Conta-se que, por um destes dias, foi recebida, no Banco Português de Negócios, uma carta de um cliente que rezava assim:
“Exmos. Senhores,
Tendo-me sido devolvido o cheque nº. xxxxxx, sacado sobre o Vosso banco, que havia depositado na minha conta nº. yyyyyy, com a anotação de “fundos insuficientes”, venho rogar a V. Exas. o favor de me informarem se a referida anotação se refere ao sacador do cheque ou a V. Exas..
Atenciosamente
F…….”
É, naturalmente, uma pequena história, provavelmente não verdadeira. Mas que, no contexto actual, ganha foros de veracidade provável. Aliás, na actual situação do sistema financeiro, a carta poderia ter sido endossada a qualquer banco. E desperta-nos, a história, para a responsabilidade que é colocada, actualmente, no exercício das funções que a cada um cabem no funcionamento do sistema.
A situação que vem sendo vivida mostrou-nos como são frágeis os mecanismos que tentam proteger os nossos bens. Apercebemo-nos agora como é um acto de grande confiança depositar as nossas economias num banco. Ali posto, o dinheiro vai ser reutilizado por diferentes pessoas, não fica ali a dormir à nossa espera. Essa reutilização pode ter muitas naturezas, desde pagar o ordenado e outras mordomias a quem vai decidir da sua utilização, até ser emprestado a outros, passando pelo investimento em muitos instrumentos financeiros, como a criação de novas companhias pertencentes aos donos do banco, a compra de títulos representativos do capital de companhias alheias cotadas em bolsa ou fundos de investimento. Cada uma dessas aplicações tem um risco associado. Pode voltar, até enriquecida, aos cofres do banco ou pode voltar depreciada até à perda total. Com esta associação tremendamente perigosa: o nível de enriquecimento do investimento feito é tanto maior quanto mais arriscado for o investimento, o que é o mesmo que dizer, quanto maior for o risco de perda total. E aqui há um jogo perigoso. Naturalmente, o que fica para quem é dono e/ou gestor de um banco é o que a aplicação do dinheiro dos outros permite ganhar. E, ao enunciar a realidade deste modo, vê-se o risco que corre a confiança concedida pelos depositantes de economias de um banco a quem o gere. De algum modo, e dada a incerteza e o risco de todos os negócios, o gestor de um banco é um jogador de casino com dinheiro dos outros. Se ganhar, é ele que ganha. Se perder, são outros que perdem.
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Excerto da crónica RESPONSABILIDADE - Magalhães Pinto - VIDA ECONÓMICA - 5/11/2008
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