...
Confrontados com esta certeza, fica-nos uma interrogação de resposta nada fácil. Afinal, qual é o nosso destino? Qual é a nossa função, enquanto comunidade, no seio das nações? Que temos para fazer?
Há, naturalmente, algumas certezas. A primeira de todas é que não podemos emigrar todos. Já muitos o vão fazendo. Mas, todos, não vai poder ser. Minas, não há. Indústria transformadora, só se acabarem os países asiáticos. Também temos o turismo. Mas não lhe auguro grande futuro. Cada vez há mais destinos, cada vez melhores, cada vez mais baratos. Nem toda a gente pode trabalhar nos bancos. Aliás, com tanta OPA, o provável é que cada vez ali trabalhe menos gente. Temos as novas indústrias. Relacionadas com a informática e a cibernética. É, é uma possibilidade. Mas temos que correr. Porque a concorrência está aí, ao virar da esquina, nos países em vias de desenvolvimento acelerado. Isto é, olhamos para a lista e só vemos ameaças a um destino limpo, saudável, desenvolvido, de povo brioso e orgulhoso de si.
Olho a lista e vejo que falta uma coisa. É verdade. As actividades ligadas ao mar. Ainda me recordo, antes de existirem Comunidades e OCDE's, cumo exultávamos por sermos um dos povos com maior área marinha disponível. "Somos pequenos em terra mas grandes no mar!", eis uma frase que fez carreira. Com um duplo sentido. O geográfico e o histórico. Tínhamos uma frota pesqueira velhinha, quase artesanal, mas que pescava à farta. Depois… Bem, depois recebemos ajudas para sustentar uma agricultura inviável, tendo por contrapartida a erosão de uma actividade que era seguramente viável. Se isto não foi uma grande partida que os europeus nos pregaram, até parece! Agora, é provavelmente muito tarde para arrepiar caminho. Restam-nos os presuntos de Chaves e os chouriços de Trás-os-Montes. E isto se conseguirmos fabricá-los segundo as exigências de Bruxelas.
Toda esta lenga-lenga, que mais parece um fado do choradinho, não tem intenções desanimadoras. Tem antes a vontade de mostrar que ou pensamos o nosso destino e escolhemos bem a estrada para lá chegar depressa ou não temos destino algum. É por isso que estou a achar que este Governo, embora ainda longe de se encontrar no caminho almejado, tem algumas virtudes. Pelo menos, está a atrever-se a rasgar algumas teias que nos impediam de marchar adiante. E urgente mesmo é começar a andar. Pode ser que as estradas que vamos palmilhando ainda não sejam as do nosso destino final. Mas é bem melhor começar a andar do que ficar parado. Pode ser, por exemplo, que a co-incineração não seja a melhor solução para o tratamento dos resíduos perigosos. Mas a verdade irrefutável é que os resíduos perigosos começaram a movimentar-se. Sinal irecusável de que o Governo colocou o país a mexer é o facto de se confrontar, diariamente, com manifestações de protesto vindas de todo o lado. Não cuido, neste momento, de saber se está a governar bem ou mal. Mas, se não estivesse a governar, não teria pela frente tantas manifestações de protesto. Aguardemos. E roguemos aos anjinhos que o Governo não pare. Podemos falar contra tudo o que o Governo decide e implementa. Não podemos é acusá-lo de imobilismo. Não sei. Mas pode ser que este seja um bom sinal para encontrarmos um destino.
Excerto da crónica QUE DESTINO? - Magalhães Pinto - VIDA ECONÓMICA - 21/3/2006
Sem comentários:
Enviar um comentário