A VOZ DO PAÍS
Deu gosto ver a reacção dos Portugueses à atitude que tomou uma agência internacional de rating face à dívida pública e à situação financeira geral de Portugal, na semana passada. A dita agência classificou os créditos sobre Portugal e sobre os bancos portugueses como lixo. Isto é, afirmou que, com toda a probabilidade, eles não serão cobrados. De todos os lados - menos da tradicional extrema-esquerda que parece comungar das mesmas ideias - se levantou um grito de revolta para com aqueles que desprezam os sacrifícios que estamos a fazer para honrar os nossos compromissos. Associam-nos à Grécia quando, para além de estarmos ambos endividados, não há mais nada que se assemelhe.
Para os que não sabem o que é uma agência de rating, eu explico. Portugal e o sistema financeiro português têm necessidade, como todos os países excepto os muito ricos, de se financiar no exterior. Então, existem umas entidades, todas americanas, que pretensamente analisam o risco de não ser pago o crédito concedido a um país, tal e qual como fazem, por exemplo, os bancos sobre o crédito concedido aos seus clientes, E classificam esse risco. De muito bom, isto é, para ser pago com certeza, até muito mau, ou lixo, se as probabilidades de não ser recebido forem muito grandes. Para avaliar esse risco, tenta-se medir muitos factores de risco, desde a situação presente de quem deve até à evolução esperável no futuro. Mas há uma grande diferença muito grande entre o comportamento dos bancos e das agências de rating. Ao fazerem a sua análise sobre os clientes, os bancos só estão interessados em recuperar o seu dinheiro. As agências de rating, pelo contrário, são investidoras no mercado financeiro, isto é, podem comprar dívida dos países que elas próprias classificam. Assim, são árbitros interessados no resultado final do jogo. Por exemplo, uma agência destas, malévola, pode classificar mal a dívida de um país, o valor desta desce, a agência compra essa dívida e se as coisas correrem melhor depois, podem vender essa dívida mais cara ganhando rios de dinheiro.
Isto não está bem. Nenhum jogo deve ser arbitrado por um árbitro interessado no resultado final do jogo. E parece ser isto que os Portugueses viram. Que nós estamos muito longe de ser, financeiramente, o lixo do Mundo. Indignando-se justamente. E afirmando alto e bom som, que nós confiamos no nosso país. E que não é nenhum americano, animado sabe-se lá porque intenções, a chamar-nos lixo sem resposta.
Há ocasiões em que se tem orgulho de ser português.
Magalhães Pinto, em RÁRIO CLUBE DE MATOSINHOS, em 12/7/2011
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