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23.8.11

CRÓNICA DA SEMANA - I


JOÃO LOURIVAL

Recordo-me de quando falei a primeira vez com a Rádio Clube de Matosinhos. Há aproximadamente uns vinte anos atrás. Decorria uma campanha eleitoral autárquica. Ainda a Rádio da nossa cidade era dirigida por esse incomparável homem da rádio e do espectáculo chamado Domingos Parker, embora já estivesse na fase descendente da sua brilhante carreira. Com o seu falecimento, surgiria na Rádio Clube de Matosinhos um homem, pequeno de tamanho mas grande de talento, com uma carreira recheada de sucessos onde quer que tenha deixado impressa a sua marca. Na música, no teatro, na banca, nos estudos, na vida associativa de Matosinhos e, por fim, na rádio. João de Oliveira e Silva, conhecido de todos como João Lourival. A ele se deve a sobrevivência da RCM 91.0, depois do desaparecimento do seu fundador.

Conheço o João Lourival quase há tanto tempo como me conheço a mim. Partilhámos o mesmo banco da escola primária. Oriundo, tal como eu, de família humilde – o meu pai fazia massas alimentícias na Manutenção Militar e o dele vendia lixíva ao domicílio - pressentia, também tal como eu, que só a aplicação esforçada aos estudos o poderia tirar do gueto a que a pobreza, maioritária no país nesses tempos, o parecia querer condenar. João Lourival, para além dos muitos sucessos obtidos – profissional bancário de qualidade, cantor com voz privilegiada, membro de um conjunto musical que fez sucesso pelos anos setenta, actor de teatro premiado a nível nacional, é hoje Mestre em Comunicação Social e um cidadão matosinhense com um mérito que muito poucos se atreverão a contestar.

Foi pela mão dele que me iniciei nas crónicas radiofónicas na RCM. Já lá vão muitos anos. Foi um privilégio para mim, poder ter uma voz na minha comunidade, com a audiência que a RCM tem. Haveria de chegar à Rádio Nova, à Rádio Press, à Rádio Festival e à Rádio de Santiago do Cacém. Mas é aqui, nestas Marés Vivas, que a minha satisfação foi, é e será sempre, enquanto durar, muito grande. Uma satisfação jamais censurada, sempre respeitada, apesar de muitas das minhas intervenções irem no sentido da contestação do credo político de João Lourival. Um respeito democrático que eu reconheço, sem nenhuma espécie de contestação.

Por todas estas coisas, acho que, nesta hora que João Lourival passa o testemunho da RCM para outras mãos, seguramente tão competentes como as dele,  Matosinhos lhe deve muito. Pela minha parte, deixo aqui o meu quinhão do agradecimento. Por tudo quanto tens feito pela nossa terra, também pela RCM, e por tudo quanto ainda seguramente vais fazer, obrigado, João, meu companheiro de infância.


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