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11.5.11

MEMÓRIA

QUEM NOS ACODE?

"Vim para a política para enriquecer. Cada papel que assino é cada papel que cobro de alguém". Estas palavras foram pronunciadas por um autarca da cidade espanhola de Málaga e apanhadas numa escuta telefónica efectuada pela polícia. A autarca está hoje na prisão, juntamente com mais cerca de três dezenas de pessoas, membros dum gigantesco sistema de corrupção ligada à construção imobiliária que estava em curso naquela cidade espanhola. Aguardam todos a conclusão do processo, para que se dê início ao julgamento respectivo.

Como se vê, em Espanha também há corrupção. Como há em todos os países do mundo. A diferença reside apenas em que, nuns países, a polícia e a justiça funcionam. Noutros, não. Em Portugal, os casos de Isaltino Morais, em Oeiras, e de Fátima Felgueiras, no município que leva o mesmo nome, são exemplos preocupantes de que estamos, nós, os cidadãos, à mercê de todas as manigâncias que algum político de menos escrúpulos pretenda levar a cabo. Preocupação que aumenta quando vemos, como foi noticiado esta semana no caso Pinto da Costa, que será a própria polícia a avisar os potenciais criminosos, prevenindo-os de que vão ser alvo de alguma diligência policial, para que eles tenham tempo de esconder os frutos ou as provas da sua corrupção.

Uma pergunta insidiosa fica por detrás destas verificações. Quantos mais casos de corrupção haverá em Portugal? Quantos projectos imobiliários serão aprovados ou quantas adjudicações serão feitas porque há pagamento de comissões por detrás disso? Quantos pareceres serão pagos por aqueles que deles beneficiam? No caso citado a propósito de Málaga, era a própria presidente da Câmara a cabecilha do esquema montado. Mas não têm que ser necessariamente só os presidentes a ter o poder de influenciar as decisões. Outros autarcas ou, até, simples técnicos podem estar envolvidos em actos do género.

Num país em que a polícia e a Justiça funcionam deficientemente, em que processos que escandalizam o país param e não saem da cepa torta, em que indivíduos acusados de traficância interesseira se dão ao luxo de se rirem dos acusadores, de os insultarem ou, mesmo, de contar com o apoio das populações - casos de Felgueiras e Oeiras - estamos completamente desprotegidos. Não há quem nos acuda. O cidadão comum dispõe apenas de duas armas para se defender, o seu juízo e o seu voto. Com esta particularidade: é que se o juízo não funcionar bem, o voto é uma arma destinada ao suicídio.

Face a isto, apenas um conselho. Olhe à sua volta, meu Caro Leitor. E faça Você mesmo os juízos que lhe parecem correctos, sem se deixar levar por cantos de sereia. São sempre falsos os cantos de sereia. Porque as sereias não existem.

Magalhães Pinto, em MATOSINHOS HOJE, em 26/9/2006

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