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Todos nós sabemos que quem se encontra aos mais altos níveis do poder institucional, seja qual seja a instituição, política ou social, pública ou privada, não tem nem pode ter conhecimento de tudo quanto se passa na instituição que dirige. Usar a desculpa do não ter conhecimento é uma redundância. Ninguém pode ter, seja onde seja, conhecimento de tudo. Porque, para exercício da sua função e porque não é nem pode ser omnipresente, tem que delegar a autoridade que está cometida à função em que foi investido. Mas há um princípio sagrado na aceitação de qualquer função com autoridade: é que se a autoridade pode ser delegada, a responsabilidade NUNCA o é. Aconteça o que acontecer, em qualquer instituição, no canto mais recôndito do seu espaço, a responsabilidade do que acontece é sempre, e em primeiro lugar, do poder mais alto que nessa instituição exista. Chamar em defesa o desconhecimento do acontecido só transporta para o plano pessoal a culpa institucional. Isto é, fazer aquilo que Vítor Constâncio está a fazer é um agravamento de culpa e não uma desculpa.
Os seus defensores – sabe-se lá porque motivos – costumam afirmar que procurar culpabilizar Vítor Constâncio pelas falhas da supervisão é uma tentativa de branquear o comportamento daqueles que agiram mal, por má-fé ou por desrespeito da ética comportamental respectiva. Quem assim argumenta ignora, voluntária ou involuntariamente, que estamos em dois planos distintos. Naturalmente que a administração do BPN – como devia acontecer também com a administração do BCP – tem que ser punido exemplarmente pelas falcatruas ou manigâncias praticadas. Nada os desculpa. Mas esse é um problema da Justiça Portuguesa e, note-se, da instituição que Vítor Constâncio governa. Mas o problema chamado supervisão, ou Banco de Portugal, ou Vítor Constâncio, esse é um problema nosso. A supervisão existe, o Banco de Portugal existe, Vítor Constâncio, nesta função, existe, precisamente para nos protegerem. Ao falharem, têm que haver-se com os não-protegidos.
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Excerto da crónica AS DIFERENÇAS - Magalhães Pinto - VIDA ECONÓMICA - 27/11/2008
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