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28.7.08

OS HE´RÓIS E O MEDO - 337º. fascículo

(continua)

XL

Na guerra, partida é, quase sempre, sinal de alegria. Mesmo deixando um pequeno sabor de saudade por aquilo que se abandona. Uma das companhias operacionais estacionadas em Mansoa chegara ao fim do seu tempo e o barco de regresso estava já acostado ao Pidgiguiti. Mário confraternizava com eles na balbúrdia da despedida. Com alguma inveja pelos dois meses de dianteira dos que se iriam logo fosse manhã.

A noite, a última noite, começara com um jantar no restaurante da Emília Sá. Para a circunstância, esta instalara uma grande mesa ao ar livre, nas traseiras da sala de jantar. Tivera ainda artes de desencantar um leitão. Mandara-o assar no forno com todos os matadores. À míngua de laranjas, enfiara na bocarra do tostado bicho um mango já vermelhusco de madureza, o qual ameaçava saltar se o esgar do animal se acentuasse. Mário fizera-se convidado. Era um modo de partir antecipadamente. Estremeceu quando viu o leitão em cima da mesa, esparramado e tostado. O diabo do bicho, gordurosamente lambuzado, reescrevia no seu cérebro a imagem meio apagada de um prisioneiro qualquer que morrera há muito tempo. Abafou a tremura num primeiro trago de vinho. Aquela noite justificava a substituição da tradicional cerveja.

(continua)
Magalhães Pinto

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