Isto de prever o futuro é, mais ou menos, fazer o papel de bruxa. Olha-se para a aparência, fazem-se umas explorações, vêm-se as reacções e dá-se uns tiros. Pode ser que acertem no alvo, pode ser que não. A realidade é, hoje, escorregadia como enguia acabada de pescar. Os pressupostos do raciocínio mudam mais depressa do que os raciocínios são feitos. Prever é, hoje, sinónimo de adivinhar. E neste domínio sou mais céptico do que os espanhóis. “No creo en brujas todavia las hay” é frase fora de moda. Nem as que existem adivinham o que quer que seja. Que é o mesmo que não haver bruxas. Embora ande por aí muita gente a fazer de bruxa. Especialmente nesta estação, que cumpre dizer aos papalvos o que vai acontecer no ano que vem. Mas olhe-se para trás. Para um ano atrás. E digam-me se alguém adivinhou tudo quanto ia acontecer neste ano quase finado. Ninguém. Visto desde aqui, as previsões que ouvimos parecem um despojo da guerra do Iraque. Delas nada se aproveita. Assim, as bruxarias a que, por esta altura, assistimos são só brincadeira. Essa de dizer que quem pensa que o ano a findar foi mau tem muito ainda para ver e contar, porque 2009 vai ser pior é de quem só vê uma das faces da moeda. Que, a não ser que seja de mágico, costuma ter duas. E, graças a Deus, se nós, Portugueses, estamos bem servidos de bruxas, ainda estamos mais de mágicos. Por isso, é fácil brincar. E como brincar não faz mal a ninguém, venha daí, meu Caro Leitor. Venha brincar comigo e com os outros. Brinquemos às adivinhações. Venha daí comigo até Outubro do próximo ano, às vésperas duma qualquer das três eleições que vamos ter. Pois, meu Caro Leitor! A brincadeira torna-se muito mais interessante porque vamos ter um ano tri-eleitoral. Venha daí.
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José Sócrates, o grande líder do Partido Socialista (e dos outros Partidos também, porque ele está sempre a dar-lhes conselhos sobre como deveriam agir e não agem) vai falar. O comício é no teatro de bolso da Praça de Espanha. As pessoas já não vão a essas coisas, mas é preciso realizá-las para dar notícia para os telejornais. Sócrates está em mangas de camisa e colarinho desabotoado. Apesar de ser Outubro. Mas o aquecimento global vai permitindo estes luxos. O teatrinho quase vem abaixo com a ovação. As bandeiras renovam o ar. E o discurso começa.
- Portugueses! Há quase um ano, eu prometia-vos um ano de alívio, graças ao trabalho de casa que havíamos feito. Tínhamos recuperado da bancarrota em que o PSD tinha deixado o país, como atestou o nosso camarada Vítor Constâncio aqui presente. E, por isso, podíamos dar aos Portugueses o que eles tanto precisam. Mais dinheiro, mais obras, mais reformas…
Aqui, meu Caro Leitor, temos que abanar a cabeça em sinal de assentimento. É uma das suas promessas mais cumpridas. Nunca houve tantas reformas em Portugal como com este líder. Especialmente professores. Fala-se de uns trinta mil só num ano. Mas demos atenção ao resto.
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Excerto da crónica BRUXARIAS - Magalhães Pinto - VIDA ECONÓMICA - 30/12/2008
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