AMARGO
Não tenho a certeza. Mas creio que a derrota de Narciso Miranda para Francisco Assis, nas eleições para a Federação Distrital do Porto do Partido Socialista, foi a primeira que ele sofreu, em termos pessoais, ao longo de toda a sua vida política. Julgo que deve ter sido bem amargo. A derrota é sempre amarga. Mas sabe bem pior a quem percorreu quase metade da sua vida como vencedor. Quando, há alguns meses, falei com Francisco Assis e lhe perguntei como ia a candidatura, ouvi-lhe palavras de esperança. Ao ouvi-lo, tive dúvidas que estivesse em condições de bater a velha raposa política que Narciso é. Afinal, eu estava enganado. E ele certo.
O resultado destas eleições no Partido Socialista, no Porto, é quase um terramoto. Por representa, também, a derrota de um triunvirato que, durante cerca de duas décadas, comandou os destinos do PS no distrito. Narciso Miranda, Fernando Gomes e Mário de Almeida. Todos estavam unidos em redor da candidatura do autarca matosinhense. O que significa que todos eles perderam. Encontrar o significado deste fenómeno, para além das tricas partidárias que sempre estão associadas, é importante, para se perceberem os sinais de mudança que, mostrando-se no PS, não deixarão de ter lugar na vida política partidária inteira, em Portugal.
Tenho, para mim, que estes resultados significam, acima de tudo, a derrota de uma maneira de fazer política que está a cair em desuso. E que não é sequer exclusiva de Narciso e do PS. Tem atravessado, em maior ou menor grau, todos os partidos e grande parte dos agentes políticos. No futuro, a conversa fiada, a demagogia, os grupos de interesses organizados, as gestão partidária das trocas de favores, estão condenados. Um fenómeno que, sabe-se, há muito tempo está presente na sociedade como um todo. Mas que, agora, parece começar a estar presente no interior dos partidos. O que só é de louvar. Na medida em que a sociedade estará melhor servida quanto mais os partidos reflectirem a autenticidade das suas preocupações.
Pessoalmente, julgo que a eleição de Assis trará benefícios para a região do grande Porto. A vida democrática tende a ser mais profícua quanto mais fortes e autênticas sejam, não apenas o Poder, mas também as Oposições. Assis já deu provas, quando foi líder do Grupo Parlamentar do PS na Assembleia da República, de grandes qualidades éticas. Oxalá não as perca.
Os resultados verificados trarão, seguramente, fortes consequências nas próximas eleições autárquicas, na área socialista. No Porto, será seguramente o Engenheiro Nuno Cardoso o candidato. Não me admiraria que, em Matosinhos, venha a ser o Doutor Manuel Seabra. Não esqueçamos que Narciso Miranda perdeu mesmo, nesta eleição de que falo, em S. Mamede de Infesta. Num fenómeno que é muito bem capaz de se estender a todo o concelho. E falta apenas saber quem se apresentará em Vila do Conde. Seria, a ser, o princípio do fim daquilo a que na política local, se usa chamar de "dinossauros" políticos. Uma ideia, esta, a dos dinossauros, bem contrária à pureza da democracia e às ideias de renovação que ela implica.
Magalhães Pinto, em MATOSINHOS HOJE, em 25/3/2003
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