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2.12.08

CRÓNICA DA SEMANA (I)

Um orçamento é um orçamento. Isto é, só depois de executado é que se saberá se as previsões feitas pelo seu autor se confirmam ou não. Daí que só uma crítica pode fazer-se ao autor de um orçamento. A de que as premissas em que assentou as suas previsões são falsas. E, de todas as premissas utilizadas, só podem verdadeiramente ser consideradas falsas aquelas que se referem ao passado. Porque as que dizem respeito ao futuro, isso ver-se-á.

Por isso mesmo, é que o debate sobre o Orçamento Geral do Estado para o próximo ano foi um enfado. Em boa verdade, estiveram duzentos e tal deputados no Parlamento para debater tudo menos as previsões da administração do Estado para o próximo ano. De um lado, o da Oposição, vimos todas as bancadas censurar o Governo por estar a ser demasiado optimista, tendo em conta todas as previsões feitas por idóneos organismos internacionais – como o FMI, a OCDE ou a Comissão Europeia – e programar a administração para um quadro que se duvida poder existir. O governo tem todo o direito a ser optimista neste momento, em que elabora o Orçamento. Ele lá sabe o que é que pensa fazer para confirmar o seu optimismo. Do outro lado, o do Partido Socialista, pouco se viu de justificação das suas previsões, antes gastando quase todo o tempo a dizer mal da Oposição, com especial contundência para o PSD, naturalmente. Fazendo-o com evidentes sofismas de interpretação. Foi uma atitude nada bonita, que chegou a ter laivos de trauliteira.

No final, sucedeu aquilo que se esperava, uma vez que o Governo dispõe de uma maioria absoluta de apoio no Parlamento. O Orçamento foi aprovado, com os votos a favor da maioria, e contra, de toda a Oposição. Daqui por um ano, mais ou menos, saberemos o que aconteceu e quem tinha razão. Fica todavia um grande problema. Administrar o Estado exige de quem governa uma boa capacidade de previsão do futuro para que, com seriedade e saber, adopte, ao longo da administração, as melhores políticas para que a situação dos cidadãos seja a melhor possível. Ora, daqui por um ano, uma de duas coisas pode ter sucedido:

- ou o Governo previu bem e adoptou as políticas correctas face a essas previsões; e temos que o louvar;

- ou o Governo previu mal e as políticas foram incorrectas, redundando num agravamento das condições de vida dos cidadãos, e temos que o condenar vivamente; diria mesmo, temos que o condenar duplamente: por um lado, porque foi inábil; e, por outro lado, porque, arrogantemente, não deu ouvidos à Oposição.

A ver vamos. Temos a faca e o queijo na mão. É ano de eleições e, conforme o que suceda, poderemos louvar quem, no debate, estava correcto e castigar severamente quem o não estava.

Crónica O DEBATE - Magalhães Pinto - MATOSINHOS HOJE - 2/12/2008

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