
E, porque a hora era de heróis, o João Couceiro empunhou a faca de trinchar, já bastante gasta do namoro com a pedra de amolar, e, brandindo-a com habilidade de espadachim consumado, saltou para cima duma cadeira, invectivando um inimigo imaginário que um dia fora real num sítio já esquecido. “A mim! A mim, abelhas dum raio! Vinde agora, ó malditas! Corto-vos o cu em dois tempos, suas velhas ferroentas! Zás! Zás! Zás! Três já foram pró carago! Se pensais que tenho medo, não sabeis a quem pertenço! Sabei que, antes de vós, três mouros e o Gungunhana, dois romanos e um francês, mais três centos de espanhóis, quiseram limpar-me o sebo! E sabeis o que lhes deu? O rei de Mombaça, por um lado, e uma armada de holandeses, por outro, quiseram também caçar perdizes no meu quintal. Foram-se embora, corridos, a coçar uma perna e a lamber a outra! Venham! Venham a mim, suas lambisgóias de cu em bico! Zás! Zás! Zás! Até parecem castelhanos nos campos da Aljubarrota. Caem com tordos! Bem feita! Para saberem que não se ferra num Lusitano impunemente! Zás! Zás!”.
(continua)
Magalhães Pinto
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