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5.5.11

CRÓNICA DA SEMANA - II

MEMÓRIA (I)

Preocupa-me a falta de memória dos cidadãos. Muito mais, quando têm de pesar os prós e os contras de eleger este ou aquele. Muito mais quando os políticos que para aí há só querem ganhar as eleições, continuando a vender a banha da cobra ao preço da paciência. Não pode ser! A nossa maior exigência tem de ser que nos falem verdade, sem embrulhar a amêndoa amarga em papel de celofane. E este meu pensamento, que procuro seja uma constante das minhas intervenções públicas, ganha ainda mais acuidade quando vejo o Primeiro-Ministro, num momento grave, em que SEGURAMENTE vêm aí muitos sacrifícios, vir à televisão anunciar o acordo para que nos emprestem 78 mil milhões de euros, praticamente de borla segundo ele, e gasta o tempo a fazer a SUA campanha eleitoral em lugar de nos esclarecer convenientemente. BASTA!

Tenho por hábito ir guardando as minhas reflexões ao longo do tempo. Não vale nada de per si para além de nos lembrarem o que aconteceu. Achei por bem partilhar com os meus Leitores tais pensamentos ao longo dos últimos quatro anos. Hoje vai a primeira parte. O resto se seguirá.
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5.12.2006
José Sócrates disse que temos meios para resolver os problemas dos deficientes, só é preciso agora resolvê-los. Uma afirmação inútil. Todos sabemos que, em Portugal, o grande deficiente é mesmo o Estado.
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10.12.2006
Um em cada cinco portugueses vive abaixo do limiar de pobreza. Não se estranha. O que aflige é que a situação é a mesma de há vinte anos atrás.
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14.2.2006
Nos Açores - com dotações financeiras continentais agora aumentadas - o dinheiro dos nossos impostos subsidia, generosamente, divorciados para adquirirem a parte do cônjuge na habitação dos desavindos. A mulher de César pode não ser séria nem parecê-lo, mas lá que é mãos largas, isso é.
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18.12.2006
Nos últimos trinta anos, retirou-se do sector agrícola meio milhão de trabalhadores. Das duas uma:
- ou a economia portuguesa esteve pujante e absorveu estes trabalhadores noutros sectores (o que não me parece ser verdade);
- ou foram absorvidos pela segurança social, pelo desemprego e pela função pública.
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22/12/2006
O Estado vendeu ao Estado a Penitenciária de Lisboa; e afirma ir construir, com o rendimento da venda, duas novas penitenciárias noutros locais. O último milagre do género aconteceu há dois mil anos. O autor chamava-se Jesus. Nós temos José.
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28/12/2006
A Educação degradou-se tanto no nosso país que até, na Europa, Portugal passou de aluno exemplar a exemplo a não seguir, segundo documento publicado pela Comissão Europeia.
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1/1/2007
Títulos do Expresso (30/12/2006):
"INVESTIMENTO DISPARA. 2,182 mil milhões de euros contratados pela API para 2007".
"PORTUGAL COM O POTENCIAL DE CRESCIMENTO MAIS BAIXO DA UE. ESTÁ AO NÍVEL MAIS BAIXO DESDE 1970".
E a questão insidiosa no nosso espírito: quem é que anda a fabricar notícias?
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4.1.2007
Primeiro, a bomba. O Governo atacava privilégios da Banca no Orçamento Geral do Estado para 2007. Os menos poderosos, esmagados pelo esforço fiscal, têm uim lenitivo. Afinal, ao contrário do habitual, tocava a todos. Depois, a poeira. A Banca protesta. O Governo recua. Não o faz directamente. Usa um deputado do partido de apoio, feito moço de recados, para propor a eliminação do ataque.
Estamos a viver num socrático mundo de faz de conta.
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5.1.2007
O Tribunal de Contas exprime dúvidas sobre as contas do Estado de 2005. O Ministro das Finanças diz que, segundo os critérios do Governo, as contas estão certíssimas e que o que acontece é que o Tribunal de Contas tem outros´critérios de apreciação. Conclusão: estamos em presença de contas extremamente criteriosas.
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26/2/2007
O Ministério das Finanças estuda a hipótese de não pagar o que deve a entidades com contribuições em atraso. Fazendo aquilo que sempre recusou aos Contribuintes, isto é, que compensassem as suas dívidas ao Fisco com as dívidas do sector público já vencidas. Dentada a dentada, vai desaparecendo, na voracidade estatal, o conjunto de direitos dos cidadãos. Perante a passividade destes. Só darão conta quando, como acontecia nos tempos feudais, o Estado venha a nossa casa buscar o porco e as galinhas sem precisar de justificação para isso.
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21/3/2007
Gigantesca mistificação. Festival governamental sobre a redução do défice, em 91,3% conseguida à custa de cortes no investimento público. Podia mesmo ter cortado um pouco mais e o défice teria desaparecido totalmente. Assim, os Portugueses empobreceram. E nada, mesmo nada - isto é, apenas 8,7% da reduçao do défice - mudou relativamente ao ano anterior. A não ser esta consequência dramática: mais impostos e menos futuro.
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29/3/2007
A grande mistificação da redução do défice surge às claras, agora, quando se sabe que o Governo gastou em despesas correntes mais de mil milhões de euros em 2006. Um guardanapo para os cantores de hossanas à redução anunciada.
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7/4/2007
Que tenha visto, eu fui o único analista em Portugal a levantar dúvidas e a não acreditar na bondade do défice de 3,9% anunciado pelo Governo há pouco tempo. Hoje, trabalho de casa feito, começam a ouvir-se as vozes dos que, em primeira hora, cantaram hossanas ao Governo. O que mostra a superficialidade com que se abordam os problemas verdadeiramente sérios no nosso país. Continuemos a assistir, com gáudio, à rábula da licenciatura de Sócrates. Para sermos romanos, já temos o circo. Só falta o pão.
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13/4/2007
Encerremos a questão. Tenha (ou não) os "canudos" que tiver, José Sócrates nunca foi nem será Engenheiro. E eu ficaria muito preocupado era se o visse a construir pontes. Enquanto for político, pode fazer muito mal, mas não matará ninguém.
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22/4/2007
A penalização do enriquecimento ilícito dos políticos foi postergada pelos deputados do Partido Socialista, sob o argumento de que se não pode inverter o ónus da prova. Inversão que o Governo tem persistentemente levado a cabo em algumas áreas da governação. Por exemplo, no domínio fiscal.
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27/5/2007
Uma das primeiras medidas do Governo de José Sócrates, emblemática, foi suspender o contrato de aluguer de helicópteros usados no comvate contra os incêndios florestais. E anunciou que o Estado adquiriria a sua própria frota para o fim em vista. Vai agora contratar o aluguer de dez aparelhos. Fá-lo sem concurso, por ajuste directo. Mais um acto falhado e a sensação de que o "negócio" dos incêndios florestais continua.
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3/6/2007
É difícil acreditar que a apreensão de todos os documentos relacionados com as licenciaturas de José Sócrates e Armando Vara, efectuada pela Polícia Judiciária esta semana, não tem nada a ver com a pequena Madeleine da Praia da Luz. Parecem ambos - os documentos e a menina - destinados a nunca mais aparecer.
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5/6/2007
O Primeiro-Ministro anunciou, na Assembleia da República, que cerca de meio milhão de jovens portugueses ia ter computador e acesso à internet de banda larga gratuitos ou quase. Na sexta-feira reduziu para 250.000. Os restantes devem ter sido apanhados pelo seu programa de criação de 150.000 empregos. E, se continua a criar emprego a este ritmo, o Programa Computadores/Internet ainda corre o risco de ficar no tinteiro.
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20/6/2007
Face à degradação do ensino e da aprendizagem pelos alunos, esta exigente Ministra da Educação restabelece o equilíbrio, submetendo os alunos a testes de magazine em lugar de exames. E os pais ficarão contentes, até ao momento dos seus filhos terem que ganhar a vida. Nessa altura, amaldiçoá-la-ão. Mas já será tarde. Ela estará então a gozar o merecido subsídio de reintegração.

(CONTINUA)

Magalhães Pinto, em VIDA ECONÓMICA, em 5/5/2011

2 comentários:

Maria Baldinho Seguros disse...

Dr. Magalhães Pinto, tornei-me hoje seguidora (!) deste seu blog. Que boa surpresa! Gosto dos conteúdos e confesso que são uma lufada de ar fresco matosinhense, pois bem sabemos que por aqui o ar é marítimo sim, mas demasiado carregado e há já demasiado tempo. Frequentemente me sinto sitiada e a blogosfera tem sido o único escape disponível para bradar ideias. Obrigada por esta surpresa.
P.S. Possuo uma fotografia, tirada em 1983, onde o Dr. me "prega" com o alfinete dos Leos na lapela; foi uma honra e já lá vão tantos anos...

MAGALHÃES PINTO disse...

Obrigado, querida Amiga. E tenho a certeza de que a honra e o prazer foram meus nesse dia já distante!

Beijinho