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5.10.10

CRÓNICA DA SEMANA - I

A. Magalhães Pinto

O MENTIROSO COMPULSIVO

Assisti, com curiosidade, à entrevista do Primeiro-Ministro que se seguiu a esta verdadeira facada dada nos rendimentos dos Portugueses decretada por um Governo sem rumo. Para além de estar bem informado, a minha curiosidade no discurso de José Sócrates tinha uma razão especial. Conhecendo a habilidade dos políticos para torcerem, retorcerem e distorcerem a realidade, eu queria ver como é que ele justificava as medidas tomadas, depois de andar tanto tempo a dizer que, depois dos últimos cortes na bolsa das pessoas, estávamos no bom caminho e não iam ser necessários mais sacrifícios para endireitarmos vida. E a certa altura, fiquei meio atontado. Então não era que, mais uma vez, ele atrevia-se a afirmar:

- Agora, não vão ser necessários mais sacrifícios!.. – disse ele.

É necessário ser de topete. Ao ouvir tal afirmação, perguntei a mim próprio se haverá ainda algum português que acredite neste mentiroso compulsivo. Recordemos que uma das tónicas mais vibrantes da sua primeira candidatura a Primeiro-Ministro foi a de que não aumentaria os impostos. E, desde aí, sempre que um Orçamento Geral do Estado novo aparecia – o que acontece todos os anos – tínhamos a carga fiscal sobre os Portugueses aumentada e sempre o discurso se repetia: “depois destes, não haverá mais”. E agora, quando ninguém pode garantir que nos ficamos por aqui, ele ainda insiste, pela quinta ou sexta vez, no mesmo disco: não vai haver mais impostos. Uma treta. Uma mentira mais a acrescentar a esta tragédia imensa que foi termos eleito um fala-barato e pouco mais do que isso para reger os nossos destinos.

No meio desta mentira permanente em que vamos vivendo, um discurso ganha relevo. “Não pode haver crise política”, diz-se por aí. O que não deixa de ser curioso também. Porque, muitas vezes, ouvimos já dizer que o Povo encontra sempre a solução de que um país democrático necessita. Parece que, de súbito, a cangada que ocupa os lugares do Poder passou a desconfiar do Povo e tem medo de cairmos numa situação em que tenhamos que perguntar ao Povo o que ele quer. O que vai conduzir a uma situação explosiva. Porque o Povo, a legião de desempregados que temos, a legião de idosos para quem a vida se está a transformar num inferno, a legião de famílias com crianças para alimentar e com cada vez menos dinheiro para comprar comida vai seguramente saltar para a rua, com a correspondente confusão a instalar-se.

É o que acontece quando os políticos se recusam a ouvir a voz do Povo. Este passa a gritar alto.

Magalhães Pinto, em RÁDIO CLUBE DE MATOSINHOS, em 5/10/2010

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