Neste dia, em 1922, nasceu o escritor português José Saramago.
Foi galardoado com o Nobel de Literatura de 1998. Também ganhou o Prémio Camões, o mais importante prémio literário da língua portuguesa. Saramago foi considerado o responsável pelo efectivo reconhecimento internacional da prosa em língua portuguesa.
José Saramago foi conhecido por utilizar um estilo oral, coevo dos contos de tradição oral populares em que a vivacidade da comunicação é mais importante do que a correcção de uma linguagem escrita. Todas as características de uma linguagem oral, predominantemente usada na oratória, na dialéctica, na retórica e que servem sobremaneira o seu estilo interventivo e persuasivo estão presentes. Assim, utiliza frases e períodos compridos, usando a pontuação de uma maneira não convencional; Os diálogos das personagens são inseridos nos próprios parágrafos que os antecedem, de forma que não existem travessões nos seus livros. Este tipo de marcação das falas propicia uma forte sensação de fluxo de consciência, a ponto do leitor chegar a confundir-se se um certo diálogo foi real ou apenas um pensamento. Muitas das suas frases (i.e. orações) ocupam mais de uma página, usando vírgulas onde a maioria dos escritores usaria pontos finais. Da mesma forma, muitos dos seus parágrafos ocupariam capítulos inteiros de outros autores. Por isso, se o leitor se habituar ao o seu estilo, a sua leitura é muito agradável, pois o seu ritmo está muito próximo da eloquência oral do Povo Português.
1 comentário:
Meu comentário sobre José Saramago, é um texto de Noga Sklar.
Noga Sklar nasceu em Tibérias, Israel, em 1952. Graduou-se em arquitetura no Rio de Janeiro. Desde 2004, dedica-se exclusivamente à literatura.
E agora, José? Saramago
Bem, gente, eu ia escrever esta manhã sobre amor, marido, bolo solado e geladeira vazia, mas aí o Saramago morreu. Quer dizer, aí eu abri o computador e li que o Saramago tinha morrido, logo agora que eu tinha conferido que o ebook dele, “Caim”, estava em primeiro na lista de best-sellers, vocês sabem, o velho gostava de estar na frente.
Saramago era aquele velho autor que já era velho quando decidiu ser autor de verdade: “estava à espera das pedras do puzzle do destino”. E, mesmo assim, foi um dos que mais inovou. Tinha uma prosa rica, rítmica, irônica, provocante, léguas melhor do que a daquele lobo que gosta de dizer que, mais do que um zé qualquer, merecia o Nobel. Pois José Saramago não só merecia mais, como levou, conquistando o raro laurel para a nossa pobre e dilapidada e esquecida e desprezada língua portuguêsa. Desde Camões – em nome de quem, aliás, faturou mais um prêmio -, foi, talvez, quem mais a amou. Ou fez com que a gente a amasse um pouco mais.
O último livro que li dele foi “Caim“, um pouco antissemita, é certo – como seu autor, entre tantas outras posições políticas discutíveis -, mas vai escrever bem assim lá nas… Ilhas Canárias, onde, aliás, faleceu esta manhã, faz tão pouco tempo que na wikipedia ainda aparece vivo, ou onde sua morte, meio confusa e diluída no texto, se equilibra na última linha como se ficção fosse.
Pois pois, não sei o que acontece lá na terrinha que em meio a tantas insignificâncias e lutas culturais por algum reconhecimento global aparecem de vez em quando uns artistas longevos, ousados, que se incluem entre os maiores que existem: Saramago foi um deles.
Era comunista e ateu. O comunismo ele viu cair ainda em vida. E Deus? Será que ele já viu?
Duvido. Descanse em paz, José. Sua obra valeu, o puzzle se completou.
Cida
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