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16.11.10

CRÓNICA DA SEMANA - I

LIBERDADE E RESPONSABILIDADE

“Nada, na vida, pode conduzir ao sucesso uma pessoa, um grupo, um projecto, uma ideia, se a abordagem feita não está moldada pela responsabilidade. Todos dispomos de um certo grau de liberdade para praticar as acções que decidimos. E isto é tão verdade para quem está em cima como para quem está em baixo. Vivemos numa hierarquia, mas podemos praticar actos contra as regras que estão definidas para a hierarquia. Ou podemos praticar actos inseridos na ordem hierárquica mas de tal modo que os resultados obtidos sejam contrários ao interesse de todos. Uma liberdade que prezamos, mais, que exigimos. Não somos máquinas destinadas, apenas, a executar as ordens. É uma liberdade gostosa, esta. Costumamos chamar-lhe a realização pessoal. E é uma liberdade que existe em todos e cada um dos níveis desta organização em que todos vivemos, a que costuma chamar-se pirâmide social. Mas esta liberdade traz consigo uma companheira inseparável. A responsabilidade. De algum modo, é inconcebível, numa sociedade organizada, a liberdade sem a responsabilidade. Estou a falar de coisas que todos sabeis. Que toda a gente sente, de modo mais ou menos pensado. Ser livre é também ser responsável. Liberdade… Responsabilidade... São duas companheiras inseparáveis. Não há modo de fugir a isto, a não ser que queiramos a desorganização da sociedade. São os dois marcos, são as duas margens, que limitam a acção de cada um e de todos. Somos livres de fazer o que queremos, dentro da ordem definida para a organização, mas somos responsáveis pelos resultados obtidos com a nossa acção. Por isso, não devemos tomar atitudes sem as pensarmos primeiro. Sem pesarmos bem todas as consequências daquilo que estamos a dizer ou a fazer.”.

Isto é dito por um dos personagens do meu novo romance, publicado esta terça-feira, sob o título de NÃO HAVERÁ AMANHÃ. Uma parábola, na qual dou conta, de um modo simples e, por isso, acessível, do comportamento dos políticos existentes hoje em Portugal. Sobretudo do comportamento que eles têm por detrás da cortina, longe da vista dos cidadãos. Um comportamento baseado na retórica, na falsidade, nas promessas recorrentemente incumpridas.

Mas basta atentar nas palavras daquele meu personagem para avaliarmos até que ponto nós próprios, todos, temos sido livremente responsáveis. E até que ponto somos responsáveis pela crise a que estamos submetidos.

Oxalá as palavras do personagem do meu livro não caiam em saco roto.

Magalhães Pinto, em RÁDIO CLUBE DE MATOSINHOS, em 16/11/2010

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