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22.12.10

MEMÓRIA

RAZÕES PARA A ESPERANÇA

Na semana finda, registei dois factos que me deixaram alguma esperança de sairmos deste buraco em que nós, Portugueses, nos metemos. Vêm, aliás, ambos, no sentido de uma ideia que desde há muito me atormenta e de que tenho dado conta nestas e noutras minhas crónicas. A de que temos vindo a resvalar na direcção do abismo, muito porque não temos políticos de qualidade. A política foi progressivamente sendo transformada num espectáculo, convencidos muitos dos seus agentes de que as pessoas são facilmente manipuláveis. E a verdade é que muitas vezes assim tem sucedido. O que tem conduzido ao afastamento da política de alguns dos mais capazes, desgostosos pela impossibilidade de realizar uma trabalho sério e não demagógico.

O primeiro daqueles factos foi a intervenção pública do antigo Primeiro Ministro, Cavaco Silva, usando a sua voz autorizada num alerta para o facto de que estamos a empobrecer a passos rápidos, situando-nos cada vez mais na cauda da Europa. Com a agravante de que agora já não falamos de uma Europa de quinze países, mas sim a vinte e cinco. Para os mais esquecidos, convém recordar que foi com governos de Cavaco Silva que Portugal abandonou o último lugar da Europa dos Quinze, tendo ultrapassado a Grécia e aproximando-se da Espanha. Mas isso foi até 1995. Depois disso, tem sido um afundamento constante. Já estamos atrás da Grécia outra vez e é já quase inevitável que sejamos também ultrapassados por mais dois ou três dos novos aderentes, todos originários do que se costumava chamar o bloco soviético.

O segundo daqueles factos foi a expressão, clara e audível, por parte do actual líder do Partidos Socialista, José Sócrates, de que o assunto da lota de Matosinhos está arquivado e que nem Narciso Miranda nem o doutor Manuel Seabra serão candidatos à Câmara Municipal de Matosinhos. Ficam, assim, esclarecidas as dúvidas que ainda pairavam no ar. E ao Secretário-Geral do Partido Socialista - provavelmente o próximo Primeiro-Ministro de Portugal - deve louvar-se a clareza e o nítido sinal de que não pretende navegar em águas turvas, de pouca visibilidade.

Dos dois factos retiro sinais evidentes de que há razões para ter esperança. Quer Cavaco Silva, quer José Sócrates, exprimiram com clareza o que pensavam, sem atender às suas vinculações partidárias. E isso é extremamente louvável. Uma esperança, todavia, que carece de um atestado. Não podemos esquecer-nos de que, em última análise, são os cidadãos, são os eleitores, que sancionam os políticos que têm e o que querem os políticos. Esperemos que os Portugueses saibam apoiar as pessoas conscientes, que verdadeiramente se preocupam com o caminho que levamos.

Magalhães Pinto, em MATOSINHOS HOJE, em 28/12/2004

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...o que seis anos fizeram!...

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