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16.8.11

CRÓNICA DA SEMANA - I

COMPRAR PORTUGUÊS

A economia é como o corpo humano. Vive de equilíbrios. Muitos órgãos, muitos sistemas, muitas células, todos a viver em equilíbrio. O problema na economia, tal como na saúde, surge quando um dos elementos se desequilibra. Reconduzi-lo ao equilíbrio dá muito trabalho. Com uma agravante na economia, tal como no corpo humano. Ao medicar-se uma doença, sabemos que o medicamento vai fazer bem a essa doença mas pode fazer mal a outros elementos do sistema. Razão porque é preciso muito cuidado com os remédios, não vá matar-se o doente.

Claro que o médico pode fazer alguma coisa. Mas, no caso de doença, a melhor ajuda é sempre a que vem do doente. Assim acontece na economia. Os poderes públicos podem fazer muita coisa; mas nós podemos ajudar substancialmente. Vejamos como.

Imagine o meu ouvinte um sistema económico só com três pessoas. O meu ouvinte, que produz, por exemplo, camisas. Eu, que produzo por, exemplo sapatos. E o nosso vizinho das traseiras que, sendo comerciante, compra e vende camisas e sapatos. O meu ouvinte faz uma camisa para vender. Investe, portanto. Vende-a ao vizinho das traseiras que é comerciante. Eu faço um par de sapatos. Invisto, pois. Vendo-a ao vizinho comerciante. Mas o meu ouvinte precisa de sapatos. E vai ao comerciante e compra o par que eu fiz. Como eu recebo o dinheiro da venda dos meus sapatos, compro uma camisa. E o meu vizinho recebe o dinheiro da camisa que fez, continua a trabalhar e faz outra camisa. O mesmo se passa comigo. Como os meus sapatos foram vendidos, eu recebo o preço e vou fazer outro par. Continuo a ter trabalho.

Até aqui tudo bem. Todos estão a trabalhar, não há desemprego. E continuamos a viver tranquilamente. Mas imagine agora que o nosso vizinho das traseiras além de vender as nossas camisas e os nossos sapatos, também manda vir do estrangeiro camisas e sapatos. E o meu ouvinte até gosta dos sapatos estrangeiros. Em vez de comprar os sapatos feitos por mim, compra um par feito, por exemplo, na China. A consequência é eu não vender os meus sapatos. E, enquanto não vender, não faço outros. Isto é, fico sem trabalho. Como não trabalho não compro camisas. E como não compro camisas, o meu ouvinte fica sem trabalho também. Isto é, o nosso investimento inicial a fazer camisa e sapatos escoou-se para o estrangeiro. Vai pagar o trabalho de uns chineses, os quais continuam a ter trabalho.

Parece-me que fica assim claro porque é que nos devemos empenhar em comprar produtos portugueses. Para garantir o reforço do emprego dos portugueses, incluindo o nosso próprio emprego.

Espero que o meu Ouvinte não se esqueça disto, pelo menos até sairmos do buraco onde estamos.

Magalhães Pinto, em RÁDIO CLUBE DE MATOSINHOS, em 16/8/2011

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