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7.9.10

CRÓNICA DA SEMANA (I)

TRIPA-FORRA

Vieram a público, recentemente, duas notícias altamente preocupantes, na medida em que mostram como é administrado o dinheiro dos nossos impostos e a responsabilidade dos gestores dos dinheiros públicos na lamentável situação em que o país se encontra, uma responsabilidade que não é assumida e à qual não corresponde, geralmente, nenhuma sanção quando mal desempenhada.

Tinham a ver, tais notícias, com a atribuição de apoios, por parte do Estado, a duas empresas. Por uma delas, ficou a saber-se que o IAPMEI – Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas – atribuiu um subsídio de um milhão de euros a uma empresa de construção civil que, logo de seguida, entrou em falência. Naturalmente, o milhão de euros tinha desaparecido. Pela outra, tomámos conhecimento de que a AICEP – Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal – ficou sem um milhão e setecentos mil euros de um subsídio para uma fábrica de aviões francesa que se instalou em Ponte do Sôr, mas que nunca chegou a produzir um avião sequer e que se apresentou agora à falência também.

Ao todo, desapareceu, como consequência de duas decisões de gestores públicos, a módica quantia de meio milhão de contos na moeda antiga. E o que mais confrange é que, no momento em que tais decisões foram anunciadas, os políticos apareceram na televisão a dizerem-nos como estavam a gerir bem o destino de Portugal com as decisões produzidas.

Não precisamos de pensar muito tempo para chegar à conclusão de que não temos futuro nenhum à nossa espera. Enquanto não a nossa Constituição não estabelecer a responsabilidade dos políticos pelos prejuízos causados àquilo que a todos pertence, continuaremos a assistir a este caudal de dinheiro desaparecido sem nenhum proveito para todos nós, a este gastar à tripa-forra só possível porque quem gasta o dinheiro não pingou uma só gota de suor para ganhá-lo. E só nos resta esperar a descida dos últimos e poucos degraus que faltam para chegar ao fundo de um buraco do qual haverá menos escapatória do que a que têm os mineiros que se encontram soterrados no Chile a 700 metros de profundidade.

Magalhães Pinto, em RÁDIO CLUBE DE MATOSINHOS, em 7/9/2010

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