O ESPELHO
O que sucedeu em Espanha no passado Domingo pode muito bem ser o espelho do que se vai passar em Portugal. Realizaram-se ali eleições autárquicas e regionais e o que aconteceu foi algo de nunca visto. A direita espanhola esmagou autênticamente a Esquerda. Saiu particularmente ferido da contenda eleitoral o Partido Socialista espanhol, que, contados os votos, contava menos 10% destes do que o Partido Popular. E não só isso. É que os socialistas perderam por larga margem em províncias – como Astúrias e Extremadura – e em cidades – como Sevilha, por exemplo – onde nunca haviam perdido desde a implantação da democracia e das eleições livres no país vizinho.
Compreende-se que assim tenha sido. Os espanhóis compreenderam algo que sempre deve estar presente quando chegamos a umas eleições. É que, mais do que estarmos diante de uma competição clubística, assim do tipo de um Benfica/Porto, mais do que votarmos em promessas balofas que geralmente não são cumpridas, umas eleições servem sobretudo para dizerem se o povo está ou não satisfeito com quem o tem governado. Os governantes não devem ser julgados por aquilo que prometem fazer ou que eventualmente tenham feito, mas sim e essencialmente por aquilo que podiam ter feito e não fizeram. E, em Espanha, com Zapatero – aliás, tal e qual como em Portugal com Sócrates – os governantes actuais não fizeram o trabalho deles como lhes competia. Bem sei que atravessamos uma época adversa para as governações. O mundo está muito perturbado. Mas, quer em Espanha, quer aqui em Portugal, não tínhamos necessidade de deixar chegar as coisas aonde chegaram, num buraco enorme do qual vai agora ser muito mais difícil sair.
Um facto ao qual devemos estar atentos, nestas eleições espanholas, é que elas nem sequer foram governamentais. Foram autárquicas e regionais. E é muito difícil acreditar que tantos socialistas tenham governado tão mal as suas autarquias para levarem a sova que levaram. Mas o povo nem sequer olhou para a natureza das eleições. Quis punir os resopnsáveis pelas dificuldades que o país atravessa e não esteve com meias medidas. Puniu pesadamente os responsáveis pelas dificuldades do país, infligindo ao PS espanhol a maior derrota de que há memória.
Subitamente, ao olharmos para estes resultados, somos levados a acreditar outra vez na imensa força do voto quando o povo resolve mesmo utilizá-la.
Magalhães Pinto, em RÁDIO CLUBE DE MATOSINHOS, em 24/5/2011
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