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10.8.11

MEMÓRIA

DISPARATELÂNDIA

Suprema ironia! O maior dos euro-milhões contemplou uma apostadora de um dos países que menos joga no referido sorteio! De nada serviram os quase cinquenta milhões de euros (dez milhões de contos) apostados pelos portugueses numa escassa semana. É como se até a sorte estivesse apostada em mostrar que não quer nada com este jardim. Sim, jardim. Queimadito. Sequito. Inculto, perdão, incultivado. Com sol no campo e chuva nas barragens, sem haver meio de levar uma até ao outro. Um despautério. Um disparate. A dizer bem com a Disparatelândia em que nos transformámos. De férias, num Algarve quase vazio em Julho e a encher agora, anotei disparates de criar bicho. Abençoado sejas, meu País, porque dos pobres de espírito é o reino dos céus.

O bom exemplo

Os funcionários públicos querem fazer uma guerra pelo aumento da respectiva idade de reforma. Sem atentarem no belíssimo exemplo que nos dá o vetusto Doutor Mário Soares. Com um bocadinho de sorte, teremos um feriado nacional quando ele completar o seu centenário, sentadinho na cadeira de Belém. E sempre a trabalhar. Quanto a mim, entre as razões da sua candidatura, está a gratidão. Recordemos que o saudoso Engenheiro Guterres mais o seu inefando Governo, deram à Fundação do vetusto Doutor uma fatia dos nossos impostos, da ordem dos quinhentos mil contos. Perdão. É moeda antiga, mas é para condizer. Esta disponibilidade serôdia para regressar ao poder, para além de um exemplo exemplar - passe o pleonasmo de reforço - para os funcionários públicos, é um agradecimento. Nem me admiraria que, estando ele reformado como Presidente, venha a prescindir de metade (ou, até, do total) da sua pensão, no caso de ser eleito.


O Metro

O Senhor Ministro das Obras Públicas arrefeceu os entusiasmos do Doutor Rui Rio e do Major Valentim Loureiro, a contarem já com o anúncio de novas linhas do Metro para reforço da sua campanha autárquica, e exclamou alto e bom som "alto e pára o baile". No seu espírito, uma preocupação de enormíssima monta. Não sabemos se há dinheiro para tanto. Ora aí está! Muitas das minhas preocupações quanto ao futuro, esvaíram-se, feneceram, morreram, foram por água abaixo. Muito bem, Senhor Ministro! Que julga esta malta? Com tantos milhões a serem necessários para a OTA e para o TGV, julgam eles que o dinheiro é elástico? Os portuenses já têm uma boa dúzia de centímetros. Agora é a vez de outras paragens. Que esperem. Que Lisboa já está à espera da OTA pelo menos desde o Engenheiro Guterres. E o resto do país espera ansiosamente por ver passar os combóios. Que é uma coisa que eles nunca viram passar. Afinado mesmo deve ter ficado o doutor Narciso Miranda, de Matosinhos. Que escreveu uma luxuosa carta aos seus governados, responsabilizando o seu Vereador da Limpeza (e candidato a Presidente substituto) pelo aparecimento do ramal da Maia do dito Metro. Agora, toda a gente fica a pensar que Matosinhos está mais pela Maia do que pelo Porto e Gondomar.


O choque

Tecnológico, claro. Aí está ele. Computadores ao preço da chuva, se descontarmos no IRS. Se não estou em erro, tinham acabado há pouco idênticos benefícios fiscais. Una inquidade, em boa hora corrigida pelo actual Governo. Só é pena que a medida não tenha sido extensiva à compra dos computadores em segunda mão. Eu explico porquê. Hoje, a classe média tem, por norma, computador. Acontece mesmo ter mais do que um. Por outro lado, já utiliza ou sabe utilizar a Internet com facilidade. Quem verdadeiramente precisava de adquirir computadores e aceder à Internet eram as classes sociais mais baixas. Mas essas nem têm dinheiro para adquirir computadores nem têm grande IRS a pagar, no qual o desconto dos computadores pudesse ser um incentivo real. Assim, o incentivo corre o risco de ser como a pomada santa banha de gibóia. Não faz bem nenhum, mas mal também não faz. Agora, se a medida fosse extensiva aos computadores usados, outro galo cantaria. Com a mania que temos (os que podem) de estar sempre com as últimas gerações - os telemóveis provam-no - era um ver se te avias. Os mais capazes (financeiramente) iam a correr comprar um computador novo e desfaziam-se do velho vendendo-o por tuta e meia. E então, até um calceteiro com salário mínimo nacional podia ter computador. Claro que, para ser ouro sobre azul, o acesso à Internet deveria ser, depois, grátis e universal. Como é em alguns países. E isso, sim, seria um autêntico choque. Mas em tempo de crise não pode haver borlas para ninguém.


A frase exemplar

Foi para aí publicado um estudo, a dizer que os Portugueses eram os cidadãos da Europa que mais caro pagavam os telefones e o acesso à Internet. Instado a comentar o facto, um responsável de uma companhia telefónica saiu-se com uma afirmação que me siderou. Disse ele que "os portugueses não pagam o telefone caro; o que ganham é pouco!". Arregalei os olhos. Siderei. Rebolei no chão, em desespero, por, depois de tantos anos a comentar a realidade nacional, eu ainda não me ter lembrado disso. Claro. É límpido como a água. Ganhamos é pouco! Porque os preços, esses, até são mais baixos que no resto da Europa!. Descoberta incrível! A merecer uma profunda vénia. Se fosse eu que mandasse, ordenava que a cotação na Bolsa da respectiva empresa subisse pelo menos uns cinquenta por cento. Pelo sim, pelo não, fui a correr comprar umas acçõezitas da dita. Quem tem governantes assim, tem o sucesso garantido aí ao virar da esquina. Logo que os Portugueses não ganhem pouco.


O empréstimo

Eu tinha razão. Quando, aqui há umas semanas, falava no problema da água e dos espanhóis. Mas foram cavalheiros, os nossos vizinhos. Em lugar de desviarem a água, vieram pedir-nos para lha emprestar. Abençoada Aljubarrota! Porventura, foi o medo de que repetíssemos a gracinha que os fez vir, de calças na mão, pedir alguma água do nosso Alqueva. Ainda bem que estivemos de acordo. A boa vizinhança é um bem a preservar. Seja no meu prédio, seja nesta Europa de todos. Além de que lhes demos uma grande lição. É para que vejam o que vale ser poupadinho. Temos a água de que eles precisam porque a temos vindo a guardar para regar o Alentejo daqui por dez anos. Só temos estado à espera que não viva ninguém nesse nosso celeiro para começar a regadela. Todavia, penso que devíamos ter pedido uma contrapartida. Para o caso de a OTA não se chegar a fazer. Era que, se assim for, nos emprestem o aeroporto de Badajoz. Fica mais ou menos à mesma distância de Lisboa que o otário aeroporto. Por auto-estrada. Já construída. É só economia.


O costume

Entretanto, indiferente a todos estes acontecimentos que tentam estragá-lo, Portugal continua como sempre. Atente só, meu Caro Leitor, nesta pequena história, que juro ser verdadeira e não uma anedota apanhada na Internet. Um amigo meu precisou de passar uma procuração. Bom cidadão, arrimou-se ao computador, digitou-a, imprimiu-a em papel branco imaculado e, sem assinar, dirigiu-se ao notário oficial do local. Quando atentido, preparou-se para assinar na frente do funcionário, para que o reconhecimento pudesse ser presencial. Nesse momento, o funcionário esclareceu-o:

- Quer que reconheça assim dactilografado - custa trinta euros - ou quer passar a procuração à mão - e o reconhecimento custa-lhe só dezasseis euros?…

Palavras para quê? Este é o Portugal profundo, ainda na idade média. Este é o Portugal do choque tecnológico. Este é o Portugal do TGV. Este é o Portugal do aeroporto espacial. Este é o Portugal dos metros a centímetro. Este é o Portugal que nos doaram e que, por receio de estragá-lo, mantemos no tempo dos nossos tetravós. Por isso é que o vetusto Doutor Mário Soares tem algumas ténues possibilidades de ser reeleito.

O meu amigo, pacientemente, lá gastou alguns minutos a escrever a procuração à mão, num papel pelo menos tão imaculadamente branco como o outro, poupando assim catorze euros. Só perdeu verdadeiramente a paciência quando, pedindo o respectivo recibo, o funcionário o invectivou, dizendo:

- Recibo?… Para quê?… Não lhe serve para nada!…

Valha-nos deuzzzzzz!

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