Podem dar as voltas que quiserem. Usar os argumentos que as mentes inteligentes sempre arranjam. Assumir a atitude da gente impoluta e profissionalmente competente. Podem inventariar as mil e uma acções que determinaram. Podem vir com publicidade para os jornais, evidente ou dissimulada. Podem, enfim, e como diz a nossa boa gente, sacudir a água do capote. Podem fazer tudo isso e muito mais. Que algo será sempre uma verdade cristalina como a água mineral: os clientes dos bancos confiam a sua riqueza líquida aos ditos porque estão convencidos de duas coisas:
- que quem dirige os bancos e administra a sua riqueza é gente de bem e diligente; e
- que existe alguém que os fiscaliza, para a eventualidade de as coisas não se passarem como esperado.
...
É difícil classificar o comportamento do Banco. No mínimo, aquilo será uma confusão medonha. O Banco reteve o que não era seu indevidamente, debitou indevidamente custos, não deu informação apropriada à dona da conta ou não deu mesmo informação nenhuma, prometeu comportamentos que não cumpriu. Numa época em que o reforço da confiança dos cidadãos nas instituições de crédito e, particularmente, na que aqui está em causa, o comportamento do Banco parece visar precisamente o inverso. A super-escola, o exemplo didáctico que se afirmou ser, andam pelas ruas da amargura.
Mas se o comportamento do Banco foi este e foi devidamente denunciado à autoridade de supervisão, o mínimo que se esperaria era:
- que a supervisão questionasse o Banco sobre o seu comportamento e a sua falta de diligência;
- que actuasse ela própria com extrema diligência, a fim de minorar os inconvenientes derivados da situação vivida pelo dono da conta.
Não sei se a supervisão questionou o Banco. Provavelmente, não o fez. Mas se o fez, o mínimo que deveria fazer era dar ao reclamante as explicações aduzidas pelo Banco e o comportamento que, face aos factos e às explicações do Banco, decidira adoptar. Não o fez. E, daquilo que disse, ficam duas conclusões dolorosas, prova circunstancial de muito que, nos últimos tempos, dela tem sido dito:
- A supervisão está muito preocupada com o destino de uns fundos relativos a uma herança no valor de algumas dezenas de milhar de euros; pelo que sabemos, a impressão que fica é a de que o mal deste caso é não ter sido de milhões de euros; tudo seira seguramente muito mais fácil;
- Fica-se com a sensação insuportável de que o organismo no qual depositamos a confiança de que velará para que a gestão das nossas economias seja bem feita, está mais preocupada com a protecção das instituições que deveria fiscalizar.
Excertos da crónica A PROVA CIRCUNSTACIAL - Magalhães Pinto - VIDA ECONÓMICA - 19/11/2008
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