
Pode haver muitas explicações para este fenómeno. Desde logo, como alguns cronistas anotam, a pobreza. Mas a pobreza conduz ao pequeno roubo. Quase sempre sem violência. Razão pela qual eu não estou muito propenso a aceitar esta como a melhor explicação. E, embora não possa demonstrar o que vou dizer – como ninguém pode demonstrar nenhuma outra teoria – eu associo a onda de crime que assola o país àquilo que tem sido o trabalho dos legisladores. Nos últimos anos, temos assistido a um trabalho incessante destes no sentido de amenizar, tornar mais leve, o castigo dos criminosos. Por outro lado, vemos os tribunais a não funcionarem ou a funcionarem tarde e a más horas. E, ainda por outro lado, vemos criminosos a serem colocados em liberdade antes de terem sido julgados e condenados. Três factos que representam uma mensagem audível para todos aqueles com inclinação para o crime: estão num país onde o criminoso tem muito mais quem o defenda do que têm os cidadãos honrados e pacíficos. Donde, quase como que um incentivo à criminalidade.
Se eu tiver razão no meu pensamento, estamos, como costuma dizer-se, entregues aos bichos. Por mais que aumentem a capacidade das polícias, o crime vai tornar-se imparável. Porque as leis são modificadas lentamente e porque não há modo de colocar os tribunais a funcionar eficientemente. E porque, ou por tibieza dos magistrados ou por força de leis absurdas que os deputados e governos aprovaram, a prisão só acontece em última instância. Uma situação, esta, a da aparente impunidade, que não vai demorar muito em transformar-se em movimentos de auto-defesa. Temos o direito à segurança oferecida por um Estado que nos leva couro e cabelo em impostos. Se ele não no-la dá, temos que a encontrar nós.
Crónica INSEGURANÇA - Magalhães Pinto - MATOSINHOS HOJE - 26/8/2008
(Imagem de www.unaee.org.br)
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