
É. Basta uma pequena corrente contida demasiado tempo para tudo ir por água abaixo. Em vós, é inocência. Mas é estupidez em tanta gente por esse mundo fora! O pior são os destroços. Impetuosos, corrente abaixo, sinal da destruição inevitável. Como vos lamento, putos! Vós sois destroços duma corrente contra a qual nada podeis. Dizem que são ventos. Treta! Os ventos são benéficos. Trazem sempre, atrás de si, uma chuva redentora, para lavar os sinais da tempestade. As correntes, não. Destroem e deixam ficar restos da destruição por toda a parte. Ainda não podeis saber o que estão a fazer do vosso mundo. Mas ides saber. Prometeram-vos um mundo novo. Às vezes parece estarem a cumprir a promessa, tão grande é a mudança. E, no entanto, como estamos ainda tão próximos da barbárie dos começos! Onde estão as escolas que deviam formar-vos, insuflar-vos os valores enformadores de todo o ser humano? Não há. O dinheiro mal chega para comprar escopetas. E, mesmo que chegasse, como haviam de construir escolas para vós, como iriam inculcar em vós valores, se até uma pátria vossa, própria, vos negam? Como vos lamento, putos! Mal sabeis, crianças seminuas despidas de preconceitos, espectadores involuntários de uma tragédia que vos esquece, flores desabrochando no meio da tempestade, que esse será o vosso destino. Construir, construir sempre, o que logo será destruído. Destino certo para quem balbucia a palavra guerra, antes de palrar a palavra mãe. Para quem percebe o sentido da expressão “pessoal bandido” antes de entender o que é um amigo. Para quem o sugar do leite materno se faz ao ritmo das explosões de granadas. Para quem tem por canção de embalar o matraquear das armas. Como vos lamento, putos. Negam-vos a cabeça. Em vós, apenas têm utilidade os dedos. Tão só porque os dedos conseguem apertar gatilhos.
(continua)
Magalhães Pinto
Sem comentários:
Enviar um comentário