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2.8.11

CRÓNICA DA SEMANA - I

RECORDAÇÕES

Dizem que quando se vai para velho, recordamos com alguma nitidez as coisas antigas. Pelo menos, mais nitidamente do que recordamos outras bem mais recentes. E eu acho que é verdade. Neste último fim de semana, desfrutei da companhia de três camaradas da guerra colonial e da viúva de um quarto. Curiosamente, o encontro decorreu na casa do camarada já falecido. Com eles convivi, com eles recordei alguns episódios desse tempo já longínquo e com eles levei a cabo algumas das brincadeiras que a juventude então nos inspirava.

A certa altura, dei por mim a reparar um facto. Aquele grupo de que eu fazia parte vinha de muitos lados. Um era de Setúbal. Outro era de Peniche. Outro, das Caldas da Raínha. Outro de Esmoriz e eu de Matosinhos. Era como se Portugal estivesse unido naquele pequeno grupo. E muito unido. Admirável o que a guerra tinha feito. Juntara cinco rapazes até então desconhecidos uns dos outros, cada qual do seu canto de Portugal, e fizera deles amigos, mais do que isso, irmãos para toda a vida. Irmãos que, quase meio século depois, ainda são capazes de sentir em comum as alegrias e as tristezas que então viveram. E meditei sobre isso.

Cada um de nós seguiu a sua vida, naturalmente. Crescemos como gente, houve casamentos, houve filhos, houve vidas profissionais. Mas, ou pelas particulares condições em que a nossa amizade nasceu ou porque, realmente, esses meus irmãos são gente de eleição, nunca nos esquecemos uns dos outros. Aproveitando qualquer oportunidade que se apresente para estarmos juntos. E, num sentimento que eu sei partilhado por todos, atribuímos a esta relação um valor que nenhum dinheiro no mundo seria capaz de pagar. Não trocaria o estar com eles por nenhum valor do Mundo.

É por isso que a verdadeira riqueza da Vida não são os bens materiais. A grande riqueza desta vida são as pessoas com quem nos é dado o privilégio de conviver, a oportunidade de construir uma parte da vida de cada um em conjunto e solidariamente. Foi um belo fim de semana, este.

Magalhães Pinto, em RÁDIO CLUBE DE MATOSINHOS, em 2/8/2011

1 comentário:

cidissima disse...

Como disse Guimarães Rosa: mesmo que não se perceba, há sempre um mistério que não se está vendo.
Realmente! A amizade não tem preço!
As recordações.... Estas então motivam minúcias que o tempo deixou. E muitas até então não conhecidas. E é a hora exata de colocá-las no conhecimento de todos.
O tempo não deve apagar as histórias vividas por todos, nem distanciar amigos de coração.
Sempre é tempo de avivar as memórias.

Cida