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30.8.08

OS HERÓIS E O MEDO - 367º. fascículo

(continuação)

Mamadú sentiu-se tentado a perguntar-lhe se, quando expulsassem os brancos, também iriam mandar embora o Mário. Afinal, ele salvara-lhe a vida. Mas calara-se. Como calara a tentação de perguntar se a Pátria pela qual lutavam era a dos balantas, dos fulas, dos mandingas, dos papéis, dos bijagós, dos futa-fulas, dos manjacos ou doutros quaisquer. Ieró falara com tanta certeza que, provavelmente, seria uma Pátria de todos.

Nessa noite, Mamadú recebeu ordens para se integrar num grupo a sair. Iam emboscar a tropa branca. Tinha morrido, de doença, um soldado branco ali prisioneiro há mais de dois anos. E iam usá-lo num ardil novo. Carregaram o cadáver até ao local escolhido. Estenderam-no de borco no meio da picada por onde a tropa passava quando vinha por aquelas bandas. E, com imenso cuidado, tiraram os grampos a algumas granadas defensivas, as mais mortíferas, e colocaram-nas sob o morto, cavilha segura no sítio pelo peso do cadáver. Quando os brancos voltassem o corpo, nem iam ter tempo de perceber a surpresa que os aguardava. E esconderam-se nas sombras.

(continua)
Magalhães Pinto

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