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23.7.08

OS HERÓIS E O MEDO - 332.º fascículo


(continuação)

Gorro de pele de cabrito enfiado na cabeça, Mussá foi sempre o tecelão da tabanca de Mansoa. Hábil tecelão para improvisado tear, também sempre o mesmo. Arcaicos liços, controlados por longas tiras de couro enfiadas nos polegares dos pés, abrindo a cala por onde, em compasso binário bem ritmado, uma lançadeira talhada por mãos de artista foge constantemente das mãos do tecelão. Os nós colocados pelo tempo nos dedos de Mussá começam a perturbar-lhe os movimentos. Alguns soldados, eles também tecelões nas fábricas do Minho, pedem por vezes ao velho que os deixe experimentar as suas habilidades de fazedores de tecidos. Mussá deixa sempre, sem enfado. E, divertido, assiste à autêntica trapalhada resultante do encontro daqueles homens com um tear primitivo, basicamente igual aos outros, mas para o manejo do qual conta mais a destreza humana do que a potência motriz de aperfeiçoadas máquinas, tecedeiras a velocidades invisíveis.

(continua)
Magalhães Pinto

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