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17.8.11

MEMÓRIA

GRAVES SINTOMAS

Sabemos que as leis são feitas por políticos. Sabemos que abundam por aí demasiadas leis que são uma descarada protecção dos políticos. Sabemos tudo isso e já quase nada nos admira. Mas que a Lei Portuguesa permita que um foragido à justiça seja candidato a um cargo público, ademais com tanta dignidade e seriedade como é ser presidente de câmara, isso não se admite de modo nenhum. E, no entanto, é isso que acontece com Fátima Felgueiras, se ela quiser. Acusada de corrupção no desempenho do cargo, com um mandato de prisão sobre ela, fugida para o Brasil, comparsas seus de Felgueiras acabam de criar condições para que ela possa ser candidata.

De forma mais mitigada, uma vez que apenas estão constituídos suspeitos em precessos de corrupção ou fraude, encontram-se mais três autarcas: Avelino Ferreira Torres, candidato independente em Amarante; Valentim Loureiro, candidato independente em Gondomar; e Isaltino Morais, candidato independente em Oeiras.

Se já admira a desfaçatez que pode levar alguém a candidatar-se sendo objecto de suspeitas graves que afectam a sua honorabilidade, é de pasmar que tais indivíduos possam contar com o apoio dos cidadãos para levarem a sua avante. O objectivo da política é, essencialmente, o de governar o nosso dinheiro comum. Devendo os políticos exercer tal governação com absoluta honestidade. E nós, os que colocamos o nosso dinheiro nas suas mãos para que administrem da melhor maneira, tendo em vista a nossa felicidade colectiva, temos o direito de recusar entregar a nossa confiança a quem, de um modo ou de outro, esteja tocado por suspeitas de desonestidade. Em política, o princípio de que uma pessoa é inocente até que se prove que o não é, não deve funcionar. Esse é o preço que os políticos têm que pagar pelas inúmeras mordomias de que disfrutam. E isso é assim porque, se na vida civil, é preferível ter dez culpados em liberdade em vez de ter um inocente preso, na vida política é preferível ter dez pessoas honestas fora da governação do que ter um desonesto a governar. E isto porque, afinal, a única coisa que acontece a um inocente castigado na política é não poder disfrutar das mordomias; enquanto o que acontece por ter um desonesto a governar são prejuízos sem conta para todos nós.

Graves sintomas estes, que vamos vivendo. Perante os quais, a nossa única defesa é, usando o voto, correr de vez com aqueles que, tendo-se apoderado do poder, o usam em benefício próprio ou de grupo e tudo fazem para não o largar.

Magalhães Pinto, em MATOSINHOS HOJE, em 16/8/2005

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