Neste dia, em 1902, nasceu o poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade.
Drummond, como os modernistas, proclama a liberdade das palavras, uma libertação do idioma que autoriza modelação poética à margem das convenções usuais. Segue a libertação proposta por Mário e Oswald de Andrade; com a instituição do verso livre, acentua-se a libertação do ritmo, mostrando que este não depende de um metro fixo (impulso rítmico). Se dividirmos o Modernismo numa corrente mais lírica e subjetiva e outra mais objetiva e concreta, Drummond faria parte da segunda, ao lado do próprio Oswald de Andrade.
Um dos seus poemas:
Para Sempre
Por que Deus permite
que as mães vão se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não se apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
1 comentário:
Em sua obra "A Paixão Medida", Drummond homenageia o grande 'Camões".
Dois heróis que cantaste, que restou senão a melodia do teu canto? As armas em ferrugem se desfazem, os barões nos jazigos dizem nada. É teu verso, teu rude e teu suave balanço de consoantes e de vogais, teu ritmo de oceano sofreado que os lembra anda e sempre lembrará. Tu és a história que narraste, não o simples narrador. Ela persiste mas em teu poema que no tempo neutro, universal sepulcro da memória. Bardo, foste os deuses mais as ninfas, as ondas em furor, céus em delírio, astúcias, pragas, guerras e cobiças, lodoso material fundido em ouro.
Camões permanece lido e amado, e lembrado. Nele, em sua poesia
e em seu nome, Drummond encontra sua vida. Tanto em relação à poesia quanto à história.
Aqui, os dois foros unem-se. A poesia constrói-se em um sem-tempo, por isso remetendo a
qualquer tempo. A conexão entre as informações é sempre tornada factual nos momentos de
leitura, que atualiza esse sem-tempo em direção à história. A história pode conectar as
informações da poesia a outras, enriquecendo sua interpretação. Mais do que a “fatos
históricos”.
Tendo em mente a presença sempiterna do poeta lusitano no horizonte da crítica,
é possível concluir que Drummond canta Camões para unir-se a ele na memória e na
recepção dos leitores, que lançam na vida novamente as palavras organizadas em poesia,
cheias de sentimento, reflexão, ânsia, intertextos, possibilidades. Assim, o itinerário feito,
saindo do mundo, da natureza externa, passando pela metapoesia, vida, dor, morte, amor,
dúvidas, chega ao fim respondido e satisfeito.
Cida
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