
(continua)
Pára aí, por momentos,
minha querida,
meu musgo perfumado por coentros...
Pára aí, por instantes,
meu tesouro
com o brilho que vive nos diamantes...
Pára aí, por segundos,
meu enlevo
deste meu viver entre dois mundos...
Pára aí, um bocadinho,
meu segredo
encarnado como bagas de azevinho...
Pára e ouve...
Pára e escuta
quem não soube
conservar a sua alma devoluta...
Pára e pensa...
Pára e sente
a dor intensa
que me afoga, cruelmente...
E vem cá...
Com os olhitos assustados...
Não faz mal...
Em passos balbuciantes...
Não faz mal...
Sentimentos devastados...
Não faz mal...
Lentamente, como dantes...
Não faz mal...
Se ainda sou a fateixa
a prender-te ao mar sem fim
quando vem o temporal,
ouve aqui a minha deixa:
Vem sem medo, vem assim,
sem receio... Não faz mal...
Quero sentir-te,
embrulhada nos meus braços,
deixando escorrer de novo,
desses teus doces luzeiros
a luz que guia
estes meus tão pobres passos...
Vacilantes, como se fossem primeiros...
Quero ouvir
o murmúrio dos teus sonhos
como ouvi em tempos idos....
No adormecer, risonhos;
E, ao acordar, queridos...
Quero aprender contigo,
minha alma de linho lavado
e corpo de veludo macio,
como se inventa o amor
às vezes, tão mascarado
nas mil faces que reveste...
Calmo como um rio
ou bravo como o mar
em dias de tempestade...
Sereno, num desafio
que nos leva a inventar
o todo numa metade...
Vem, meu amor
com cheiro de margaridas...
Vem e ensina-me a dançar
as danças entontecidas
que dançamos, sem ter lei...
Vem e ensina-me a cantar
as canções embevecidas
cujas rimas já não sei....
Vem e ensina-me a reler
os contos do nosso enleio
em tardes de sol poente...
Vem e ensina-me a tecer
os pontos que há no meio
duma vida incandescente...
E, se te apraz,
ensina-me, de novo, como se faz
Dum olhar um beijo...
Dum beijo um grito...
Dum grito o ensejo
que me deixa aflito...
Dum gesto, um sino...
Dum sino, um coro...
O desatino
em que me demoro...
E depois... depois....
Só nós dois...
Encantados no encanto
do nosso antigo canto,
faremos a viagem
que nos levará para além
dos confins do universo...
Pintaremos a paisagem
com as cores duma aguarela,
dos dois lados, frente e verso...
E guardaremos,
com ternura,
para toda a eternidade,
a beleza dessa tela,
na clausura
da nossa sensibilidade...
(continua)
Magalhães Pinto
1 comentário:
Ao escrever estes palavras, revelas a tua imensa sensibilidade e ternura para com a vida e para com a tua amada! Mulher de sorte para ser amada com tanto carinho, apesar de dor escondido nas palavras!!
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