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31.5.11

CRÓNICA DA SEMANA - I

CAMINHO ERRADO

O que vou dizer hoje, não tem nada a ver com eleições, partidos, discursos, programas, planos. Com Sócrates ou Passos Coelho. Não. Tem a ver connosco. Tem a ver com o que nos espera.

Nas minhas deambulações diárias, por aí, fico verdadeiramente siderado por ver que, a qualquer hora do dia, a quantidade de pessoas que passam o dia com ar de nada ter que fazer, é imensa. Os shoppings estão cheios a qualquer hora, os locais de lazer repletos, nas esplanadas dos cafés e cervejarias não há lugares vagos, pescadores à linha aos montes, praias cheias em dias de semana, enfim, multidões autênticas passam o seu dia, dias a fio, sem fazer nada de útil. Claro. Eu sei que há muita gente desempregada e que não anda por aí a flanar de boa vontade. Mas a verdade é que andam. E também sei que, se realmente quisermos fazer alguma coisa de útil, há sempre que fazer.

Ora, parece-me que ainda não nos apercebemos todos da verdadeira situação em que nos encontramos. Ouvimos para aí os políticos a falarem das perdas de benefícios sociais que já se verificaram, mas parece que ainda vai dando para o essencial. E a verdadeira situação é esta: se não arregaçarmos as mangas, se não nos atirarmos duramente ao trabalho, produzindo o mais que pudermos e poupando o máximo que seja possível, a realidade vai conduzir-nos a uma situação bem pior do que aquele que estamos a viver. Na medida em que não pudermos cumprir os compromissos internacionais que estamos a assumir, endividando-nos até aos cabelos, a sustentação social que tem existido, com o Estado a alimentar quem não produz, vai reduzir-se a quase nada. E se – o diabo seja surdo! – as coisas chegarem a limites extremos, como podem chegar se não trabalharmos, e tivermos de abandonar o Euro como nosso moeda, então haverá muita miséria, haverá mesmo muita fome. Podemos ser remetidos para situações iguais ou piores do que aquela que tínhamos quando o 25 de Abril se deu.

Isto que eu estou a dizer não é pessimismo. É mesmo o que pode acontecer, com grande probabilidade, se não arrepiarmos este caminho em que tudo continua a parecer um mar de rosas, e encetarmos outro em que temos de trabalhar muito para conseguir não cair ainda mais fundo.

É por isso que eu hoje falei nisto. Por enquanto, ainda podemos salvar-nos. Mas se deixarmos isto continuar como tem vindo a andar, então prepare-se quem me ouve. Pode muito bem acontecer que a miséria lhe bata à porta.

Magalhães Pinto, em RÁDIO CLUBE DE MATOSINHOS, em 31/5/2011

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