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26.7.11

CRÓNICA DA SEMANA - I

A ECONOMIA REAL

É já visível que os portugueses estão a economizar em grande. Os avisos de que vinha aí uma crise tamanha não caíram em saco roto e os portugueses reduzem os seus gastos ao mínimo possível. Uns, porque o dinheiro não chega para tudo. Mas há outros que ainda poderiam gastar alguma coisa, mas estão a economizar também.

Agora, que tivemos a sorte de a Europa decidir finalmente fazer alguma coisa pelo estado financeiro de alguns países da União, talvez devamos tirar algumas lições do passado. Portugal está no estado em que está – e que poderia conduzir-nos ao abismo se não fossem as últimas decisões europeias – porque, durante anos, levamos vida de rico quando nada, no nosso estado de desenvolvimento económico, nos permite ser e agir como ricos. Muitas entidades são culpadas pela criação desse estado de espírito de falsos ricos. Desde logo, os bancos, que facilitaram o crédito até níveis insuportáveis e que, agora, se estão a ver gregos para receber. Também todos nós, que fizemos uso, desse crédito sem fazer contas ao futuro, pensando que tal iria durar para sempre, temos a nossa parte da culpa. E grande parte dos políticos também são culpados. Governaram o país e as autarquias como se os fundos da Europa não tivessem fim. Com a agravante de que muito do dinheiro que dali veio – autênticos rios de dinheiro – foi mal aplicado e não foi utilizado para criar condições para produzirmos mais no futuro.

Os economistas, como eu, costumam dizer que a economia não se engana. Mais tarde ou mais cedo, ela acaba por produzir aquilo que as pessoas mandaram, com as suas decisões e4 os seus actos. É uma grande verdade. Se, por hipótese, um governo decide sustentar uma empresa que não produz o suficiente para pagar aos seus trabalhadores, dê por onde der e vá-se for onde se for, mais tarde ou mais cedo são todos os cidadãos que vão pagar a esses trabalhadores. Até lá, tudo não passará de um empréstimo.

Trabalhar, produzir e poupar. Uma frase de que os mais velhos se recordam, muito dita em tempos que já lá vão, ainda não havia liberdade em Portugal. Mas o tempo aqui não conta. Com liberdade ou em ditadura, a economia real funciona sempre da mesma maneira. Todos juntos só podemos consumir aquilo que produzirmos.

Oxalá não nos esqueçamos mais disto.

Magalhães Pinto, em RÁDIO CLUBE DE MATOSINHOS, em 26/7/2011

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