
. . . OS SINAIS DO NOSSO TEMPO, NUM REGISTO DESPRETENSIOSO, BEM HUMORADO POR VEZES E SEMPRE CRÍTICO. . .
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31.7.08
PENSAMENTO DO DIA

FRASE DO DIA
FIGURA DO DIA
EFEMÉRIDE DO DIA
OS HERÓIS E O MEDO - 339º. fascículo

Um deles, o Manel “Estica”, vergonha dos transmontanos nos seus cinquenta quilos de pele e osso encastoados por um rosto imberbe, infantil, provocou gragalhadas gerais ao arremedar o capitão Sampaio na picada do Olossato quando, apavorado com o fogo do inimigo numa emboscada decidida, se refugiara, choroso, debaixo da auto-metralhadora. Sob a mesa, que fazia tremer como uma gazela no pressentimento do predador, gritava na sua voz esganiçada: “tirem-me daqui!…tirem-me daqui!… tragam o meu pingalim… tragam…”.
(continua)
Magalhães Pinto
30.7.08
PENSAMENTO DO DIA

FRASE DO DIA
PERGUNTAS SEM RESPOSTA
CRÓNICA DA SEMANA (II)

Pelos fins do século passado, a Assembleia da República aprovava a Lei de Bases da actividade desportiva. Como escopo fundamental, prevenir a corrupção desportiva. Cerca de uma década passada, é a falência total. Não apenas não preveniu nada como não é capaz de punir os casos que se vão sucedendo. É que o que verdadeiramente assegura a justiça nas relações sociais é a conjugação dos sistemas legal, judicial, processual e penal. Nenhum deles, por si só a assegura. Os nossos deputados devem andar muito ocupados, devem ter muito trabalho, para que se possam dar ao luxo de, quando pegam em algo, tratem da floresta e não desta ou daquela árvore. O tratamento tem que ser como no pinheiral atacado pelos nemátodos. Tratar cerce de todas as árvores. Sob pena da praga continuar.
...
Excerto da crónica CORRUPÇÃO - Magalhães Pinto - VIDA ECONÓMICA - 31/7/2008
EFEMÉRIDE DO DIA
OS HERÓIS E O MEDO - 338º. fascículo

O jantar decorreu num ambiente vincadamente alegre. Uma ou outra nuvem de tristeza era imediatamente afogada na alegria do regresso. À medida que o álcool dissolvia o sangue e inundava o espírito, a recordação dos trabalhos passados misturava-se com os episódios cómicos, numa sucessão caleidoscópica onde a realidade e a ficção se entrechocavam. Voluntariamente ou por subconsciente defesa, a mente recusava a lembrança dos corpos retalhados, amachucados, desfeitos, mortos, deixados para trás, perdidos no pó e na lama do tarrafo a ferro e fogo.
(continua)
Magalhães Pinto
29.7.08
PENSAMENTO DO DIA
FRASE DO DIA
FIGURA DO DIA
28.7.08
OS HE´RÓIS E O MEDO - 337º. fascículo

XL
Na guerra, partida é, quase sempre, sinal de alegria. Mesmo deixando um pequeno sabor de saudade por aquilo que se abandona. Uma das companhias operacionais estacionadas em Mansoa chegara ao fim do seu tempo e o barco de regresso estava já acostado ao Pidgiguiti. Mário confraternizava com eles na balbúrdia da despedida. Com alguma inveja pelos dois meses de dianteira dos que se iriam logo fosse manhã.
A noite, a última noite, começara com um jantar no restaurante da Emília Sá. Para a circunstância, esta instalara uma grande mesa ao ar livre, nas traseiras da sala de jantar. Tivera ainda artes de desencantar um leitão. Mandara-o assar no forno com todos os matadores. À míngua de laranjas, enfiara na bocarra do tostado bicho um mango já vermelhusco de madureza, o qual ameaçava saltar se o esgar do animal se acentuasse. Mário fizera-se convidado. Era um modo de partir antecipadamente. Estremeceu quando viu o leitão em cima da mesa, esparramado e tostado. O diabo do bicho, gordurosamente lambuzado, reescrevia no seu cérebro a imagem meio apagada de um prisioneiro qualquer que morrera há muito tempo. Abafou a tremura num primeiro trago de vinho. Aquela noite justificava a substituição da tradicional cerveja.
(continua)
Magalhães Pinto
PENSAMENTO DO DIA

FRASE DO DIA

Alberto Martins, Líder da bancada parlamentar do Partido Socialista, em resposta aos comentários de João Cravinho sobre o tema - PÚBLICO - 28/7/2008
***
Claro que não! É como grande parte dos alunos das nossas escolas, só recebe lições quem quer. Pode ser que apareça por aí alguma ministra da corrupção que facilite as coisas como a outra. Se assim for, o PS não perderá o ano.
FIGURA DO DIA
Conselho Superior de Magistratura. Sem dinheiro. Teso. Não tem como exercer a sua função. O Ministério da Justiça diz que o Conselho tem autonomia financeira. Não sei se isto quer dizer uma de duas coisas:
- ou que os juízes podem lançar impostos para sustentar o órgão;
- ou se os Juízes devem pôr do seu bolso o dinheiro necessário para funcionarem.
- ou que os juízes podem lançar impostos para sustentar o órgão;
- ou se os Juízes devem pôr do seu bolso o dinheiro necessário para funcionarem.
CRÓNICA DA SEMANA (I)

Para além destas verificações, fica uma questão importante. O quê e a quem quiseram os deputados proteger numa Lei destinada a combater o fenómeno da corrupção? Que interesses estavam em causa para que os deputados não aceitassem o projecto Cravinho? Nem quero pensar que estavam a proteger-se a si próprios. Também não quero aceitar que estavam a proteger amigos e conhecidos. Também não posso aceitar que os deputados terão agido assim na convicção de que, se fosse aprovada tal Lei, haveria uma debandada de gente importante do país. Não é crível que a recusa da Lei Cravinho se destinasse a proteger os menos favorecidos, como costuma ser hábito nas palavras socialistas. Fica assim uma grande incógnita. Saber porque é que os deputados não quiseram verdadeiramente lutar contra a corrupção. Até saber a resposta a esta pergunta, Portugal continuará a ser campo fértil para corruptos.
Excerto da crónica AJUDA À CORRUPÇÃO - Magalhães Pinto - MATOSINHOS HOJE - 28/7/2008
EFEMÉRIDE DO DIA
27.7.08
OS HERÓIS E O MEDO - 336º. fascículo

(continua)
Pára aí, por momentos,
minha querida,
meu musgo perfumado por coentros...
Pára aí, por instantes,
meu tesouro
com o brilho que vive nos diamantes...
Pára aí, por segundos,
meu enlevo
deste meu viver entre dois mundos...
Pára aí, um bocadinho,
meu segredo
encarnado como bagas de azevinho...
Pára e ouve...
Pára e escuta
quem não soube
conservar a sua alma devoluta...
Pára e pensa...
Pára e sente
a dor intensa
que me afoga, cruelmente...
E vem cá...
Com os olhitos assustados...
Não faz mal...
Em passos balbuciantes...
Não faz mal...
Sentimentos devastados...
Não faz mal...
Lentamente, como dantes...
Não faz mal...
Se ainda sou a fateixa
a prender-te ao mar sem fim
quando vem o temporal,
ouve aqui a minha deixa:
Vem sem medo, vem assim,
sem receio... Não faz mal...
Quero sentir-te,
embrulhada nos meus braços,
deixando escorrer de novo,
desses teus doces luzeiros
a luz que guia
estes meus tão pobres passos...
Vacilantes, como se fossem primeiros...
Quero ouvir
o murmúrio dos teus sonhos
como ouvi em tempos idos....
No adormecer, risonhos;
E, ao acordar, queridos...
Quero aprender contigo,
minha alma de linho lavado
e corpo de veludo macio,
como se inventa o amor
às vezes, tão mascarado
nas mil faces que reveste...
Calmo como um rio
ou bravo como o mar
em dias de tempestade...
Sereno, num desafio
que nos leva a inventar
o todo numa metade...
Vem, meu amor
com cheiro de margaridas...
Vem e ensina-me a dançar
as danças entontecidas
que dançamos, sem ter lei...
Vem e ensina-me a cantar
as canções embevecidas
cujas rimas já não sei....
Vem e ensina-me a reler
os contos do nosso enleio
em tardes de sol poente...
Vem e ensina-me a tecer
os pontos que há no meio
duma vida incandescente...
E, se te apraz,
ensina-me, de novo, como se faz
Dum olhar um beijo...
Dum beijo um grito...
Dum grito o ensejo
que me deixa aflito...
Dum gesto, um sino...
Dum sino, um coro...
O desatino
em que me demoro...
E depois... depois....
Só nós dois...
Encantados no encanto
do nosso antigo canto,
faremos a viagem
que nos levará para além
dos confins do universo...
Pintaremos a paisagem
com as cores duma aguarela,
dos dois lados, frente e verso...
E guardaremos,
com ternura,
para toda a eternidade,
a beleza dessa tela,
na clausura
da nossa sensibilidade...
(continua)
Magalhães Pinto
PENSAMENTO DO DIA

FRASE DO DIA
PERGUNTAS SEM RESPOSTA
FIGURA DO DIA
EFEMÉRIDE DO DIA
OS HERÓIS E O MEDO - 335º. fascículo

Vezes sem conta tentaram e vezes sem conta falharam. Abençoada inocência a daquelas crianças. Persistiam, persistiam, sem desânimo, na construção do seu sonho, uma morança de lama, e dele não desistiam.
A certa altura, uma delas esfregou as mãos enlameadas no rosto negro como um tição. As outras olharam-na, admiradas com o acontecido. A lama pegara-se ao rosto e ali ficara, numa mancha cada vez mais esbranquiçada, à medida que secava. Logo o jogo se modificou, abandonada a intenção de construir a morança. Com desvelo minucioso, enlamearam as caras, até que o negro desapareceu completamente sob a capa barrenta. Pularam de contentes, batendo as palmas e rindo cristalinamente. O mais vivo chegou-se a Mário e, dançando à sua volta, ia cantando: “Mim branco… Mim branco… Mim branco…”. Mário estendeu-lhe a mão. Ele agarrou-a. Com a ponta do indicador, Mário traçou-lhe uma cruz na testa, raspando a lama com facilidade. Os outros dois miúdos, entretanto retraidamente mais próximos, olharam para a cruz negra impressa na testa do companheiro e desataram a correr, logo seguidos por este. Mário acompanhou-os com o olhar, até desaparecerem ao fundo da rua. Encolheu os ombros e foi-se, estugando o passo, por serem quase horas de jantar. Ao chegar ao quartel, reparou em alguns soldados que sairiam nessa noite para montar guarda à ponte de Braia. Papagueavam, divertidos, em torno duma pequena fogueira. Com rolhas de cortiça queimadas, enfarruscavam rostos e mãos, procurando disfarçar a tez branca por debaixo do negro dos tições. Mário foi-se deitar. No quietude do quarto, Álvaro concluía mais um dos seus poemas.
(continua)
Magalhães Pinto
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