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Rememoremos que o Governo se viu na necessidade de renunciar à quase generalidade das suas propostas eleitorais. Ao contrário do que muitas vezes se diz na praça pública, não sou dos que acredito que os Governos deixem de cumprir por mal formação. O que geralmente acontece é que os políticos sabem que as eleições se ganham vendendo esperanças. Imagine-se que Durão Barroso, por ciência que devia ter quando em campanha, prometia aos portugueses o que veio a fazer no ano que se seguiu. Alguém é suficientemente cândido para imaginar que ele ganharia as eleições? E, no entanto era imperioso que as ganhasse. Não podíamos continuar como estávamos. As dificuldades que atravessamos é produto de muitos anos de Governo preguiçoso. E de uma outra coisa. Da convicção de que tínhamos que reequilibrar o nosso défice público, sob pena de sermos excomungados - ou equivalente - pela União Europeia. O que até era verdade. Mas que a atitude anunciada pelos dois gigantes europeus vem colocar, como disse, em nova perspectiva.
Em primeiro lugar, tenhamos presente que, pelo menos desde a grande recessão dos anos vinte do século passado, a teoria económica aceitou pacificamente que a despesa do Estado podia ser - e era, e foi - uma grande correctora dos ciclos económicos. Gastando quando os tempos eram de recessão, os Governos minoravam as crises. E não gastando tanto quando se estava em expansão, os Governos reduziam o aquecimento da economia, que também pode ser prejudicial. Se ainda mandasse essa teoria económica, o Governo Português estaria a realizar mais investimentos agora do que aqui há cinco anos, quando a conjuntura era favorável.
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Excerto da crónica EM QUE FICAMOS? - Magalhães Pinto - VIDA ECONÓMICA - 18/7/2003
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