, incluindo o humano, desempregados. E é bom de ver que – não excluindo algumas perversões que este método pode gerar, mas menos arriscadas – que a espiral começa agora a funcionar ao contrário. É como se, tendo uma nora que procurava colher água em cima para a despejar em baixo do poço, lhe invertêssemos o movimento para fazer precisamente o contrário.
Creio que é possível quantificar o efeito de uma atitude deste género, pelo menos teoricamente. Imagine-se que cada um de nós estaria na disposição de, pelo mesmo salário, trabalhar mais uma hora por dia. Cinco horas por semana. Isto é, mais cerca de 12% mais. O efeito directo compreendido nesta medida seria equivalente a desvalorizar os salários em 12%. Mas quase estou seguro de que as pessoas preferirão dar a hora diária de trabalho, em lugar de receberem menos 12% ao fim do mês. E o país – que é o mesmo que dizer “a nossa economia” – ganharia milhões de horas de trabalho semanal gratuito, com os correspondentes reflexos na produção.
Perguntar-me-á o Leitor não especialista: mas como é que, se trabalhar uma hora mais 12% é equivalente a reduzir os salários 12%, os efeitos são diferentes? E a resposta é simples. É que uma coisa é a moeda, outra coisa é a realidade que ela traduz. Um quilo de batatas custa um Euro. Parece que o Euro e o quilo de batatas são a mesma coisa. Mas não são, meu caro Leitor. As batatas come-as e o Euro não. E, enquanto um quilo de batatas será sempre um quilo de batatas, o Euro pode ser hoje um quilo de batatas mas, amanhã, poderá ser mais ou menos do que um quilo de batatas, sem que tenha mudado o tempo de trabalho necessário à produção respectiva. Isto é, reduzir salários é estar a pensar apenas na moeda. Mexer no tempo de trabalho é estar a pensar na realidade das coisas.
Gostaria de ver os portugueses a discutir este fenómeno. Já passou a hora de discutir o Governo. Está morto, cadáver a boiar ao sabor da corrente no rio dos desenganos. A seu tempo, irá embora. Mais premente agora é encontrar soluções.
Magalhães Pinto, em VIDA ECONOMICA, em 27/5/2010
EFEMÉRIDE DO DIA
26.5.10
ÉTICA NA POLÍTICA
CONVITE
O Lions Clube de Matosinhos têm a honra de convidar V. Exa. para a conferência ÉTICA NA POLÍTICA, a proferir pelo Exmo. Sr. Dr. ANTÓNIO LOBO XAVIER, Ilustre Advogado, Empresário e Ex-Deputado, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Matosinhos no dia 26 de Maio de 2010, às 21,30 horas.
A referida conferência insere-se no Ciclo de Conferências “A Ética e o Homem”, promovido pelo Lions Clube de Matosinhos em colaboração com a Câmara Municipal de Matosinhos, que versa, dentro desta primeira fase, os domínios da Advocacia, da Medicina, da Política, da Comunicação Social e dos Negócios.
ENTRADA LIVRE
FRASE DO DIA
PENSAMENTO DO DIA
RECORDAR É VIVER
Inglaterra 1966. Campeonato do mundo de futebol. Portugal 3 - Brasil 1. 2 golos de Eusébio e um de Simões.
EFEMÉRIDE DO DIA
Neste dia, em 1877, nasceu a bailarina americana Isadora Duncan.
Considerada a pioneira da dança moderna, causou polêmica ao ignorar todas as técnicas do balé clássico. Sua dança foi inspirada pelas figuras das dançarinas nos vasos gregos encontrados, segundo algumas fontes, no Museu do Louvre; já outras fontes informam que tais vasos foram vistos pela bailarina no museu britânico.
Sua proposta de dança era algo completamente diferente do usual, com movimentos improvisados, inspirados, também, nos movimentos da natureza: vento, plantas, entre outros. Os cabelos meio soltos e os pés descalços também faziam parte da personalidade profissional da dançarina. Sua vestimenta era leve, eram túnicas, assim como as das figuras dos vasos gregos. O cenário simples, era composto apenas por uma cortina azul. Outro ponto forte na dança de Isadora é que ela utilizava músicas até então tidas apenas como para apreciação auditiva. Ela dançava ao som de Chopin e Wagner e a expressividade pessoal e improvisação estavam sempre presentes no seu estilo.
Considerada a pioneira da dança moderna, causou polêmica ao ignorar todas as técnicas do balé clássico. Sua dança foi inspirada pelas figuras das dançarinas nos vasos gregos encontrados, segundo algumas fontes, no Museu do Louvre; já outras fontes informam que tais vasos foram vistos pela bailarina no museu britânico.
Sua proposta de dança era algo completamente diferente do usual, com movimentos improvisados, inspirados, também, nos movimentos da natureza: vento, plantas, entre outros. Os cabelos meio soltos e os pés descalços também faziam parte da personalidade profissional da dançarina. Sua vestimenta era leve, eram túnicas, assim como as das figuras dos vasos gregos. O cenário simples, era composto apenas por uma cortina azul. Outro ponto forte na dança de Isadora é que ela utilizava músicas até então tidas apenas como para apreciação auditiva. Ela dançava ao som de Chopin e Wagner e a expressividade pessoal e improvisação estavam sempre presentes no seu estilo.
25.5.10
ÉTICA NA POLÍTICA
CONVITE
O Lions Clube de Matosinhos têm a honra de convidar V. Exa. para a conferência ÉTICA NA POLÍTICA, a proferir pelo Exmo. Sr. Dr. ANTÓNIO LOBO XAVIER, Ilustre Advogado, Empresário e Ex-Deputado, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Matosinhos no dia 26 de Maio de 2010, às 21,30 horas.
A referida conferência insere-se no Ciclo de Conferências “A Ética e o Homem”, promovido pelo Lions Clube de Matosinhos em colaboração com a Câmara Municipal de Matosinhos, que versa, dentro desta primeira fase, os domínios da Advocacia, da Medicina, da Política, da Comunicação Social e dos Negócios.
ENTRADA LIVRE
FRASE DO DIA
MEMÓRIA
A ÚLTIMA OPORTUNIDADE
Quando ouvi a notícia, tive, quase sem querer, a exclamação da noiva da anedota: “Oh! Não! Não outra vez!”. Por ordem do Governo, o Estado concedia, pela terceira vez, a última oportunidade aos contribuintes relapsos para regularizarem as suas contas com o Fisco. Num diploma legal que deveria ser escrito em inglês. Porque esta língua tem uma expressão que traduz, na perfeição, a situação. “Last, but not the least”. A última oportunidade até agora, mas não a última oportunidade de todas. Por ela, os Contribuintes com dívidas ao Fisco, poderão regularizar, até 31 de Dezembro próximo, as suas contas, sem pagar juros de mora e com coimas reduzidas a uma insignificância.
Para além de pequenas oportunidades, os Contribuintes dispuseram, com esta, de três oportunidades semelhantes. Uma com Eduardo Catroga, Outra com Augusto Mateus. E, agora, outra com Manuela Ferreira Leite. Embora compreendendo porque é que o Estado faz isto, tenho que discordar desta atitude assumida pelo Governo. Por várias razões.
Em primeiro lugar, sempre que o Estado toma uma atitude destas está a dizer, alto e bom som, que não é capaz de cobrar aquilo que lhe devem. De algum modo, o Estado, apesar de todo o seu poder, mostra-se mais incapaz do que uma mercearia de bairro. A qual, com mais trabalho ou menos trabalho, ainda é capaz de ir cobrando os assentos do papel costaneira. Esta afirmação de incapacidade faz mais pelo crescimento das dívidas e da própria evasão fiscal do que qualquer outra razão. Sentindo que o Estado é totalmente incapaz seja de apanhar quem deve pagar-lhe, seja sequer de receber daqueles que confessam dever-lhe, novos contribuintes vão engrossando a legião dos que já não pagam em qualquer circunstância. Mesmo tendo por muito difícil tal cobrança, o Estado nunca devia confessar-se incapaz de o fazer.
Em segundo lugar, é bom de ver que o anúncio da “última oportunidade”, se reiterada, descredibiliza totalmente a afirmação. Seria preferível que o Governo nem sequer se referisse à “última oportunidade”. Se nada dissesse, a medida poderia ser levada à conta de generosidade. Mas ao afirmar que está a conceder uma última oportunidade, depois de já ter sido anunciada esta, por duas vezes, anteriormente, o Estado está a cair no mais profundo ridículo. É óbvio que esta não vai ser nada a última oportunidade. E, sabedor disso, o contribuinte relapso vai pura e simplesmente aguardar a próxima “última oportunidade”. E mesmo o contribuinte que até agora teve as suas contas em dia, vai pensar duas vezes se não é melhor deixar-se atrasar. Não há consequências, pensará ele. E, desde já, todos aqueles que tiverem obrigações em Novembro e Dezembro, vão deixar arrastar o pagamento. Afinal, podem pagar o que devem já depois das festas. Com o que sobrar.
Em terceiro lugar, a publicação, outra vez, de uma medida assim é de uma profunda imoralidade. Porque constitui uma prémio imerecido para os incumpridores. Porque constitui, por oposição, um castigo ainda menos merecido para aqueles que cumprem.
Esta é, porventura, uma das maiores aberrações deste Portugal mediano que vamos vivendo. Parece que ser cumpridor é um anátema. Sistematicamente, assistimos à defesa dos incumpridores, dos “criminosos”. E não é apenas no domínio fiscal. Mas também neste. O crime compensa, em termos fiscais. Ou porque não temos capacidade para perseguir os que se evadem às suas obrigações sociais. Ou porque não somos capazes de fazer os devedores cumprirem. Ou mesmo porque deixamos prescever as dívidas dos que não pagam. E. periodicamente, lá vem mais um benefício para esses. Corremos a legislação e não vemos uma, uma só lei que proteja os cumpridores. Pelo contrário. O fisco parte do princípio que só há incumpridores e, quando um inocente protesta ou recorre, é tratado como mais um incumpridor. Para quando medidas que facilitem a vida àqueles que – mesmo que seja por não terem outro remédio – têm as suas obrigações para com o fisco em dia?
Há que tornar a vida impossível a quem não paga os seus impostos. E facilitar a vida a quem cumpre as suas obrigações. Esta tem que ser a perspectiva do Estado. Enquanto assim não for, estaremos cada vez mais tramados, os que cumprem. E Portugal inteiro por tabela. Neste grande clube que Portugal é, um associado que não tenha as cotas em dia não pode usar as instalações do Clube. Para quando um número apenas de cidadão que, simultâneamente, sirva para bilhete de identidade, para número de contribuinte e para beneficiário da segurança social? Permitindo assim um controlo apertado. Para quando situação fiscal toda regularizada e uma base de dados aonde todos constem e que tão só diga se um cidadão tem as suas contas com o Estado (que somos todos nós) em dia ou não? Fazem-se cartões por tudo e por nada, porque é que não há um cartão do cidadão cumpridor para com o fisco? Com preços mais baratos nos serviços do Estado, com prioridade no obtenção dos documentos oficiais, com presunção de razão em qualquer reclamação? Repito: temos que tornar a vida dos incumpridores num inferno. Querem uma certidão? Demora séculos ou não a têm enquanto não regularizarem a situação com o fisco. Precisam do Bilhete de Identidade? Não há enquanto não regularizarem a sua situação com o Fisco. Uma empresa precisa de instalar uma potência nova no seu sistema elétrico? Não há enquanto não regularizar a sua situação con o Fisco. No limite, um cidadão quer votar? Não pode se não tiver a sua situiação regularizada com o Fisco. Enquanto infernizarmos os cumpridores e facilitarmos a vida dos incumpridores só estaremos a aumentar incomensuravelmente a legião destes últimos. Se infernizarmos a vida dos incumpridores e, por tabela, dos evasores fiscais, então sim, eles teráo tido a sua última oportunidade.
O diploma agora publicado levanta ainda situações de injustiça gritantes, em relação a planos de recuperação anteriores. Vejamos só, para exemplo, a comparação da situação criada com a de um contribuinte que tenha subscrito o Plano Mateus (convencido de que era a sua “última oportunidade”. Durante seis anos, um tal contribuinte pagou religiosamente, e sabe-se lá com que sacrifício, as suas prestações. Em cada uma delas, uma fatia nada dispicienda de juros contabilizados. A uma taxa bastante elevada para a situação actual. Muito bem. Se não tivesse aderido ao Plano Mateus, não teria pago prestações, não teria pago juros e teria agora a oportunidade de pagar, seis anos depois, a sua dívida sem juros e com uma coima mínima. Diz o Secretário de Estado que os subscritores do Plano Mateus podem agora recorrer ao novo regime, até 31 de Dezembro. Mas não é isso que está em causa. Para isso não seria necessária nenhuma lei. O contribuinte já o podia fazer. O que está em causa são os juros que, há seis longos anos, esse contribuinte cumpridor vem a pagar. Ele cumpridor, paga juros. O de agora, o incumpridor, não paga. Não podia haver absurdo maior. Tão grande que admito mesmo que só há uma maneira de o Estado se redimir. Qual é, para os Contribuintes que desejarem arrumar com o pagamento dos seus Planos Mateus, verem deduzida à dívida vincenda, os juros pagos desde o início dos pagamentos. Não fazer pelo menos isto, é a definitiva consagração do incumprimento, da trapaça, da falta de civismo, da justiça, da ética. E, se assim for, o Estado não merece ter um único, um só, contribuinte cumpridor.
Como corolário da última ideia expendida, uma outra que talvez dê origem à última oportunidade. Só haverá realmente uma última oportunidade para aqueles que não cumprem quando os que cumprem se levantarem a uma só voz e disserem que não pagam nem mais um tostão ao fisco enquanto houver leis do jaez da que aqui comentei.
Magalhães Pinto, em VIDA ECONÓMICA, em 5/11/2002
Quando ouvi a notícia, tive, quase sem querer, a exclamação da noiva da anedota: “Oh! Não! Não outra vez!”. Por ordem do Governo, o Estado concedia, pela terceira vez, a última oportunidade aos contribuintes relapsos para regularizarem as suas contas com o Fisco. Num diploma legal que deveria ser escrito em inglês. Porque esta língua tem uma expressão que traduz, na perfeição, a situação. “Last, but not the least”. A última oportunidade até agora, mas não a última oportunidade de todas. Por ela, os Contribuintes com dívidas ao Fisco, poderão regularizar, até 31 de Dezembro próximo, as suas contas, sem pagar juros de mora e com coimas reduzidas a uma insignificância.
Para além de pequenas oportunidades, os Contribuintes dispuseram, com esta, de três oportunidades semelhantes. Uma com Eduardo Catroga, Outra com Augusto Mateus. E, agora, outra com Manuela Ferreira Leite. Embora compreendendo porque é que o Estado faz isto, tenho que discordar desta atitude assumida pelo Governo. Por várias razões.
Em primeiro lugar, sempre que o Estado toma uma atitude destas está a dizer, alto e bom som, que não é capaz de cobrar aquilo que lhe devem. De algum modo, o Estado, apesar de todo o seu poder, mostra-se mais incapaz do que uma mercearia de bairro. A qual, com mais trabalho ou menos trabalho, ainda é capaz de ir cobrando os assentos do papel costaneira. Esta afirmação de incapacidade faz mais pelo crescimento das dívidas e da própria evasão fiscal do que qualquer outra razão. Sentindo que o Estado é totalmente incapaz seja de apanhar quem deve pagar-lhe, seja sequer de receber daqueles que confessam dever-lhe, novos contribuintes vão engrossando a legião dos que já não pagam em qualquer circunstância. Mesmo tendo por muito difícil tal cobrança, o Estado nunca devia confessar-se incapaz de o fazer.
Em segundo lugar, é bom de ver que o anúncio da “última oportunidade”, se reiterada, descredibiliza totalmente a afirmação. Seria preferível que o Governo nem sequer se referisse à “última oportunidade”. Se nada dissesse, a medida poderia ser levada à conta de generosidade. Mas ao afirmar que está a conceder uma última oportunidade, depois de já ter sido anunciada esta, por duas vezes, anteriormente, o Estado está a cair no mais profundo ridículo. É óbvio que esta não vai ser nada a última oportunidade. E, sabedor disso, o contribuinte relapso vai pura e simplesmente aguardar a próxima “última oportunidade”. E mesmo o contribuinte que até agora teve as suas contas em dia, vai pensar duas vezes se não é melhor deixar-se atrasar. Não há consequências, pensará ele. E, desde já, todos aqueles que tiverem obrigações em Novembro e Dezembro, vão deixar arrastar o pagamento. Afinal, podem pagar o que devem já depois das festas. Com o que sobrar.
Em terceiro lugar, a publicação, outra vez, de uma medida assim é de uma profunda imoralidade. Porque constitui uma prémio imerecido para os incumpridores. Porque constitui, por oposição, um castigo ainda menos merecido para aqueles que cumprem.
Esta é, porventura, uma das maiores aberrações deste Portugal mediano que vamos vivendo. Parece que ser cumpridor é um anátema. Sistematicamente, assistimos à defesa dos incumpridores, dos “criminosos”. E não é apenas no domínio fiscal. Mas também neste. O crime compensa, em termos fiscais. Ou porque não temos capacidade para perseguir os que se evadem às suas obrigações sociais. Ou porque não somos capazes de fazer os devedores cumprirem. Ou mesmo porque deixamos prescever as dívidas dos que não pagam. E. periodicamente, lá vem mais um benefício para esses. Corremos a legislação e não vemos uma, uma só lei que proteja os cumpridores. Pelo contrário. O fisco parte do princípio que só há incumpridores e, quando um inocente protesta ou recorre, é tratado como mais um incumpridor. Para quando medidas que facilitem a vida àqueles que – mesmo que seja por não terem outro remédio – têm as suas obrigações para com o fisco em dia?
Há que tornar a vida impossível a quem não paga os seus impostos. E facilitar a vida a quem cumpre as suas obrigações. Esta tem que ser a perspectiva do Estado. Enquanto assim não for, estaremos cada vez mais tramados, os que cumprem. E Portugal inteiro por tabela. Neste grande clube que Portugal é, um associado que não tenha as cotas em dia não pode usar as instalações do Clube. Para quando um número apenas de cidadão que, simultâneamente, sirva para bilhete de identidade, para número de contribuinte e para beneficiário da segurança social? Permitindo assim um controlo apertado. Para quando situação fiscal toda regularizada e uma base de dados aonde todos constem e que tão só diga se um cidadão tem as suas contas com o Estado (que somos todos nós) em dia ou não? Fazem-se cartões por tudo e por nada, porque é que não há um cartão do cidadão cumpridor para com o fisco? Com preços mais baratos nos serviços do Estado, com prioridade no obtenção dos documentos oficiais, com presunção de razão em qualquer reclamação? Repito: temos que tornar a vida dos incumpridores num inferno. Querem uma certidão? Demora séculos ou não a têm enquanto não regularizarem a situação com o fisco. Precisam do Bilhete de Identidade? Não há enquanto não regularizarem a sua situação com o Fisco. Uma empresa precisa de instalar uma potência nova no seu sistema elétrico? Não há enquanto não regularizar a sua situação con o Fisco. No limite, um cidadão quer votar? Não pode se não tiver a sua situiação regularizada com o Fisco. Enquanto infernizarmos os cumpridores e facilitarmos a vida dos incumpridores só estaremos a aumentar incomensuravelmente a legião destes últimos. Se infernizarmos a vida dos incumpridores e, por tabela, dos evasores fiscais, então sim, eles teráo tido a sua última oportunidade.
O diploma agora publicado levanta ainda situações de injustiça gritantes, em relação a planos de recuperação anteriores. Vejamos só, para exemplo, a comparação da situação criada com a de um contribuinte que tenha subscrito o Plano Mateus (convencido de que era a sua “última oportunidade”. Durante seis anos, um tal contribuinte pagou religiosamente, e sabe-se lá com que sacrifício, as suas prestações. Em cada uma delas, uma fatia nada dispicienda de juros contabilizados. A uma taxa bastante elevada para a situação actual. Muito bem. Se não tivesse aderido ao Plano Mateus, não teria pago prestações, não teria pago juros e teria agora a oportunidade de pagar, seis anos depois, a sua dívida sem juros e com uma coima mínima. Diz o Secretário de Estado que os subscritores do Plano Mateus podem agora recorrer ao novo regime, até 31 de Dezembro. Mas não é isso que está em causa. Para isso não seria necessária nenhuma lei. O contribuinte já o podia fazer. O que está em causa são os juros que, há seis longos anos, esse contribuinte cumpridor vem a pagar. Ele cumpridor, paga juros. O de agora, o incumpridor, não paga. Não podia haver absurdo maior. Tão grande que admito mesmo que só há uma maneira de o Estado se redimir. Qual é, para os Contribuintes que desejarem arrumar com o pagamento dos seus Planos Mateus, verem deduzida à dívida vincenda, os juros pagos desde o início dos pagamentos. Não fazer pelo menos isto, é a definitiva consagração do incumprimento, da trapaça, da falta de civismo, da justiça, da ética. E, se assim for, o Estado não merece ter um único, um só, contribuinte cumpridor.
Como corolário da última ideia expendida, uma outra que talvez dê origem à última oportunidade. Só haverá realmente uma última oportunidade para aqueles que não cumprem quando os que cumprem se levantarem a uma só voz e disserem que não pagam nem mais um tostão ao fisco enquanto houver leis do jaez da que aqui comentei.
Magalhães Pinto, em VIDA ECONÓMICA, em 5/11/2002
24.5.10
FRASE DO DIA
PENSAMENTO DO DIA
Só há, em José Mourinho, uma coisa maior do que a sua competência: é o seu ego! Antes da final, um jornalista perguntou-lhe se a vitória seria sua, se ganhassem. E ele respondeu que se ganhassem, a vitória seria de toda a equipa; e se perdessem, a derrota seria de uma parte da equipa. Está mesmo a ver-se qual era a parte da equipa que não seria derrotada, não está?
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