Pesquisar neste blogue

25.11.08

CRÓNICA DA SEMANA (I)

É da natureza humana. Cada um apegar-se às coisas que embrulham a vida de cada um. As pessoas. Os afectos. Os espaços. Os acontecimentos. Afinal, tudo aquilo que, dia após dia, vai ficando na nossa memória e a que nos referimos, com o andar do tempo, como sendo a nossa vida. Vivemos não apenas do que vamos pensando e fazendo mas também do que pensam e fazem os outros, nos locais onde tudo acontece. E, como as pessoas, os afectos, os espaços, os acontecimentos, são comuns a todos nós que vivemos próximo uns dos outros, é essa amálgama dos factos que constituem a nossa vida que constrói a consciência cívica comum, que faz com que, para além da nossa consciência pessoal, individual, façamos parte de uma outra consciência, colectiva, que de todos é. Ou, como alguns preferem dizer, façamos parte de uma memória colectiva que em cada um de nós, em cada um dos nossos afectos, em cada um dos acontecimentos por nós vividos, em cada local por nós frequentado ou usufruído, tem uma das suas parcelas. É por ser assim que nos identificamos como matosinhenses, por exemplo, ou como leixonenses, outro exemplo.

Mas ser matosinhense, por exemplo, ou leixonense, outro exemplo, é uma qualidade que, mais do que nos trazer direitos, nos traz deveres, obrigações. É uma espécie de troca. Recebemos dos outros – pessoas, afectos, acontecimentos, locais – contributos para que a nossa vida não seja vazia. E temos a obrigação de dar em troca a nossa contribuição para que tudo isso que nos envolve seja vivo, fique na memória de todos do mesmo modo como está na nossa. Não se podem gozar os privilégios da nossa vida sem que sejamos um privilégio para os outros.

...

Excerto da crónica DAR EM TROCA - Magalhães Pinto - MATOSINHOS HOJE - 25/11/2008

Sem comentários: