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1.9.08

CRÓNICA DA SEMANA (I)

A Juventude Social-Democrata de Matosinhos afixou por aí um cartaz com nítidas influências de um desporto que é chamado nobre mas que não passa de uma bestialidade. O boxe. Nesse cartaz, e sob a legenda visível de “Regresso ao Passado” - a qual, aliás, prima por falta de originalidade - coloca o actual Presidente da Câmara de Matosinhos e o anterior em atitude belicosa recíproca, preparados para se esmurrarem um ao outro. Devo dizer que acho o cartaz de muito mau gosto, para não dizer que não passa de uma criancice.

Talvez por serem demasiado jovens, os juvenis do PSD não sabem que o fundador do Partido e ainda hoje a sua maior memória, Francisco Sá Carneiro, costumava dizer que a política sem ética não tinha nada de nobre. Criados num ambiente político onde pulula gente que não sabe fazer mais nada e que tem poucos escrúpulos, um ambiente político onde as agressões verbais são diárias e violentas, um ambiente político onde os adversários se insultam com a facilidade de quem toma um café, estão já conspurcados por ele. Não vão longe. De um golpe, meteram no mesmo saco quem não é comparável. De algum modo, são muito parecidos com um dos contendores que pretenderam retratar no referido cartaz. E, provavelmente, com poucos ou nenhuns resultados políticos. O Povo que eles, ingenuamente, dizem procurar servir, não gosta da cacetada. E entre o boxe e a cacetada, não há grande diferença.

Acho que tenho perdido muito do meu tempo a pronunciar-me sobre estas coisas. Provavelmente, não é possível ir além daquilo que temos. Quando jovens, que se pretende sejam os condutores do nosso país a diferentes níveis, se comportam deste modo, poucas ou nenhumas esperanças restam. Quase todo o meu combate político no município teve por objecto denunciar a podridão ética em que se vivia, com golpes traiçoeiros desferidos por gente para quem nada importava a não ser os objectivos. Ou melhor, o objectivo. Um só. Conquistar o Poder a todo o custo, nem que, para isso, houvesse que deixar companheiros pelo caminho, houvesse que dizer-se e desdizer-se um milhão de vezes.

É bom que o Povo castigue quem age sem ética. Nem sequer é por ser castigo. Mas por uma outra razão bem simples. Quem trata companheiros de estrada – como são todos os políticos, independentemente dos partidos a que pertençam – como embalagens descartáveis, muito pior fará à imensa multidão de desconhecidos que eles dizem pretender servir. E, ao reduzir a um combate de boxe as desavenças entre dois antigos companheiros, sem atender ao que está por detrás dessa desavença, é comportamento igual aos piores que tenho conhecido.

Crónica CRIANCICES - Magalhães Pinto - MATOSINHOS HOJE - 2/9/2008

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